Na São Paulo Fashion Week, estilista mineiro põe modelos ao avesso em desfile-tributo a Pina Bausch
Por Anna Virginia Balloussier Publicado em 20/01/2010, às 11h58
Menos de um minuto para começar. "Ronaldo! Ronaldo!", encarnam Zina, o humorista involuntário do Pânico, um ou dois gaiatos no perímetro dos fotógrafos, a postos para o segundo desfile do dia 3 da São Paulo Fashion Week, nesta terça, 19. Quando as luzes se apagam, uma dançarina move o corpo em silêncio, com uma sanfona que mal arranhará som ao longo do trajeto. Cadê as modelos? Flash. Cadê as roupas? Flash. Cadê os carões, as top models, o glamour? Flash. Flash. Flash.
Desfiles de Ronaldo Fraga, quem conhece o meio sabe, não costumam seguir o manual. Para apresentar sua coleção de inverno, inspirada na coreógrafa "que é muito mais do que apenas coréografa" Pina Bausch, conforme adiantou ao site da Rolling Stone Brasil, o estilista mineiro preparou mais um de seus híbridos entre moda, teatro, dança e qualquer outra arte que se sinta à vontade de pegar este bonde andando.
A bailarina Ana Paula Cançado, do grupo mineiro O Corpo, é uma espécie de fantasma de Pina, que também lembra uma versão envelhecida da personagem de Catherine Zeta-Jones em Chicago, cruza a passarela, interagindo com as cinco cadeiras dispostas sob círculos de pó branco iluminados. Na última, a cadeira se espatifa - movimento ensaiado. Hora do show.
Meninas entram na passarela, uma a uma, com cabelões armados, ruivos, castanhos ou louros. Só que o amontoado de fios - perucas - está puxado para frente, o que encobre o rosto das modelos, muito bem ensaiadas, apesar do cabra-cega voluntário ("não exatamente", respondeu uma delas, após o desfile, ao ser perguntada se enxergava um palmo à frente). Todas as modelos usavam, ainda, máscaras que lembravam Pina, mas presas na parte de trás da cabeça. Restou como impressão final uma pintura de René Magritte inspirado pelas assustadoras garotinhas de O Exorcista (com o inesquecível giro da cabeça em 360º) e O Chamado (a cabeleira de Samara).
São finas como cotonete, a gente aposta, mas as modelos estão cobertas pelos vários panos que formam as criações de Ronaldo Fraga. Começa mais sombrio, com túnicas escuras, e progride até chegar no multicolorido de um arraial - o frio chega junto às festas juninas, afinal. Como as máscaras estão dispostas para trás, o retorno das meninas na passarela parece uma grande marcha a ré.
Ao som de Caetano Veloso (um dos preferidos de Pina), mixado com bases diversas, de música clássica a tango, as modelos são todas objetos não identificados - assim como a própria Pina Bausch. E, claro, Ronaldo Fraga.
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