Daniel Kessler, o segundo da esquerda para a direita: "Não vamos fazer covers" - Reprodução

"O fato de ser a primeira vez já é emocionante o bastante"

Guitarrista do Interpol fala sobre os shows no Brasil nesta semana

Por Pablo Miyazawa Publicado em 10/03/2008, às 09h18 - Atualizado às 09h57

O guitarrista, nascido em Londres - e radicado em Nova York - e principal compositor do Interpol, conversou com a Rolling Stone sobre os shows que o grupo fará no Brasil a partir de amanhã, terça (horários e locais no pé deste texto). Falante, objetivo, mas longe de ser bem humorado, Kessler prometeu poucas surpresas nas apresentações em palcos brasileiros, além de explicar sua relação com a música, com a imprensa e com seus companheiros de banda. Confira a íntegra da entrevista, concedida por telefone, na última semana de janeiro.

Alguns críticos escreveram que Our Love to Admire (2007), apesar de ser um bom disco, não traz nenhuma canção pegajosa como em Turn on the Bright Lights (2001) e Antics (2004). Você concorda?

Eu não penso no que fizemos no passado, só penso olhando para frente. Eu não quero ser um desses artistas que escreve musicas para agradar as pessoas. Você precisa desafiar a si mesmo e agradar a si mesmo. Se você está feliz, as pessoas ficarão felizes e gostarão da sua música. Eu não me importo muito se o disco tem canções pegajosas, eu nunca penso sobre isso. Não quero pensar na música nesses termos, se a canção é boa para tocar no rádio, essas coisas. Isso não é importante para mim, e realmente nunca foi.

E como você define esse último disco? E qual é o seu favorito entre os três?

[Hesita] É uma progressão. Eu nunca tive um disco favorito do Interpol. Eu não quero ser uma daquelas bandas que dá entrevistas dizendo 'não gostei desse disco naquela época, acho que aquela música não funcionou etc.'. Acho que, seja lá o que você fizer, tem que ter certeza, para daí seguir em frente. Eu não tenho um disco favorito. Eu nem mesmo escuto os nossos discos. Eu fico só pensando em quais serão nossos próximos passos. Eu fico feliz quando uma música nossa toca em um bar, elas sempre soam legais pra mim. Eu nunca penso: 'Nossa, o que é isso que fizemos!'.

Você se lembra como era o espírito de vocês durante a gravação de Turn on the Bright Lights?

Bem, aquele era nosso primeiro disco, e as músicas já existiam há algum tempo. Quando você está gravando seu primeiro disco na vida, tudo soa novo e é emocionante. Sabe quando você enfim realiza algo com o que sonhou a vida toda? Então. Não consigo dizer exatamente o que era diferente em mim naquele tempo. Só sei que para tudo na vida há uma primeira vez.

O Interpol é conhecido por apresentar um certo mau humor no palco. Vocês mal falam entre si, e raramente se comunicam verbalmente com a audiência. Sempre foi desse jeito?

Algumas pessoas são "showmen" naturais e gostam muito de falar. Nós somos músicos muito honestos: é isso o que fazemos, e nós adoramos fazer. Amamos estar na banda, amamos fazer shows, mas isso não significa que... [pensa] Não é senso comum, é simplesmente algo muito natural para nós. Quando você toca em um palco, é importante que todo mundo se comporte de modo natural e genuíno. Não seria muito genuíno para a gente ficar contando histórias em cima do palco. O que é real para a gente é tocar de maneira bem emocional e tentar parecer o mais realista possível.

Eu assisti a vocês tocando no festival Coachella, em abril do ano passado. Meses depois, vocês tocaram duas noites lotadas no Madison Square Garden [tradicional casa de shows de Nova York]. Em qual tipo de local você prefere se apresentar?

Não sei se tenho uma preferência. O Madison Square Garden é um lugar enorme e clássico da cidade onde moramos. Tocar lá é um verdadeiro evento, foi um grande momento de nossas vidas. Mas o Coachella foi nosso primeiro show em alguns anos, havia muita gente e foi muito especial. Para nós quatro, tocar lá foi algo bem emocionante. Estar lá com todas aquelas bandas, tocar diante de 30, 40, 50 mil pessoas, sei lá, sendo que era nossa primeira apresentação em anos... Havia uma sensação especial no ar. Também foi bem legal tocar logo antes da Björk.

