Acompanhada de quatro amigos, a jovem trans CeCe ia ao supermercado quando sofreu um ataque transfóbico
Sabrina Rubin Erdely Publicado em 28/09/2014, às 10h05 - Atualizado às 13h42
Uma dúzia de ovos, bacon, talvez alguns biscoitos: CeCe McDonald tinha uma pequena lista de compras em mente, algumas coisinhas para o café da manhã do dia seguinte. Era meia-noite, o horário ideal para uma ida ao supermercado. Ela preferia ir à noite, quando as ruas escurecidas davam certo alívio dos olhares, cochichos e insultos que encontrava diariamente como uma mulher transgênera. CeCe, de 23 anos, já estava acostumada a risadinhas e encaradas – e tinha prática em responder a estranhos que anunciavam “É um homem!”. Só que esses encontros eram cansativos; às vezes, uma moça só quer fazer suas compras em paz.
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Assim foi em uma noite quente de sábado, em junho de 2011, enquanto CeCe e quatro amigos, todos afrodescendentes e na faixa dos 20 anos, caminhavam pelas ruas arborizadas do tranquilo bairro operário de Longfellow, em Minneapolis. Estavam no grupo o magro namorado de CeCe, Larry Thomas, a colega de quarto dela, Latavia Taylor, e dois gays que usavam bolsas – a família de coração de CeCe, que na época estudava moda em uma faculdade local. Ela e os amigos passavam pelo bar Schooner Tavern quando ouviram os gritos. “Bichonas.”
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Do lado de fora do lugar havia um grupo de pessoas brancas fumando. Parecia uma gangue de motoqueiros, usando camisetas, jeans e bandanas, com as motos estacionadas perto dali. Quem bradou os insultos foram Dean Schmitz, de 47 anos, usando camisa branca e corrente grossa de prata, e Molly Flaherty, sua namorada de 40 anos, vestida com roupas pretas e com uma bebida na mão. “Olha aquele rapaz vestido de menina, escondendo o pinto!”, gritou Schmitz. “Vocês negões precisam voltar pra África!”
Chrishaun “CeCe” McDonald se colocou à frente dos amigos. “Com licença. Somos pessoas e você precisa nos respeitar”, começou a falar, erguendo um dedo adornado por uma unha postiça. “Só estamos tentando caminhar até o mercado”, continuou, levantando a voz acima do estrondo dos xingamentos de Schmitz e Molly: “Vadias com pinto”, “amantes de viados”, “negões”, “estupradores”. A confusão fez muitos clientes saírem do bar e Thomas disse nervosamente para Schmitz: “Aproveite sua noite, cara – só nos deixe em paz”. CeCe e os amigos se viraram para ir embora. Então, Molly olhou para Schmitz e riu. “Enfrento todas vocês, vadias!”, gritou e golpeou o rosto de CeCe com um copo de vidro. Uma caminhada comum até o mercado se transformou em uma briga de rua. O pandemônio explodiu enquanto CeCe e Molly se agarravam pelos cabelos, os motoqueiros davam socos e jogavam garrafas de cerveja, urrando “acaba com aquela bichona!”, e os amigos de CeCe davam bolsadas e usavam seus cintos com tachas como chicotes. Quando os dois lados se separaram, ofegantes e desorientados, Molly estava encolhida em meio ao vidro quebrado gritando, erroneamente, que tinha sido esfaqueada; CeCe estava de pé ao lado dela, com a camisa encharcada pelo próprio sangue. Ao tocar a bochecha, sentiu um choque de dor quando o dedo penetrou na ferida aberta onde o copo de Molly tinha perfurado sua glândula salivar. Com a bolsa ainda no ombro, CeCe saiu rapidamente da cena. Estava a mais de meio quarteirão de distância quando ouviu os amigos gritarem “Cuidado!”.
