Sound & Color, segundo álbum da banda norte-americana, será lançado em 21 de abril
Rolling Stone EUA Publicado em 04/04/2015, às 11h03
O Alabama Shakes sabia de cara que o segundo álbum da banda o levaria diretamente para um novo e estranho caminho. A primeira faixa que eles divulgaram de Sound & Color, cujo lançamento está previsto para 21 de abril, foi "Gemini", uma canção que se arrasta lentamente por seis minutos, soando mais como o icônico álbum There's a Riot Goin' On, de Sly & The Family Stone, do que com o rock & soul de Boys & Girls, disco de estreia do grupo.
Alabama Shakes divulga o single “Don't Wanna Fight”, do disco Sound & Color.
“Essa foi uma música engraçada de se tocar para os meus amigos”, diz o barbudo baixista Zac Cockrell em reunião com os companheiros de grupo, de um restaurante de Nova York. “Eles ficaram meio, ‘Uhhh’. Ok, eu não acho que eles tenham gostado. Enfim, eu parei de compartilhar com as pessoas”, acrescenta a vocalista Brittany Howard com um sorriso maroto, “Ambicioso”.
Ouça “Pocket Change”, música do Alabama Shakes para trilha sonora de True Blood.
Essa é uma palavra justa para descrever Sound & Color, que vai de ritmos barulhentos ("The Greatest") ao blues suave ("Dunes") e tem jams de soul espacial e psicodélico ("Future People"). “Quando chegou a hora de juntar todas as músicas, nós pensamos, ‘Que tipo de disco é esse?’ E falamos, ‘Um tipo muito estranho’. Mas eu amei isso”, conta Brittany.
Lollapalooza 2013: "É bem surreal", disse guitarrista do Alabama Shakes sobre tocar no festival.
Você teria perdoado o Shakes se eles tivessem se mantido grudados ao som de estreia deles, que vendeu 725 mil cópias e os levou de um bar no estado norte-americano de Alabama para alguns dos maiores palcos de rock ao redor do mundo.
Brittany Howard, do Alabama Shakes, lançou single pela Third Man Records; ouça.
Logo, Adele os estava exaltando, Robert Plant estava comparecendo aos shows, e a banda seria indicada a três prêmios Grammy. “Não sei o que aconteceu com tudo isso. As pessoas simplesmente começaram a ficar malucas. Foi tudo realmente muito estranho. Qual é a origem disso?”
Vocalista do Alabama Shakes recusou convite para o The X-Factor.
A jornada até Sound & Color foi sinuosa. Com Brittany ouvindo de tudo, de Roberta Flack à trilha sonora de E.T, a banda decidiu ampliar o som. “Só queríamos ser livres, explorar e não se preocupar com o que esse disco seria perante os olhos do público”, afirma o guitarrista Heath Fogg.
O Shakes reservou horário em estúdio em Nashville com o produtor Blake Mills, mas como haviam gastado muito tempo na estrada com Boys & Girls, eles não tiveram tempo para escrever muitas canções novas. As sessões se estenderam por mais de um ano. “Nós não sabíamos que diabos estávamos fazendo”, diz o baterista Steve Johnson.
Para Mills, as sessões apresentaram um desafio: “A experimentação está mais em acordo com quem eles são como pessoas do que as preguiçosas conexões que muitas pessoas fazem com Janis Joplin e southern rock. Mas foi preciso ter a esclarecedora conversa: ‘Tudo está ótimo, mas isso é um álbum?”. Incapaz de terminar a letra de “Gemini”, “Brittany pincelou várias frases, as misturou e as distribuiu aleatoriamente”.
Gravar não foi só trabalho duro. Em uma noite, a banda jantou com Kid Rock, que trabalhou com Mills no passado. Por fim, todos os músicos se encontraram no estúdio. “Tivemos momentos ótimos de lazer – cigarros, uísque, essa merda toda”, revela Rock. “Eu não passo muito tempo com outros músicos em estúdios, mas ouvindo a jam, senti que estava em um pico privilegiado. Eles estão compondo música que eu quero ouvir”
Com Rock, o Shakes fizeram uma canção que Mills chama de “um documento de um período muito bom”. Brittany compara o som ao Lynyrd Skynyrd – não que ela queira dividir isso com o mundo. “Vocês nunca vão ouvir isso. Nunca”.
Para o Alabama Shakes, o sucesso está fazendo efeito agora. Os empregos diários – Cockrell trabalhava como veterinário, Fogg pintava casas, Johnson dava duro em uma usina nuclear, Brittany era carteira – ficaram bem para trás no retrovisor. Quando eles pisarem na estrada esse ano, levarão junto três cantores de apoio e dois tecladistas para ajudar a replicar o conteúdo de Sound & Color.
Se a base de fãs os seguirá em um território musical inóspito, o tempo dirá, mas o primeiro de dois shows com ingressos esgotados no Teatro Beacon, em Nova York, responde parcialmente essa questão. Brittany mostrou um novo look – um penteado curto, vasto no meio e raspado dos lados, mais uma tatuagem de um rosto abstrato –, despejou acordes de guitarra e cantou bizarros falsetes, provando-se como uma das mais excitantes e dominantes novas estrelas do rock (“ela comanda como Otis Redding ou Sister Rosetta Tharpe”, comenta Mills).
A maioria do repertório foi dedicado a Sound & Color, mas a audiência absorveu cada música e nem ligou que a banda não tenha se importado em tocar “Hold On”, a faixa de assinatura de Boys & Girls.
Depois de tudo, Brittany refletiu sobre a abertura dos fãs. “Ver as pessoas sendo tão receptivas é realmente incrível. A forma como eu cresci foi meio conservadora: ‘Fique na linha e não afunde o barco’. E claro, eu trabalho duro e sou boa. Mas não ligo de afundar o barco um pouquinho”.
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