Você lembra de estar nervoso naquele show?

Bem... eu estava bem calmo no Coachella. Tipo, é diferente para cada um. Eu gostei muito de tocar lá, fizemos um ótimo show. É sempre relaxante quando consigo mergulhar na música que estou tocando e não penso no que estou fazendo - o ato de tocar se torna algo muito natural. Esses são os melhores shows, parece que eles estão realmente te levando a algum lugar. Então, sim, eu estava bastante relaxado durante o Coachella.

Naquele dia, vocês estrearam músicas do disco Our Love to Admire meses antes de seu lançamento. Por conta disso, havia alguma expectativa especial?

Sabe, é sempre um desafio quando você toca novas músicas antes de um disco ser lançado. Você nunca sabe como as pessoas vão reagir. Acho que não havia nenhuma grande expectativa nossa. Quero dizer, é querer ser bastante ambicioso quando a primeira música que você toca em um show é a faixa de abertura de um disco ainda inédito. Abrimos com "Pioneer to the Falls" naquela noite, meses antes do disco ser lançado, o que foi algo muito ousado. É uma música de seis minutos de duração, e se o público não sabe para onde ela vai, ele meio que se perde... [Pensa] Realmente, não havia expectativas. Eu nem iria tão longe. Quando se monta o repertório de um show, tenta fazer o melhor possível com o que se tem. Você tenta colocar as músicas numa seqüência quase como se fosse um disco, pensa na ordem que cada som irá funcionar no momento certo, em todos esses pequenos detalhes. Acho que foi isso que tentamos fazer no show do Coachella.

Como é a sua relação com o Paul [Banks, vocalista], Carlos [D, baixista] e Sam [Fogarino, baterista] fora dos palcos? Vocês se encontram nos intervalos entre as turnês?

Sim, às vezes. Bem, nós nos encontramos sim. A gente se vê todos os dias na maior parte do ano, e isso é muito mais do que em um relacionamento normal. Você provavelmente vê mais os integrantes da banda em que você toca do que as pessoas que ama. Mas sim, a gente se encontra sempre. Eu vejo o Carlos todo dia, provavelmente verei o Paul hoje à noite. Às vezes fica difícil fazer reuniões da banda, mas é algo natural: você volta pra casa, quer retornar para sua vida, ver os amigos, fazer seus hobbies. Você precisa dar uma parada, é algo importante. Daí quando você volta para a banda, está renovado e pronto para pegar a estrada novamente.

Você diria que a música é a coisa mais importante da sua vida?

Música sempre foi a coisa mais importante da minha vida. É o que faço com mais paixão.

E o que você faz quando não está tocando?

Quando não estou tocando com o Interpol? Bem, estou tentando aprender a tocar piano. Tenho gasto a maior parte do meu tempo tocando piano. Meu maior objetivo é aprender a tocar, para daí compor direto no piano.

E como funciona seu processo de composição? Por ser guitarrista, você faz os riffs primeiro, depois coloca as melodias em cima?

Eu não escrevo letras, só músicas. Pra mim é difícil dizer... Eu começo todas as músicas em casa, em um violão. Às vezes eu as mantenho bem simples, às vezes eu faço arranjos mais elaborados. Daí, eu mostro para os outros caras. Se eles gostam da música, a gente faz o arranjo e adiciona as partes dos outros instrumentos. Todo mundo tem uma parcela igual em toda música que produzimos, então é um processo bastante democrático.

O que podemos esperar dos shows no Brasil? Dá para dar uma dica do setlist? Há a possibilidade de rolar algum cover?

Bem, é algo difícil de dizer agora. Nós não fazemos covers, nunca fizemos covers, jamais tivemos que fazer. Somos muito honestos tocando ao vivo. A gente presta muita atenção ao som, à iluminação e à maneira com que as músicas vão soar. Além disso, eu não sei o que vai rolar. O fato de estarmos tocando aí pela primeira vez já é emocionante o bastante.