CeCe virou para trás e viu Schmitz vindo na direção dela: andando, depois correndo, com o rosto transtornado por um ódio selvagem e incontido. A jovem sentiu o terror explodir de dentro de si, saindo do lugar interno de onde ela normalmente o escondia. Ela não sabia que as veias de Schmitz pulsavam com cocaína e metanfetamina. Não sabia sobre a longa lista de crimes dele, incluindo condenações por agressão. Também não sabia que, sob a camisa de Schmitz, havia tatuada no abdome uma suástica de 10 cm. “Vem aqui, vadia!”, Schmitz urrou enquanto se aproximava. CeCe andou para trás, com o sangue pingando do rosto machucado. “Você já não teve o suficiente?”, CeCe perguntou, desafiadora e com medo, enquanto a mão procurava dentro da bolsa algo que a protegesse. Seus dedos encontraram uma tesoura preta de costura usada na faculdade. “Vai me apunhalar, puta?”, gritou o agressor. Eles se encararam por um momento: o branco furioso, movido a metanfetamina, tatuagem nazista na barriga; a negra trans apavorada com um desenho de pônei estampado na camiseta; a tesoura entre eles. CeCe viu Schmitz se lançar em sua direção e se preparou para o impacto. Seus corpos se chocaram e depois se separaram. Ele ainda olhava para ela. “Sua vaca – você me apunhalou!” “Apunhalei, sim”, CeCe anunciou, mesmo que ainda se perguntasse se aquilo poderia ser verdade; na adrenalina do momento, não havia sentido nada. Ao olhar para Schmitz, não viu nenhum sinal de dano – só que, na verdade, ele teve um ferimento tão profundo que CeCe mais tarde contaria para a polícia que a camisa que Schmitz usava naquela noite não era branca, mas sim “quase toda vermelha”. CeCe esperou até ele se virar para se reunir aos amigos. Então, ela e Thomas correram de braços dados pelo quarteirão em direção ao quase vazio estacionamento do mercado, onde esperaram pela polícia. Eles não viram a cena se desenrolar atrás deles. CeCe havia apunhalado Schmitz no peito, enterrando a lâmina com quase 9 cm de profundidade, dilacerando o coração dele. Sangue jorrou pela rua enquanto Schmitz cambaleou, caiu e, em meio aos gritos dos amigos, morreu. Quando CeCe e Thomas acenaram para um carro de polícia minutos depois, ela foi imediatamente algemada e presa.
Graças aos rápidos avanços políticos do movimento transgênero, aliados à nova visibilidade de seus representantes na cultura pop, você seria perdoado por acreditar que não se prender a gêneros hoje em dia corresponde a ser aceito, celebrado, até na moda – há os modelos trans em anúncios para a American Apparel e para a Barneys, as mais de 50 opções de sexo para os usuários escolherem no Facebook e Conchita Wurst, a vencedora da competição musical Eurovision, que aceitou o troféu usando um vestido de festa e barba cheia. No entanto, essa aparente tolerância esconde uma realidade cotidiana bem mais dura: nenhuma comunidade vivendo nos Estados Unidos é tão abertamente aterrorizada quanto a de mulheres transgêneras, especialmente as negras. “Simplesmente ser uma trans na rua é motivo para nossa vida estar em perigo”, afirma a atriz trans Laverne Cox, que diz que visualizou sua personagem na série Orange Is the New Black, Sophia Burset, como uma homenagem a CeCe McDonald. “Eu poderia muito facilmente ser a CeCe.”
