- Led Zeppelin em 1968 (Foto: Reprodução/ Instagram/Jørgen Angel)

Orgasmos, latas de lixo e explosivos: como nasceu o disco clássico Led Zeppelin II

Há 50 anos, a banda lançou o álbum "feito sob medida" para cada um dos integrantes

Patrick Doyle / Rolling Stone EUA Publicado em 22/10/2019, às 17h14

“No segundo LP, você consegue ouvir a identidade do grupo se formando,” Jimmy Page disse anos depois do lançamento do segundo disco do Led Zeppelin. Enquanto o grupo gravou o primeiro disco em três semanas depois de uma turnê única de duas semanas pela Escandinávia, Led Zeppelin II foi feito durante quase seis meses de turnê em Londres, Nova York, Vancouver e Los Angeles, com a banda carregando os masters para todo o lado em um ônibus.

“Foi bem doido, na verdade,” disse Page. “Não tínhamos tempo, e precisávamos escrever nos quartos de hotel. Quando o disco saiu, eu já não aguentava mais. Tinha ouvido tantas vezes e em tantos lugares. Acho que perdi a confiança nele.”

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Na realidade, naquele disco, o Led Zeppelin fez um dos melhores, mais pesados e mais atrevidos álbuns da história. Se inspiraram no blues de Chicago, na psicodelia dos anos 1960 e em uma dinâmica esmaga-ossos. Os destaques variam desde o caos apocalíptico de “Wholle Lotta Love” aos riffs eletrizantes de “Heartbreaker” ou “Bring It on Home,” um blues ensandecido.

“Foram as primeiras músicas escritas com a banda em mente,” Page comentou ao escritor Mick Wall um tempo depois. “Era uma música feita mais sob medida com os elementos que tínhamos. Tipo, sabendo que Bonzo [John Bonham, baterista] aceleraria em algum momento, e construindo tudo a partir disso.”

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Menos de quatro meses depois do lançamento do primeiro LP, em janeiro de 1969, a gravadora Atlantic já pressionava a banda para novo material para a temporada de natal. Em abril, Zeppelin foi até o Olympic Studios de Londres com o engenheiro de som George Chkiantz. “Whole Lotta Love” foi uma das primeiras faixas em que trabalharam; a base foi um riff que Page inventou durante uma das apresentações de mais de 15 minutos de “As Long As I Have You,” com Plant adicionando letras retiradas diretamente do single de 1962 do Muddy Water, “You Need Love.”

Eles terminaram as gravações em Nova York com o engenheiro de som de Hendrix, Eddie Kramer, que ajudou a executar a assustadora mid-section, incorporando uma variedade de sons: a guitarra de Page tocada ao contrário, o misterioso teremim, um orgasmo feminino e uma explosão de uma bomba de napalm. Page disse: “Era meio que como a psicodelia seria se pudéssemos ir até lá.”

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Os solos de guitarra foram gravados em corredores de estúdio. Bonham fez a parte da percussão de “Ramble On” em um case de guitarra, um banquinho de bateria e uma lata de lixo, e o espetacular solo de “Moby Dick” foi montado juntando várias gravações de estúdios diferentes.

Os métodos de gravação podem ter sido peculiares, mas os resultados foram os esperados. “What Is and What Should Never Be” usou mixagem em estéreo para deixar a guitarra de Page e os berros de Plant em ping-pong entre as caixas de som para imitar uma viagem de ácido bem zoada. “The Lemon Song” - a versão do Led Zepellin de “Killing Floor” do Howlin’ Wolf - foi editada ao vivo no estúdio, e variava de calma para frenética, com Plant uivando “squeeze my lemon till the juice runs down my leg.”

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“Thank You,” um hino folk encharcado com um violão de 12 cordas e um órgão, foi a primeira tentativa de composição de Plant, feita para a esposa dele durante um tempo de mudanças intensas; em menos de um ano, a banda foi de insistir em uma turnê na Inglaterra, na qual andavam em carros por estradas cheias de neves, a ficar semanas hospedados no Chateau Marmont, assistindo Elvis Presley da primeira fila em Vegas e passeando por aí com a elite de L.A. 

No meio de todo esse caos, o Led Zeppelin continuou focado e trabalhou fervorosamente. Um perfeccionista de estúdio, Page se recusava a ficar distraído. Em julho, na noite em que o grupo celebrou o disco de ouro para Led Zeppelin no Plaza de Nova York, o guitarrista fez a banda sair da festa e ir logo para o estúdio.

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“Existia uma urgência para ir para os EUA,” disse Bonham. “Lembro que saímos do aeroporto para encontrar nossas esposas, a levamos de volta para o hotel, e fomos direto para o estúdio, e gravamos ‘Bring It on Home.’ Fizemos isso várias vezes naquele ano.”

“Eu podia ver Jimmy perdendo a batalha para a fadiga,” disse Richard Cole, empresário de turnê, ao descrever uma sessão em Londres. “O rosto dele parecia desenhado. Os círculos embaixo dos olhos dele ficavam cada vez mais escuros. Ele começou a fumar muito mais do que o normal.”

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Valeu a pena. Até “Living Loving Maid (She’s Just a Woman)” - um rock ressonante que Page disse que escreveu para “uma mulher degenerado que tenta ser sempre jovem,” e depois afirmou ser a música do Led Zeppelin que ele menos gosta - era incrível. Em agosto, eles tinham terminado de gravar, Kramer e Page mixaram o LP em dois dias, em Nova York. Usaram um Altec board de 12 canais. “Era o console mais primitivo que você pode imaginar,” disse Kramer. 

Lançado no dia 22 de outubro de 1969 (há exatos 50 anos), Led Zeppelin II acabou vendendo 3 milhões de cópias em seis meses, e  tirou Abbey Road do primeiro lugar em dezembro. “Whole Lotta Love” chegou ao número 4 das paradas em janeiro de 1970, prevendo o heavy metal mais de uma década antes.

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“Toda a nossa vida mudou,” disse Plant. “Foi uma mudança tão repentina que nem sabíamos como lidar.”


Esta matéria foi publicada originalmente no especial da Rolling Stone EUA, Led Zeppelin: The Ultimate Guitar to Their Music & Legend, no dia 31 de janeiro de 2013.

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