Guitarrista mostra vigor em show repleto de hits do Guns N’ Roses, Velvet Revolver e da carreira solo
pedro antunes Publicado em 07/11/2012, às 01h53 - Atualizado às 13h27
A cartola, os óculos escuros, a guitarra Les Paul e os dedos habilidosos passeando pelas seis cordas. Definitivamente, a nova passagem de Slash por São Paulo será lembrada por algum tempo. Em show no Espaço das Américas, nesta terça, 6, o terceiro da atual turnê pelo Brasil, o ex-guitarrista do Guns N’ Roses e Velvet Revolver mostrou toda a sua destreza rara no instrumento, como um ilusionista tirando coelhos do seu chapéu surpreendendo um público sedento por suas mágicas.
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Slash fez aquilo que se espera dele, em pouco mais de duas horas de apresentação do melhor do hard rock: dedilhadas, splides e bends. Tudo como se a guitarra fosse um brinquedo e ele, uma criança crescida e incansável. Ainda que a equalização do som tenha ficado a desejar, com a voz perdida entre as duas guitarras presentes, o público tratou o show com boas doses de nostalgia e empolgação.
O guitarrista detesta atrasos (ouviu, Axl Rose?) e começou seu show ainda antes do horário marcado, às 21h27, depois da apresentação metaleira do Edguy. Um ano e meio após show no HSBC Brasil, ele voltou acompanhado pelo guitarrista base Frank Sidoris, o baixista Todd Kerns, o baterista Brent Fitz e o carismático vocalista Myles Kennedy, famoso pelo trabalho com o grunge melódico do Alter Bridge.
Este retorno foi marcado também pela chegada do segundo álbum solo, Apocalyptic Love, lançado em maio deste ano – o primeiro com apenas um vocalista, Myles, ao contrário do disco anterior, Slash (2010), que tinha Ozzy Osbourne, Fergie, Lemmy, Iggy Pop, entre outros, no microfone. Com o novo vocalista, Slash mostra sinergia invejável, dando espaços para que Kennedy possa brilhar em seus momentos.
Ainda que a lembrança de Axl Rose, vocalista do Guns, estivesse presente, com o público repetindo os maneirismos do astro nas canções da banda, Myles Kennedy soube manter um balanço equilibrado entre o momento de mostrar a sua qualidade e a hora de dar o que os fãs, em sua maioria, queriam: clássicos.
A apresentação foi iniciada com “Halo”, single do último disco de Slash, ovacionada como um hit dos anos 90. Mas era o guitarrista que, durante aqueles pouco mais de três minutos, recebia os aplausos por voltar ao país. Em seguida, a banda executou “Nightrain”, do Guns, e as cabeleiras balançaram para frente e para trás. O hard rock, gênero que tem andado combalido ultimamente, nesta noite ganhou de novo o status radiofônico, dada à gritaria que se ouvia em um Espaço das Américas não abarrotado.
Vieram “Ghost”, “Standing In The Sun” e a divertida “Back From Cali”. Ainda que fosse óbvia a preferência do público por material antigo (entenda-se as canções do Guns), as canções novas eram muito bem aceitas e reverenciadas. Afinal, Slash tirava de sua cartola um riff poderoso atrás de outro. E era o bastante.
Os sucessos da velha banda, contudo, foram destaque, e a longa “Civil War”, de Use Your Illusion II (1990), fez o estrago esperado, com direito a coro da plateia acompanhando o solo de guitarra. Em “Rocket Queen” (última faixa de Appetite For Destruction, de 1987), os gemidos de Axl transando com uma moça, gravados no álbum, foram (muito bem) substituídos por outro belo solo de Slash – com direito à sua pose de rockstar, no centro do palco, com o braço da guitarra em riste e os dedos rápidos tamborilando as cordas.
Na metade do show, Kennedy saiu de cena para que o baixista Todd Kerns pudesse assumir os vocais. Ele cantou as pesadas “Doctor Alibi”, do primeiro álbum do guitarrista, registrada em estúdio por Lemmy, voz monstruosa do Motörhead, e “You’re Crazy”, do Guns.
As batidas são desaceleradas com a volta do vocalista da turnê e as baladas “No More Heroes” e “Starlight”, afinal, até o fiel público presente merece um descanso diante de tanta pancadaria a cada palhetada de Slash. A duas músicas foram seguidas por um longo solo de Slash, meio blues, meio roqueiro. A estrela da noite agradecia ao carinho da melhor maneira possível, com empolgação de garoto, apesar da visível papada dos seus 47 anos.
O melhor foi guardado para o fim, como parte do gran finale de Slash e sua trupe. Primeiro com o mega clássico “Sweet Child O’ Mine” e seu inesquecível solo acompanhado pela voz do público. Os integrantes da banda foram apresentados um a um e só aí, 18 músicas depois, que o guitarrista e dono da noite foi ao microfone: “Muito obrigado”, disse, antes de pedir aplausos para Kennedy.
Depois, veio “Slither”, grande música do Velvet Revolver, vencedora do Grammy de Melhor Performance Hard Rock. Nesse momento, um fã conseguiu saltar a grade de proteção e subir ao palco para inexplicavelmente abraçar e derrubar o vocalista – Slash estava ali do lado e foi ignorado pelo sujeito, que deu trabalho aos seguranças para sair de cena.
A pausa para o bis veio quase que mecânica, depois de uma despedida rápida e um retorno ainda mais veloz. E, neste momento, a apresentação de São Paulo ganhou um presente: diferentemente do resto da turnê brasileira, Slash e companhia executaram duas músicas do Guns: as explosivas “Welcome To The Jungle” e “Paradise City”. No público, rapazes tiraram as camisas e as rodaram sobre suas cabeças, as meninas subiram nos ombros dos namorados ou amigos mais altos. Todos mais empolgados do que nunca, para que a despedida se tornasse apenas mais um “até breve”: como crianças incansáveis que pedem para ver o mesmo truque de ilusionismo mais uma dezena de vezes. O show de mágica, porém, havia chegado ao fim.
Ainda no Brasil, Slash e companhia tocam em Curitiba (no Master Hall, nesta quarta-feira, 7) e em Porto Alegre (Pepsi on Stage, sexta, 9).
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