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Viver com uma identidade de gênero diferente da anatomia com a qual se nasce (um fenômeno que, segundo estimativas, afeta uma em cada 10 mil pessoas) significa que transgêneros vivem com uma ansiedade constante de serem reconhecidos como tal, porque as reações podem ser extremamente cruéis. Embora os transgêneros sejam talvez 10% da comunidade LGBT, são vítimas de uma proporção chocante de suas estatísticas de crimes de ódio, com pessoas trans com quase duas vezes mais chances de serem ameaçadas do que seus companheiros LGB. Enquanto os números da violência assustam, cada trans tem uma visão arrepiante do próprio destino: “Você raramente ouve falar de uma mulher trans tendo uma longa vida e morrendo velhinha”, diz CeCe hoje, sentada à mesa da sala de jantar na casa de uma amiga em Minneapolis, com as pernas cruzadas como as de uma dama. Usando um cardigã listrado que abre para revelar, rindo, uma camiseta com a frase “it’s all about me” (é tudo a meu respeito), CeCe é falante, animada, e tem uma personalidade acolhedora e aberta. “Você nunca ouve ‘Ela morreu sozinha, de causas naturais, de velhice’, não, não, não”, continua, gesticulando com o dedo. “É estuprada e morta, ou atacada e morta, perseguida e morta – ou simplesmente morta.” E é por isso que, em meio à morte e à tristeza, CeCe, cuja experiência difícil de vida incorpora o arquétipo da mulher trans de muitas formas, acabou se tornando uma heroína LGBT por sua história de sobrevivência – e pelo preço que pagou por revidar.
Desde a infância, CeCe se sentia uma estranha com seu corpo de menino, roupas de menino e nome de menino (um nome que ela ainda não consegue debater sem angústia). Sempre sentiu uma feminilidade irreprimível. Na escola, caminhava com punhos graciosos e quadris ondulantes, para consternação da família. CeCe era a mais velha de sete irmãos, criada em uma região barra pesada de Chicago por uma mãe solteira e alguns parentes enfiados sob um só teto, onde não dava para não perceber a jovem CeCe desfilando com os sapatos de salto alto da mãe. “Você precisa rezar para isso sair de você”, a família religiosa instruía e, à noite, ela chorava e implorava a Deus para acabar com sua atração pecaminosa por meninos. Melhor ainda: rezava para acordar como uma garota, no corpo que Ele com certeza havia projetado para ela. CeCe reforçou suas preces quando outras crianças começaram a zombar de sua feminilidade e as provocações se tornaram violentas. Ela era perseguida pelo bairro, espancada e, na 7ª série, foi atacada por cinco alunos do ensino médio que gritavam “mata essa bichona” e chutaram sua boca tão brutalmente que o dente incisivo dela perfurou a pele acima do lábio. O bullying é comum para jovens transgêneros, dos quais quase nove entre dez são assediados por colegas e 44% são agredidos fisicamente, mas nenhum número de espancamentos poderia mudar CeCe. Ela entrou para a equipe de animadores de torcida – alegremente abrindo espacates em jogos de basquete – e ia para a aula usando blusas ou sapatos plataforma da mãe, embora trocasse por roupas de menino antes de voltar para casa, com medo da ira da família e de perder o amor da genitora, que estava tentando persuadir CeCe a seguir um caminho mais tradicional. “Aquilo meio que me assustava”, diz a mãe de CeCe, Christi McDonald, sobre a feminilidade da filha. “Sei que é um mundo cruel e, se você é diferente, é difícil as pessoas te aceitarem.” Christi comprava jeans folgados para CeCe e dava dicas sobre garotas bonitas, assim como tinha pedido para que ela, quando mais nova, desenhasse o Superman em vez de vestidos. “Perguntava a ele ‘Por que você está fazendo isso?’”, conta Christi, corrigindo os pronomes para acrescentar: “Só queria uma vida tranquila para ela”. CeCe sempre tentou agradar a mãe ao ser uma filha responsável e atenciosa, constantemente limpando a casa, arrumando as camas e fazendo receitas inspiradas por programas de culinária. Mas mesmo assim viu Christi se distanciar. CeCe não conseguia encontrar conforto em sua família e as tensões cresciam na lotada casa de três quartos. Um dia, um tio encontrou um recado romântico que ela tinha escrito para um menino, e, segundo CeCe, ele a esmurrou e a esganou. A garota fugiu de casa para nunca mais voltar. Tinha 14 anos.
