Sepultura se fecha em estúdio para fazer um novo álbum, mas abre uma janela, de segunda a sexta, das 16h às 18h, para que o público acompanhe, via internet, parte da rotina de gravação da banda
Por Stella Rodrigues Publicado em 11/02/2011, às 15h49
Quem já pisou em um estúdio conhece a premissa: quando a luz de "on" acende, as grossas portas da sala se fecham para isolar a banda de qualquer barulho externo. O Sepultura está fazendo diferente com seu novo álbum e resolveu abrir uma porta (ou talvez uma janela) para que os fãs acompanhem um pouco da rotina deles dentro dos estúdios da Trama, em Pinheiros, São Paulo. "Foi uma ideia estranha, no começo. Para um músico, abrir o estúdio assim é difícil, a gente é muito vaidoso", brinca o guitarrista Andreas Kisser em entrevista ao site da Rolling Stone Brasil. "Mas nunca tive medo de me expor, nem vergonha de fazer as coisas. Acho que quanto mais as pessoas souberem como tudo acontece de verdade, não ficar com aquela maquiagem de que tudo é perfeito, melhor."
O conceito vem de uma ideia que a TV Trama já estava executando, a de transmitir pela internet videocasts dos artistas tocando em estúdio, que se uniu ao fato de que o Sepultura estava para começar a trabalhar em um novo disco. "Como coincidiu da gente estar na época de gravação e a gente invadiu o estúdio durante seis semanas, fizemos um acordo de, durante o horário da programação deles, abrir para o mundo inteiro, em primeira mão, as gravações do Sepultura", explica o baixista Paulo Jr. O grupo entrou em estúdio em 20 de janeiro e a previsão é de que o trabalho continue até pelo menos o final do mês. Assim, até 28 de fevereiro, a fiel base de fãs terá duas horas diárias garantidas de Sepultura na tela do computador.
Ao contrário do que poderia se imaginar - ou que poderia acontecer caso a experiência fosse tentada com outras bandas - não se trata de um olho mágico que dá direito à uma visão pasteurizada do ritmo das coisas. O quarteto costuma chegar ao estúdio por volta de 11 horas e, quando o relógio chega às 16h, as câmeras são ligadas e, seja lá o que a banda estiver fazendo naquela hora, é o que será visto pelos internautas.
No dia da estreia do projeto, a atividade exibida não foi um debate a respeito de riffs e letras, mas sim o horário de almoço da equipe. "A gente está com fome, a gente almoça", conta o vocalista Derrick Green, rindo da situação. "A gente não pode parar por causa das câmeras se estamos com fome. É algo que faz parte da gravação. O processo todo, realmente, trata de expor tudo que você faz ali para todo mundo ver e criticar." O que Green expõe é a naturalidade com a qual a banda está lidando com a novidade. E nem há tempo para tais melindres: "A verdade é que a experiência de estúdio não é barata. Você está pagando por cada segundo em que está lá. Então, você até pode fazer isso, mas estará perdendo tempo e dinheiro, o álbum atrasará. Você acaba tentando fazer o máximo que pode em um dia", explica.
Quando a reportagem da Rolling Stone Brasil visitou o estúdio, na última terça, 8, pouquíssima música foi produzida, de fato, no intervalo entre 16h e18h. Naquela data, a banda recebeu um grupo de fãs para a tradicional sessão de fotos e autógrafos, tudo regado a uísque de uma marca patrocinadora. Ou seja, a transmissão quase toda ficou por conta disso.
"No estúdio, você fala de tudo. Fala dos lances técnicos, de futebol, de outras bandas, da família, fala de tudo", explica Kisser sobre o único cuidado que a banda tem na hora da transmissão, o de policiar os assuntos sobre os quais os músicos costumariam conversar. "Afinal, você está ali, trabalhando dentro da sua segunda casa." O que ele não sabia é que, minutos antes, os outros integrantes e a equipe divertiam-se comentando os hábitos de higiene precários de Lemmy Kilmister, o frontman do Motörhead por algum tempo, até se lembrarem das câmeras e consertarem com um diplomático "é brincadeira!".
Enquanto os integrantes do Sepultura trabalham, almoçam e recebem o público durante a gravação do disco, os usuários de internet comentam, criticam e discutem a transmissão em um chat que a própria TV Trama disponibiliza. Os músicos até lêem os comentários, mas nem sempre o assunto tem a ver com música.
Documentário e disco
O novo álbum já tem nome, mas ainda é segredo. Nem adianta perguntar. Porém, o grupo, pelo menos, aponta a direção sonora do trabalho. "A ideia é escrever um disco que seja a história, meio como a trilha sonora de tudo que aconteceu [com o Sepultura], o motivo de ainda estarmos juntos, as mudanças, a imprensa, os fãs, os shows, as viagens, o impacto disso nas famílias, os críticos, tudo. É a história de termos ficado juntos, passado por tempos difíceis, tempos bons", diz Derrick.
Essa volta ao passado - que Kisser define como "arrumar um armário velho e encontrar coisas que não usava mais" - também está sendo marcada pela realização de um documentário sobre o Sepultura, dirigido por Otavio Juliano. A coleta de material, que já começou há algum tempo, não tem data ou pressa para ser terminada - inclusive, deve se estender pela turnê do disco que está em andamento e, possivelmente, além. A mesma calma vale para a gravação do disco novo. Paulo Jr. acredita que o prazo inicial para a conclusão das gravações, 28 de fevereiro, não deve ser cumprido. "Acho que só no segundo semestre", arrisca ele sobre a chegada às lojas, explicando que, depois que a gravadora receber as faixas mixadas e masterizadas, além da parte gráfica, ainda precisará de mais três meses para lançar o produto final.
Os vídeos das transmissões ao vivo não podem ficar arquivados. Contudo, o Sepultura postou, em seu canal no YouTube, atualizações sobre o processo de estúdio, contando detalhes sobre equipamentos, revelando quais instrumentos estavam sendo gravados em cada momento etc. Veja abaixo (os integrantes falam em inglês, mas há opção de assistir com legendas).
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