Artistas como LL Cool J e YG deram voz a uma luta de décadas pelo fim da brutalidade policial contra negros
Jonathan Bernstein, Kory Grow e Hank Shteamer, da Rolling Stone EUA Publicado em 05/06/2020, às 10h37
Após o assassinato de George Floyd pelas mãos de um policial de Minneapolis, nos Estados Unidos, em 25 de maio, os números de streaming em músicas de protesto subiram. Músicas antigas como “Fuck tha Police”, do N.W.A., um chamado contra violência policial, servem como um lembrete que a crise estadunidense não é nada de novo. Conforme a resistência Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em português) continua nos EUA, artistas canalizaram a raiva e tristeza em novos hinos de protesto, inspirados diretamente pela morte de Floyd e os desdobramentos. Veja abaixo como artistas como YG, LL Cool J e Teejayx6 responderam ao último capítulo de uma crise de eras.
Alguns anos após o single de duas partes, “FDT (Fuck Donald Trump)” (F**a-se Donald Trump, em português), YG lançou “FTP” - abreviação de “F**a-se a polícia”, em alusão ao divisor de águas do N.W.A., de 1998 - em resposta ao assassinato de Floyd e os protestos consequentes. Apesar de não haver referência específica a Floyd na letra, o MC de Compton, na Califórnia, faz rap sobre “Assassinatos e mais assassinatos depois de tantos anos”, e fala sobre “policiais da Klu Klux Klan, eles estão em uma missão”. A música também captura o espírito de exaustão pela necessidade de protestar pelas mesmas injustiças perpetradas contra pessoas negras por séculos. “Estou cansado de me sentir cansado”. Mas, claro, YG já disse tudo no refrão. “F**-se a polícia. Que se f**am.”
Depois de um final de semana tenso de protesto, LL Cool J, um dos melhores do hip-hop de todos os tempos, capturou a revolta de uma nação em dois minutos e meio de versos a capella, entregues em uma publicação emocionada no Instagram. Começa com “Por 400 anos vocês colocaram os joelhos em nossos pescoços”, em referência à maneira brutal usada pelo policial Derek Chauvin para tirar a vida de Floyd, LL não escolhe eufemismos para falar dos efeitos da supremacia branca. “Assistindo aquele homem morrer lentamente deixou um buraco”, ele diz. “Ele chamou pela mãe enquanto o assassinato prosseguiu / Se não fossem aqueles celulares, Chauvin estaria em casa / Sentindo que teve motivo por causa do tom da pele de George / Digo a todos com melanina, vocês não estão sozinhos”. O rapper também citou outras pessoas negras mortas sem justificativa pelas mãos da polícia e outros oficiais ao longos dos anos, como Eric Garner, Trayvon Martin, Amadou Diallo, Tamir Rice, Sandra Bland e Breonna Taylor. Ele termina com a frase “Vidas Negras Importam para sempre”.
"Black Lives Matter", nova faixa do jovem rapper de Detroit, Teejayx6 - compartilhada com a hashtag #RIPGeorgeFloyd (“Descanse em paz, George Floyd”, em português) com um vídeo das cenas dos momentos finais de Floyd e outros exemplos de brutalidade policial contra negros - está repleta de questões retóricas sem boas respostas. “Como minha mãe vai dormir à noite e a polícia nos mata?”, canta em cima de uma batida midtempo do produtor TM88, de Atlanta. A seguir na música, o rapper questiona diretamente o assassino de Floyd, Derek Chauvin (“Por que você teve que colocar o joelho no pescoço dele?") e as testemunhas da morte ("Por que você não foi ajudá-lo?"). A música pede apoio ao movimento Vidas Negras Importam e lamenta porque, em momentos como esse, esse ou qualquer slogan parece pouco. “Outro homem negro acabou de morrer em vídeo/Mas não podemos usar nossos martelos /Tudo o que podemos dizer é: 'vidas negras são importantes’”.
O histórico do produtor e multi-instrumentista Terrace Martin com diversos gêneros musicais - e o currículo inclui trabalhos com Kendrick Lamar, Snoop Dogg, Herbie Hancock e muitos outros - ajudou a reunir o elenco estelar nessa faixa urgente, com os MCs Denzel Curry, Daylyt, e G Perico, com o saxofonista Kamasi Washington. Curry cai para a briga e pinta uma imagem sombria da vida de um homem negro na América do Norte. “ "Helicópteros na minha varanda / Se a polícia não puder assediar, eles querem fumar cada grama de mim". Os versos de Daylyt aceleram em uma série de sílabas, e aterrissam em declarações gritantes como: "Eles vão pagar por levar meu irmão". O saxofone de Washington dá ênfase às falas dos rappers e, quando a faixa termina, ele e Martin surgem em uma explosão de improviso fervorosa. "O clipe dessa música está acontecendo do lado de fora da janela", diz uma mensagem na tela no vídeo, e leva para casa a urgência desta declaração coletiva.
Depois que os manifestantes atearam fogo ao terceiro distrito do departamento de polícia de Minneapolis, em reação ao assassinato, MC Conway the Machine lançou "Front Lines", sobre a morte de Floyd e a revolta causada pelo crime. "Cracker inventou as leis, por isso o sistema é falho", acusa Conway, depois de descrever como Chauvin se ajoelhou no pescoço de Floyd. “Policiais matam pessoas negras ao vivo e não são acusados / Não aguentamos mais / Não posso assistir você matar meu irmão, você terá que matar todos nós”. A música termina com uma gravação de um repórter descrevendo as chamas subindo pela delegacia, enquanto a faixa de fundo ansiosa de Conway toca em segundo plano.
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M.C. Taylor, o cantor e compositor conhecido como Hiss Golden Messenger, publicou esse lamento folk no Instagram cinco dias após a morte de Floyd. "Eu assisti ao vídeo de George Floyd sendo assassinado por aqueles policiais em Minneapolis", disse na introdução da música recém-escrita. "E eu me senti enjoado". A faixa de Taylor é triste e indignada, e faz referência direta aos momentos finais de Floyd: "Ei, é quente nas ruas quando eles te pegam no asfalto / É quente quando você mora no inferno". Ele envolve o público com uma variação de uma citação de Toni Morrison - “Quero partir cantando músicas à beira do rio / Quero contar a todos sobre algo bom / Mas se você só se sentir grande quando o vizinho estiver de joelhos, preciso cantar uma música diferente para você ” - e sugere que, para qualquer artista com uma plataforma, não importa qual a nacionalidade, não é momento para silêncio.
Muitas das músicas criadas em reação ao assassinato da morte de Floyd e a nova onda de protestos do movimento Vidas Negras Importam tiveram - por motivos óbvios - tons de indignação, desânimo ou ambos. Mas Wyatt Waddell, cantor de Chicago, escolheu abordar uma emoção diferente, e criou uma música soul-funk animada, pensada especificamente para animar o ânimo daqueles nos protestos. "Essa música sou eu olhando o que está acontecendo e o que eu diria às pessoas nas ruas", explicou no Bandcamp. "Espero que possa ser um hino para o meu povo na lutando por uma América melhor". Waddell usa uma batida forte, vocais no estilo gospel e grooves retrô felizes para ressaltar a principal mensagem de positividade da música em tempos tão sombrios: “Já existe muita dor / e não há mais nada que possamos fazer”. Ouça aqui.
Tradução de Larissa Catharine Oliveira
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