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Em uma sala de interrogatório da polícia horas depois do incidente, CeCe tinha feito uma confissão completa. “Só estava tentando me defender”, chorava. Entrevistas feitas com quase uma dúzia de testemunhas pintaram uma imagem consistente dos eventos daquela noite: Dean Schmitz e Molly Flaherty iniciaram o confronto, Molly tinha começado a briga ao quebrar um copo no rosto de CeCe e Schmitz a havia perseguido enquanto ela tentava escapar – tudo exatamente do jeito que ela contou em sua confissão. No entanto, nenhuma vítima tinha visto exatamente como a punhalada tinha acontecido. “Eu não o apunhalei, não forcei a tesoura para dentro dele, ele veio para cima de mim”, ela insistiu para os detetives. “Ele foi na direção da tesoura.” Mesmo assim, na cadeia de Hennepin County, CeCe ficou chocada ao ouvir que estava sendo acusada de homicídio simples. Enfrentaria até 40 anos na prisão.
Vestida com roupa laranja de prisioneira, CeCe chorava e olhava para as paredes brancas da cela durante horas a fio, em um emaranhado de pensamentos. Havia o conhecimento apavorante de que alguém havia morrido pelas mãos dela. E havia a agonia de que a vida que estava tentando tão arduamente construir tinha sido dizimada em um instante. “Não havia um momento em que não sentisse dor, mental e espiritualmente, e até me punia por me defender”, conta. O presídio havia determinado que, para sua própria segurança, seria mantida na solitária, onde ficava 23 horas por dia.
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Abby Beasley, que cuidava do caso, avisou a Trans Youth Support Network, uma organização de Minneapolis, que garantiu a CeCe um advogado que não cobrou honorários. A história imediatamente mobilizou a comunidade trans e gay local, que viu o ataque a CeCe como algo que facilmente poderia ter acontecido a qualquer um de seus membros, e a saudou como uma heroína. “CeCe foi atacada em um incidente racista e transfóbico que poderia tê-la matado”, afirma Billy Navarro Jr., da Minnesota Transgender Health Coalition, que ajudou a fundar campanha Free CeCe. “E como ela é tratada? É processada por ter a audácia de sobreviver.”
No entanto, a procuradoria de Hennepin County apresentou o cenário como simplesmente o assassinato de um homem desarmado por uma pessoa armada – que tinha a obrigação legal de fugir da cena. O estado de Minnesota proíbe o uso de força mortal na autodefesa se a pessoa pode evitar ser ferida, por exemplo, ao fugir. Os procuradores especularam que o que tinha acontecido entre CeCe e Schmitz era, na verdade, a própria definição de assassinato intencional e não provocado. “CeCe pegou uma tesoura e a enfiou no coração dele e o matou”, diz o procurador de Hennepin County, Michael Freeman. “Tentamos tratar cada caso ignorando sexo, orientação sexual e status econômico. E não é ser insensível a CeCe dizer que essa foi uma briga de bar. O ponto é: suas ações resultaram na morte de outra pessoa? A resposta é ‘sim’.
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Os meses antes do julgamento viram as decisões do juiz acabar com a defesa de CeCe. Provas da tatuagem de suástica de Schmitz foram consideradas inadmissíveis, já que CeCe nunca a tinha visto, e, como o juiz Daniel Moreno escreveu, “a tatuagem não estabelece que [Schmitz] tentou ameaçar, lutar ou matar alguém”. As condenações anteriores de Schmitz por agressão foram consideradas irrelevantes e o juiz só permitiu testemunhos limitados sobre o relatório de toxicologia que mostrou que ele estava sob influência de metanfetamina, uma droga com potencial para aumentar a agressividade. A tentativa da defesa de incluir testemunhos de especialistas sobre a vida de mulheres transgêneras também fracassou. “Teríamos de educar o júri sobre o que significava ser transgênero. Isso seria difícil. A maioria das pessoas nem saberia o que isso significa”, diz o advogado de CeCe, Hersh Izek.
