Em seu segundo álbum de estúdio, Extravaganza, cantora brinca com clichês latinos valendo-se de letras sensuais e divertidas
Por Patrícia Colombo Publicado em 20/08/2010, às 12h45
Ela integra a nova geração de cantoras brasileiras, mas trilha caminhos diferenciados em sua sonoridade. Não é cantora de samba. Não é cantora de rock. Mistura ambos os gêneros, acrescentando bossa nova e outros elementos sessentistas, influências latinas e inspirações circenses. Silvia Machete escapa do óbvio em seu recém-lançado segundo disco, Extravaganza, ao valer-se de divertidas antíteses - o sexy e o inocente, por exemplo -, com base em uma musicalidade que brinca com a "cultura tropical", indo do som das marimbas à influência de Mercedes Sosa.
Quatro anos separam Extravaganza de Bomb of Love - Música Safada para Corações Românticos (2006), disco de estreia da artista, e as incertezas acerca do lançamento se fizeram presentes. "Este é um trabalho que foi desafiador, por ter que me firmar como uma cantora", conta ela, em entrevista à Rolling Stone Brasil. "Estamos em um país tradicionalista, onde as pessoas ouvem samba, e eu não canto esse gênero. É mais difícil você ganhar espaço com uma música contemporânea." Machete, contudo, decidiu seguir seu feeling, mesmo tendo a visão de que as vias mais fáceis para o sucesso possivelmente seriam aquelas com as quais o público poderia se encontrar mais familiarizado.
A cantora não quis o básico para seu novo disco. Ao ouvir a faixa "Tropical Extravaganza", a porção latina do álbum se mostra mais evidente, até em tom de deboche - contando com metais marcantes e diversos "ai, ai, ai". Entretanto, é em sua versão para "A Cigarra", homenagem feita à argentina Mercedes Sosa (intérprete da versão original "Como La Cigarra", composta por Maria Elena Walsh), que Silvia Machete passa por outro tipo de sonoridade, resgatando as influências latinas, mas sem recorrer a estereótipos. A marimba, comumente encontrada nas produções musicais latino-americanas (como no trabalho do equatoriano Papa Roncón), também marca presença no disco. "É um instrumento bastante extravagante", caracteriza.
Segundo ela, montar um álbum que passasse pela latinidade e ao mesmo tempo por faixas com mistura de marchinhas ao rock (como é o "Vou pra Rua"), baladas ("Feminino Frágil", composta com Erasmo Carlos), um clássico de Itamar Assumpção com cara nova ("Noite Torta", com citações de frutas que mais do que ilustram a concepção "tropical") e aspectos circenses ("Sábado e Domingo") consistiu em um exercício de quebra-cabeças. "Você levanta várias músicas, ensaia e vê o que é mais coerente", explica. Além do passeio pelos sons diferenciados, Machete também não se vale do "mais do mesmo" na hora de buscar canções antigas para regravações. Além dos já citados Itamar Assumpção e Mercedes Sosa, ela presta homenagem a Jorge Mautner, com a nada ingênua "Manjar de Reis". "Adoro procurar as coisas escondidas e há tanto material bom", diz.
Sacana , elegante e circense
"Tu és manjar de reis/ Dos mais finos canapés/ Mas agora é minha vez/ De te fazer mil cafunés/ Quero a tua nudez/ Da cabeça aos pés/ Quero que sem timidez/ Tu chupes picolés", canta ela, a letra composta por Mautner. A doce voz de Silvia Machete poderia exprimir a personalidade de uma moça recatada. Todavia, a cantora é daquelas que prima por uma, digamos, sacanagem fina, o "sexy sem ser vulgar", engraçada e ao mesmo tempo provocativa, onde a caretice passa longe. "Eu sou assim, quem me conhece sabe [risos]", afirma. Como no exemplo dos opostos entre "Sábado e Domingo" (de melodia suave e letra com um romantismo inocente) e "O Baixo", sua música vai do ingênuo ao sacana - característica que a acompanha desde o primeiro álbum.
Em sua trajetória, 12 anos foram vividos no exterior - três em Paris e nove em Nova York -, viajando com shows de teatro de rua. A experiência com circo a auxiliou em suas apresentações musicais performáticas já como cantora. "O circo é um lugar supermusical, conectado com a imagem também. Carreguei isso junto para o meu trabalho no palco", argumenta. Criativa e inventiva, Silvia Machete acha uma chatice a turma da música que segue sem inovar. "Todo mundo canta as mesmas coisas, fazer o que já existe", diz. E, bem-humorada, manda o recado: "Estão indo ao show errado. Têm que ir ao meu."
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