Sussurros, "oh, oh, oh" e instrumentos eletrônicos: o que vai ficar para a história da década
Emily Blake / Rolling Stone EUA Publicado em 10/12/2019, às 18h50
Nos anos 1960, o uso do reverb e echo ajudaram o som do rock psicodélico. Os beats four-on-the-floor chegaram nos anos 1970 com a ascensão do disco, e os anos 1980 viram a introdução do sintetizador. Todas as décadas tiveram as próprias peculiaridades sônicas - algumas que vão desde revolucionárias (autotune) a passageiras (buzinas).
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Nos anos 2010, não foi diferente. Aqui estão 10 sons que deficinar a música da década. As vezes, foram efeitos colaterais do streaming - a mistura de gêneros, o crescimento do rap, e a influência crescente da música eletrônica.
De vez em quando, foram indicativos visionários de para onde a música segue. Outras vezes, resultados de produtores vendo apenas o quão estranho tudo pode ficar, aura equivalente àquela borda de pizza recheada com salsichas da Pizza Hut. O tempo nos dirá o que ficará por aqui (mas vamos esperar que não seja o Millennial Whoop [grito millennial]).
COMO SOA: Como um White Clown para um martini tradicional (e ruim) de melisma
O QUE É: A espinha dorsal do Millennial Whoop (ou “o grito millennial”) - de acordo com o músico Patrick Metzger, que cunhou o termo - é uma “sequência de notas que se alternam entre a quinta e terceira nota de uma escala.” Ou, de maneira mais clara: aquele “oh-oh, oh-oh” que tem em várias músicas, que se estendem em várias notas diferentes.
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Começou como um “yassss,” um acessório em músicas como “Tik Tok,” da Kesha, e “California Gurls,” da Katy Perry, e ficou mais flexível com o tempo, até se tornar o equivalente sonoro a um bom choro (“Habits (Stay High)” da Tove Lo e “Ivy” de Frank Ocean).
No meio da década, esse uivo trêmulo se tornou tão inescapável que virou paródia em Pop Star: Never Stop Never Stopping, mocumentário de 2016 feito por The LonelyIsland (grupo de Andy Samberg).
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QUEM FEZ MELHOR: The Lonely Island / Conner4Real em “F**k Off.”
COMO SOA: Um beat pop com uma vibração por cima
O QUE É: Será que a bateria eletrônica poderia chegar até o country, um gênero construído em música real? Nos anos 2010, a resposta foi sim - mas de modo apreensivo.
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Quando artistas de Nashville começaram a abraçar mais texturas eletrônicas, alguns produtores colocaram baterias eletrônicas nas músicas. Percussão programada - que alguns chamam de “snapping,” ou “estalo” - marcou o passo para “Body Like a Back Road,” de Sam Hunt, e deu suporte para o fim de “Meant to Be,” de Florida Georgia Line e Bebe Rexha.
O produtor Joey Moi foi um dos maiores precursores, em hits para Chris Lane, Jake Owen e Florida Georgia Line. Puristas gostando ou não, esteve em todo lado nos anos 2010 - até em músicas de artistas mais tradicionais, como Jon Pardi (“Dirt on My Boots”) e Maren Morris (“80s Mercedes”).
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QUEM FEZ MELHOR: Jon Pardi em “Dirt on My Boots”
COMO SOA: Como o neto petulante e auto-depreciativo de “Careless Whisper”
O QUE É: Depois de duas décadas de quase-exílio da música, o saxofone fez seu retorno triunfal em 2011, no climático terceiro ato de “Midnight City” de M83, ou no festeiro gritalhão de “T.G.I.F,” da Katy Perry, ou o cara animado de “The Edge of Glory” da Lady Gaga.
Entre 2013 e 2015, chegou ao centro do palco: “Talk Dirty,” de Jason Derulo; “Problem,” de Ariana Grande; “Worth It,” de Fifth Harmony - todos tinham o sax no seu grande esplendor. Até mesmo a adversária-do-sax Taylor Swift o abraçou em “False God,” destaque de Lover, disco deste ano.
QUEM FEZ MELHOR: Carly Rae Jepsen em “Run Away With Me”
COMO SOA: Como o início do apocalipse de Inteligência Artificial
O QUE É: A maioria das análises o rastreiam desde 1998, quando o hit dançante “Believe,” de Cher, usou o Auto-tune de maneira inédita: para distorcer os vocais de propósito, e não para uma correção. Agora o chamado “efeito Cher” foi ainda mais distorcido - com vocais cortados, realocados e transfigurados em algo que nem soa humano.
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A voz de Justin Bieber ficou aguda, meio de golfinho, nos hits “Where Are Ü Now” w “Sorry,” de 2015. Kygo despedaçou a voz de Selena Gomez em mil pedaços em “It Ain’t Me,” 2017. E Kanye West distorceu a si mesmo para soar como um baixo na segunda parte angustiante de “Runaway.”
QUEM FEZ MELHOR: Diplo e Skrillex em “Where Are Ü Now (com Justin Bieber)” e Kanye West em “Runaway.”