Sentada à mesa da defesa sentindo dor de cabeça na manhã do julgamento, em 2 de maio de 2012, CeCe olhou para o júri majoritariamente branco que a encarava. Conhecia aquelas expressões muito bem. Estava disposta a enfrentar o caso até o fim, mas, ao ver aqueles que tinham a tarefa de decidir seu destino, desistiu. “Aquelas pessoas não me deixariam vencer”, afirma. Aceitou um acordo e se declarou culpada por homicídio culposo. Seus apoiadores no tribunal choraram enquanto o juiz a orientou sobre sua admissão de culpa. CeCe tentou segurar as lágrimas o quanto pôde enquanto foi conduzida para fora do tribunal, devastada pelo que estava adiante: uma sentença de 41 meses em uma prisão masculina estadual.
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Cece foi libertada em janeiro, depois de 19 meses, com a sentença reduzida por bom comportamento e pelos 275 dias que ela tinha servido antes do julgamento. Na cadeia, ela se manteve decidida a continuar positiva e grata por ter acesso contínuo a seus hormônios e ter a própria cela com TV, onde fugia da hipermasculinidade de seus colegas de prisão com maratonas de Sex and the City. Diz que nunca encontrou violência, ficava quieta na maior parte do tempo e até fez alguns amigos.
O encorajamento externo ajudou. Durante o período em que ficou presa, a campanha Free CeCe continuou se espalhando via mídia social, com representações até em Paris e Glasgow lhe enviando e-mails. Quando CeCe foi libertada, a proeminente ativista trans Janet Mock pediu que seus seguidores no Twitter postassem o que CeCe significava para eles, e a enchente de respostas transformou a hashtag #BecauseOfCeCe em Trending Topic.
CeCe está um pouco espantada com o status de celebridade. Ficou impressionada ao ver online uma foto de seu rosto tatuado no braço de um estranho. O oficial de condicional a deixou viajar para Nova York e São Francisco para transformar a fama em ativismo e filmar o documentário Free CeCe, coproduzido por Laverne Cox. Apesar de ter uma forte rede de amigos e do afeto contínuo do namorado – ambos vitais para ela –, CeCe está lutando. Tem problemas residuais de confiança e com estresse pós-traumático. Está desempregada e, com um crime na ficha corrida, tem menos esperanças quanto às vagas de emprego a que concorre. Por enquanto, está vivendo de favor e do que resta dos fundos arrecadados pela campanha Free CeCe. “Minha história não teria sido importante se eu tivesse sido morta.”, ela diz com veemência à mesa da sala de jantar. Uma cicatriz brilhante em forma de foice aparece do lado esquerdo de seu maxilar, um lembrete permanente daquela ida trágica ao supermercado. Sob a aura de positividade amorosa, está com raiva, enquanto luta para entender sua significância para uma comunidade que precisa desesperadamente dela como fonte de inspiração; precisa entender o que significa ser saudada como sobrevivente, quando sua sobrevivência diária parece tão frustrantemente precária. Afinal de contas, ela ainda tem de ir ao supermercado e, apesar de tudo o que sofreu, ainda espera até anoitecer.
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Violência Nacional
O Brasil é líder de assassinatos por discriminação contra transgêneros
Segundo relatório da ONG internacional Transgender Europe, a transfobia, violência de cunho preconceituoso contra transgêneros, é alarmante no país. Entre janeiro de 2008 e abril de 2013 foram registradas 486 mortes de travestis e transexuais em território nacional. A estatística coloca o país como o líder entre os assassinatos por discriminação de identidade de gênero, com quatro vezes mais mortes do que o México, segundo colocado com mais casos registrados. O relatório é baseado no número de casos reportados, o que indica que ele pode ser ainda maior. A cada cinco ou seis transgêneros assassinados no mundo quatro são brasileiros.
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