Então vocês jamais fizeram covers, nem em ensaios?

Não nessa banda, não com o Interpol. Nós jamais tocamos nenhum cover, nunca. Eu comecei a banda porque comecei a escrever músicas, porque tinha umas canções minhas. Eu não comecei a banda porque queria começar uma banda, e sim porque eu tinha músicas que precisava compor. Não era questão apenas de tocar por tocar.

O estilo musical de vocês é normalmente comparável ao de bandas pós-punk como Joy Division e Echo and the Bunnymen, mas eu não sei se você concorda com isso. Quais são as principais influências do Interpol que você citaria?

Nossa banda, na verdade, não tem nenhuma influência principal. Sei que isso não é algo muito normal de se dizer, mas... Pra falar a verdade, a gente não se juntou porque gostava do mesmo tipo de som. A gente formou a banda porque eu tinha umas músicas, e daí começamos a trabalhar essas canções juntos. Mas todos nós temos gostos musicais bastante diferentes. Nós jamais falamos: 'vamos ser uma banda assim, ou assado'. Isso não funcionaria conosco. Se fosse para ser assim, eu nem formaria a banda. Definitivamente, o que nos mantém juntos é o fato de escrevermos músicas juntos.

Como você lida com as coisas ditas pela imprensa, como por exemplo: "O Interpol é uma banda pós punk, que soa britânica, que faz uma música baixo astral...". Você acha que os jornalistas levam as decisões da banda de forma errônea? As coisas que escrevem sobre o Interpol oprimem você ou irritam de alguma forma?

Eu não sei... Sabe, eu jamais li qualquer coisa que escreveram sobre nós desde que lançamos o primeiro disco. Sei que muita coisa legal foi escrita, mas sei que isso não deveria importar nada para mim. E quer saber? Realmente não importa. É por isso que é tão difícil eu citar para você o que está rolando na cena de rock de Nova York. Eu não presto atenção ao que está acontecendo ao meu redor. Eu estou feliz com o que eu faço, com o que nós fazemos, mas não me obrigo a me manter conectado ao que acontece no mundo da música. É complicado de dizer isso, mas eu realmente não ligo para esse tipo de coisa. De certo modo, é ótimo que as pessoas escrevam coisas boas a nosso respeito, mas isso não deveria me interessar, muito menos deveria fazer diferença para o que eu faço.

Quer dizer que você nunca lê o que escrevem sobre vocês? Não acho que rolaram muitas críticas negativas sobre seus shows e discos...

Com certeza, deve ter havido algumas. Mas acho que é algo saudável para mim, sabe? Não me assisto quando tocamos em programas de TV, jamais escuto as gravações de quando tocamos em programas de rádio, não leio as entrevistas que dou, jamais leio as críticas de nossos discos, nem as matérias. Porque não há nada que eu possa fazer a respeito. É algo que me comprometo profissionalmente a fazer, mas assim que está feito, sai das minhas mãos. Faço isso como uma forma de auto preservação. Eu só faço o que é necessário para continuar escrevendo música, e isso funciona muito bem para mim dessa forma.

Interpol no Brasil

São Paulo, 11 de março

Via Funchal. Rua Funchal, 65, Vila Olímpia, SP

de R$ 100 a R$ 160

Informações: 11 3044-2727

Rio, 13 de março

Fundição Progresso. Rua dos Arcos, 24, Lapa, Rio de Janeiro

R$ 100

Informações: 21 2220-5070

Belo Horizonte, 15 de março

Chevrolet Hall. Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Belo Horizonte

R$ 100 a R$ 140

Informações: 31 3209-8989

interpol

Leia também

Morre Andy Paley, compositor da trilha sonora de Bob Esponja, aos 72 anos


Viola Davis receberá o prêmio Cecil B. DeMille do Globo de Ouro


Jeff Goldblum toca música de Wicked no piano em estação de trem de Londres


Jaqueta de couro usada por Olivia Newton-John em Grease será leiloada


Anne Hathaway estrelará adaptação cinematográfica de Verity de Colleen Hoover


Selena Gomez fala sobre esconder sua identidade antes das audições