COMO SOA: Como se o baixo estivesse seriamente rouco
O QUE É: Distorção de baixo é usada há muito tempo no rock, e é a fundação gutural de várias músicas do Motorhead e Rage Against the Machine, só para citar dois exemplos. Mas não surgiu no pop até os anos 2010, com o surgimento do rap/rock que “cozinhou” no Soundcloud.
Artistas como XXXTentacion, Ski Mask the Slump God e Smokepurpp são agora conhecidos por produções obscuras e definitivamente lo-fi - e constantemente contruíram isso em linhas de baixo bem distorcidas.
Foi feito antes, em “Mercy” de G.O.O.D., “Move That Dope” de Future e “Bugatti” de Ace Hood, mas nunca antes assim. Em 2016, hits como “Look at Me!” do xxxtentacion e “Gucci Gang,” do Lil Pump, tiveram baixos tão exagerados que você praticamente podia sentir a vibração nos seus fones de ouvido.
QUEM FEZ MELHOR: Lil Pump em “Gucci Gang” e Future em “Move That Dope.”
COMO SOA: música para a galera da ASMR
O QUE É: Existia uma regra que ninguém falava sobre: todos diziam que você não podia ser um pop star se não soltasse a voz. Mas, nos anos 2010, uma nova onda de cantores surgiu e, coletivamente, sussurraram adeus para isso, optando por entregar vocais mais moderados.
Esse tipo de cantoria faz parte do DNA de Lana Del Rey desde o início, com seu disco Born to Die (2012) entregando hits apressados como “Blue Jeans” e “Radio.” Lorde fez barulho sem erguer a voz em Pure Heroine, seu debut de 2013. E Selena Gomez estreou como uma vocalista de pop mais tradicional, mas abaixou o tom e se aquietou com o tempo, em “Good For You” e “Hand to Myself.”
Mas a rainha do whisper pop é Billie Eilish, cujo disco de estreia We All Fall Asleep, Where Do We Go? foi tão cochichado que inspirou uma série de covers em ASMR.
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QUEM FEZ MELHOR: Billie Eilish em “bad guy”
COMO SOA: Ron Burgundy em um clube
O QUE É: Antes de 2010, apareciam flautas no rap, aqui e ali, como em “Flute Loop” dos Beastie Boys, “Motivation” do T.I. ou “Just a Little Bit,” do 50 Cent. Ma,s na década de 2010, virou um dos aspectos mais esperados do rap.
Os sopros amadeirados marcaram “Goldie,” de A$AP Rocky, “Back on Road” de Gucci Mane, “Get Right Witcha,” do Migos, “Portland,” de D.R.A.M. e Drake e muitas, muitas outras faixas. E na ascensão ao topo, Lizzo levou a flauta com ela, e constantemente separa um tempo dos shows dela para o instrumento de sopro.
QUEM FEZ MELHOR: Migos em “Get Right Witcha” (produção de Zaytoven e Murda Beatz)
COMO SOA: Igual à alma deslizante de Atlanta
O QUE É: Enquanto o country apenas abraçou a bateria eletrônica recentemente, beats eletrônicos são um grampo para o pop e para o rap há décadas. Nos anos 2010, isso começou a soar como um novo estilo. A batida essencial do trap foi o chimbal (em inglês, hi-hats) sintetizado, empregado de uma maneira que nunca ouvimos antes.
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Produtores de trap como 808 Mafia e Southside programaram o chimbal em velocidades inigualáveis e completas em hits para Future, Migos e Gucci Mane. Depois de Beyoncé e Jay-Z empregarem beats de trap em “Drunk in Love” e “Apeshit,” foi só questão de tempo antes de produtores do pop também começaram a usar, também: “Break Up With Your Girlfriend, I’m Bored,” de Ariana Grande, por exemplo; ou “Without Me,” da Halsey, ambas têm chimbal em trap-style.
QUEM USOU MELHOR: “Stir Fry” dos Migos
COMO SOA: Cantores sendo automatizados e perdendo o emprego
O QUE É: Cimentando a onipresença da música eletrônica - e a iminente extinção da raça humana - um novo refrão surgiu nas músicas de 2010 e é, basicamente, o vazio da voz humana. Aqui, cantores aparecem em uma música durante a introdução, versos e ponte. Mas no refrão, gentilmente dão espaço e entregam o microfone para outra parte, aparecendo esporadicamente para estalar os lábios ou soltar um “oooh” ou “aaah.”
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Vemos isso em uma linha de hits do Chainsmokers, como “Don’t Let Me Down” e “Roses,” EDM descarados. Em “Uptown Funk,” de Bruno Mars e Mark Ronson, existiu o apoio todo empoderado de sons metálicos. E em “Wiggle,” de Jason Derulo, teve - de acordo com o produtor Ricky Reed - uma flauta de brinquedo comprada em uma loja de festas.
QUEM USOU MELHOR: Mark Ronson em “Uptown Funk”
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