Segundo Dylan Loeb McClain, repórter do NYT, o novo show da Netflix é um dos melhores retratos do jogo até o momento, mas existem “alguns movimentos errados”
Redação Publicado em 04/11/2020, às 10h00
[Atenção! Esta matéria contém spoilers de O Gambito da Rainha]
Desenvolvida por Scott Frank e Allan Scott - e baseada na obra homônima de Walter Tevis -, O Gambito da Rainha, nova série da Netflix, acompanha a vida da jovem Elizabeth Harmon (Anya Taylor-Joy), enviada para um orfanato aos nove anos de idade.
Lá, ela aprende a jogar xadrez com Mr. Shaibel (Bill Camp), um zelador solitário, e faz disso seu refúgio mental.
É claro que, para quem não sabe muito sobre xadrez, O Gambito da Rainha parece uma obra PERFEITA! No entanto, como um especialista do jogo e repórter do New York Times por mais de oito anos, Dylan Loeb McClain revela os erros e acertos da série. Veja:
Em primeiro lugar, quando Benny Watts (Thomas Brodie-Sangster) caminha até Beth no início do campeonato de xadrez, ambientado num pequeno auditório no campus da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, em 1967, evidencia-se o modo como o xadrez era desvalorizado naquela época (e ainda o é).
Embora os melhores jogadores do país estivessem competindo, o local era de segunda categoria, os tabuleiros eram de plástico e os poucos espectadores pareciam entediados, como afirma McClain: “Muitos torneios eram disputados em locais estranhos e, às vezes, sombrios.”
De qualquer forma, segundo ele, os criadores de O Gambito da Rainha fizeram um trabalho particularmente bom ao registrar a “alta tensão dos torneios de xadrez e a obsessão que o jogo pode estimular.”
Com a ajuda do ex-campeão mundial Garry Kasparov e do treinador Bruce Pandolfini, o programa evitou erros muito comuns em séries sobre xadrez. Entre eles: tabuleiros com orientação incorreta, arranjos de peça incorretos e personagens que não sabem manusear as peças.
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Apesar dos esforços para tornar as cenas de xadrez críveis, McClain acredita que há áreas em que a série é insuficiente.
O mais aparente está na rapidez com que os jogadores movem as peças durante o torneio. Cada jogador tem duas horas para fazer 40 movimentos, o que é um controle padrão para tais jogos. Contudo, em todas as partidas, Beth e seus oponentes levam apenas alguns segundos para pensar sobre seus movimentos. Nesse ritmo, eles terminariam os jogos em minutos, não horas.
Outro ponto importante é que os jogadores não deveriam se falar entre as partidas. Isso não é considerado apenas um mau desportivismo, também é contra as regras. O diálogo torna os jogos mais compreensíveis e apimenta o drama, mas não é real.
Há também um momento curioso em que Harry Beltik (Harry Melling) compara Beth a Paul Morphy, amplamente considerado o melhor jogador do século XIX.
De acordo com McClain, a comparação parece equivocada. “Apesar de suas tendências autodestrutivas, Beth não se parece com Morphy. Ela está mais perto de uma versão feminina de outro campeão: Bobby Fischer”, continua o repórter.
O Gambito da Rainha cobre um período de 1958 a 1968, o que coincide com o auge da carreira de Fischer, que foi de 1957 a 1972. Além disso, Fischer e a protagonista têm estilos de jogo semelhantes e agressivos. Faz mais sentido.
Gostou? Então assista ao trailer de O Gambito da Rainha abaixo:
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