A 2ª temporada da parceria entre José Padilha e a Netflix já está disponível na plataforma
Redação Publicado em 15/05/2019, às 08h14
Na última sexta, 10, a Netflix disponibilizou a segunda temporada de O Mecanismo, dirigida por José Padilha. E, com os novos oito episódios, a série mergulha ainda mais em um limbo catastrófico localizado entre a ficção e a realidade.
O pano de fundo é, em um nível minimamente aceitável, bem familiar a todos os brasileiros: as investigações da Operação Lava Jato. Os personagens também, são baseados em pessoas reais e conhecidas por quem acompanha um pouco a política atual: agentes da Polícia Federal, políticos e empreiteiros envolvidos no esquema de corrupção e lavagem de dinheiro.
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Apesar de usar nomes inventados (que quase sempre são comicamente muito parecidos com os originais), o programa deixa bem claro quem é quem na história. E por que então, em vários momentos, é tão difícil levar a série a sério?
Trabalhar com adaptações fantasiosas de fatos tão recentes e impactantes para o Brasil, como esse que a produção escolheu abordar, se apresenta como uma pedra no meio do caminho da narrativa. Quem acompanhou o drama lembra muito bem de quem disse o que, e quem fez o que, minando a liberdade da equipe de tomar algumas decisões e fazer certas alterações artísticas.
Os personagens acabam presos em um buraco negro de estranhezas e o público fica assombrado pela dúvida constante de "será que ele falou/ fez isso mesmo?".
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No evento de divulgação da 2ª temporada, organizado pela Netflix no último dia 7, Padilha deu, durante a sessão de mesa redonda, um exemplo perfeito dessas alterações artísticas que deixam o espectador sem saber se está assistindo a algo documental ou não:
"Na 1ª temporada eu coloquei [o personagem do] Lula falando aquilo de 'estancar essa sangria', aí os petistas todos reclamaram que ele não tinha falado isso. Na nova eu coloquei o [personagem do] Aécio falando isso, e estou esperando para ver se alguém vai reclamar".
Ou seja, no caso de O Mecanismo, qualquer mudança na trama factual reverbera como mentira ou manipulação de informação. Os fãs brasileiros assistem com o cérebro em busca de: uma dramatização fiel do que aconteceu exatamente na Operação Lava Jato (iniciada há apenas 5 anos), ou uma obra de ficção policial.
E é quando não encontra nenhuma das duas, que nasce a frustração e a estranheza, provocadas exclusivamente pelas escolhas da produção.
Os protagonistas, Marco Ruffo e Verena Cardoni, interpretados respectivamente por Selton Mello e Caroline Abras, apesar de bem atuados, caem nesse mesmo problema. Caroline disse que ambos tinham "uma sombra" do que os personagens poderiam ser, mas que improvisaram "dentro daquilo que achávamos interessante pra cena".
Mello, por sua vez, afirmou algo parecido: "Eu tinha um fiapo de personagem, a partir do qual a gente inventou um outro e foi além, até criar a família dele".
Quando questionado se o papel fez com que ele se aproximasse da política, garantiu: "Eu nunca gostei, e nunca fui alinhado a nenhum partido nem nenhum movimento". Em seguida, contou que inicialmente não ia aceitar a proposta de Padilha, por não sentir que combinava com sua energia, mas aceitou pois seria "uma boa chance de fugir da zona de conforto" e por ser fã do diretor.
"Pra mim foi incrível pq fiz algo que foi pessoalmente doloroso e bastante desconfortável. Isso foi bom, engrossou minha casca. E saio agora achando política pior do que quando eu não entendia nada. Agora que eu entendi um pouco, eu acho pior ainda", contou.
E, para encerrar, abordou de forma breve o método de preparo que usou para essa 2ª temporada de O Mecanismo: "Cada vez mais eu me preparo menos".
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