Na explosão de Nevermind, o trio não sabia lidar com fama e responsabilidades - e nem queriam
Redação Publicado em 10/03/2020, às 15h00
No final de 1991, Nirvana começava a existir de verdade. Tinha acabado de lançar Nevermind, primeiro disco, e começava a estourar. Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl orbitavam entre deslumbre pela carreira brilhante, atitude punk adolescente e puro deleite do sucesso recém-descoberto.
Em 19 de outubro daquele ano, fariam um show na Trees Club, casa em Dallas, Texas, EUA. Mas algo estranho aconteceu: entre o dia em que o evento foi idealizado e a data que aconteceria, o Nirvana cresceu muito. Tanto que a gravadora queria ir para um lugar maior - mas Jeffrey Liles, produtor do show, não deixou. Seria ali, mesmo, como combinado.
No dia do evento, porém, os ânimos estavam apurados e muita gente não estava contente. Incluindo Kurt Cobain. Os três integrantes do Nirvana precisavam autografar alguns pôsteres a pedido da gravadora. Novoselic e Grohl fizeram sem problema - mas Cobain não estava com vontade. Queria desenhar em cada um dos papeis, não assinar - e começou a fazer isso, ignorando os apelos para “acelerar” o trabalho. Demorava quase cinco minutos por desenho.
“Todo mundo pensou: ‘Qual é o problema desse cara? Não consegue assinar a p*rra de um autógrafo? Quer só tirar uma com a gente?’”, contou Liles no documentário Everything Is A-Ok - o filme detalha a cena hardcore de Dallas - e, de lá, saiu esta história e entrevista.
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Pediram para ele acelerar Cobain. Não quis “nem f*dendo.” “Aí, o cara da [gravadora] falou: ‘Você pode só [assinar], acelerar um pouco?’, e Kurt olhou para ele bem ‘foda-se’ e continuou desenhando. Sabia ali que seria um dia fodido.” E foi.
Nirvana queria uma barricada - ou grades - entre o público e o palco. A casa era pequena, e não havia espaço hábil. A solução da Trees Club foi, então, colocar três seguranças em cima do palco. O trabalho deles era, basicamente, empurrar para a plateia todo o mundo que tentasse subir no palco. Mas um dos seguranças, Turner Van Blarcum, levou isso muito a sério: não queria nem deixar Kurt Cobain voltar da multidão depois de se jogar.
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“Kurt pulou na plateia. Por eles terem falado tanto que não queriam ninguém no palco, e depois pular na multidão… Turner estava pensando ‘Mas que p*rra? Decide logo,” comentou Liles. “Todo mundo jogava Kurt de um lado para o outro. Tentou voltar para o palco, e todo mundo empurrou ele pra perto do Turner, que pensou: ‘f*da-se’ e empurrou de volta.”
O empurra-empurra demorou quase um minuto. A plateia empurrava Kurt para o palco. Turner, segurança, empurrava o músico de volta para a plateia - parecia uma boneca de pano. Até que o vocalista do Nirvana cansou. Ainda tinha a guitarra na mão - “e, BAM, acertou a cabeça de Turner, bem entre os olhos, com a parte de baixo do instrumento.”
O segurança, atordoado, deixou Cobain voltar ao palco. Mas não deu tempo dele levantar antes de acertá-lo com um soco. Tentou chutá-lo, também, mas foi impedido. Novoselic e Grohl, nessa altura, tinha largaram o instrumento e tentavam apaziguar os dois briguentos, separando-os.
Cada um foi para um lado depois da briga acabar. Dave Grohl, sem camisa, foi até o fundo da casa, olhando para o além. Novoselic saiu do local, começou a andar na rua. Krist desapareceu pelos bastidores. Tudo para desespero de Liles, que tentava fazer o evento dar certo:
“O primeiro que encontrei foi Krist. Perguntei: ‘Cadê os outros dois?’, e ele respondeu: ‘Não sei e não ligo.’ E eu ‘ok, só volta para o palco.’” Pediu o mesmo para Grohl, e foi tentar achar Kurt. Encontrou-ou “com um cara cabeludo” dentro de um armário, “cheirando heroína.”
“Só disse: ‘Cara, vamos lá, vem comigo e termina essa p*rra de show’. Eu o arrastei de volta pro palco, e ele ficou lá, eles acabaram de tocar. O resto do show foi ótimo.”
Quando Nirvana terminou o show, Liles levava-los para o camarim. Mas nunca entraram: Turner, o segurança que brigou com Kurt, estava lá esperando pela banda - o rosto com grampos no machucado. O produtor, então, deu meia volta e chamou um táxi para a banda.
“Pedi para estacionar na parte de trás do clube. Empurrei os três pro carro e pedi: ‘Só tira eles daqui. [...] Assim que chegaram ao estacionamento, Turner estava lá.”
O carro estava parado, pois o trânsito não deixava avançar. Turner viu o Nirvana no banco de trás e avançou. Com um soco, quebrou o vidro de trás, tentando alcançar Cobain. “Quando cheguei lá,” relembrou Liles, “os três estavam sentados no banco de trás, cobertos de cacos de vidro, e produtor tava gritando: ‘Manda eles pararem, não sabem em que hotel estamos hospedados!’ e eu só ‘Cara, quero tirar eles daqui!”
Turner, o segurança, explicou na entrevista que estava bem bravo - mas, acima de tudo, com medo de ser processado pelo Nirvana e pela gravadora. O temor aumentava com as cartas que recebia dos produtores. Não abria nenhuma por medo.
Depois de um tempo, resolveu ver o conteúdo com um amigo: era, na verdade, uma proposta! A gravadora também temia um processo da parte de Turner - e ofereceu dinheiro para ele. No final, entre processos e medo, tudo ficou ótimo. E esse show do Nirvana é um dos mais lembrados... Veja a entrevista e filmagens da briga:
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