De David Bowie a Beyoncé, passando por artistas do pop, indie e rap: eis a lista com os discos mais importantes da década
Rolling Stone EUA Publicado em 05/12/2019, às 12h02
Na década de 2010, os maiores artistas também foram alguns dos maiores inovadores. Temos Kanye West criando a exageradamente monumental obra My Beautiful Dark Twisted Fantasy, Beyoncé conectando a própria história de vida a uma narrativa de expressão afro-americana em Lemonade e Chance, the Rapper explodindo com uma mixtape gratuita que estava cheia de realismo psicodélico.
Taylor Swift, Kacey Musgraves e Frank Ocean também inovaram ao ultrapassar os limites dos gêneros conservadores dos quais eles acabaram saindo completamente.
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O country teve a década mais aventureira de todos os tempos, seja por meio do espírito que surgiu na honestidade lírica do Pistol Annies, da literatura durona de Jason Isbell ou do ciclo de canções de Sturgill Simpson, com A Sailor's Guide to Earth.
Depois de ter sido deixado para morrer em uma poça fria há 10 anos, o indie-rock voltou às raízes das guitarras gloriosamente bagunçadas, com bandas como Parquet Courts, Japandroids e Car Seat Headrest - que fizeram discos fantásticos. Se o indie-rock voltava aos anos 1990, o hip-hop fazia o oposto. Ele evoluiu mais rápido do que qualquer outro estilo de música, à medida que ganhava mais emo (obrigado, Drake) e mais profundidade no espaço político e na sonoridade - e tudo isso ao mesmo tempo.
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Enquanto isso, ícones como Paul McCartney, Paul Simon e John Prine acompanharam os jovens ao apresentarem algumas das melhores músicas da carreira.
O que foi tão divertido nos anos 2010 foi o modo como muitos artistas de diferentes gêneros pareciam se basear no mesmo poço de possibilidades, de descobertas acontecendo em tempo real. E, isso se reflete nos álbuns nessa lista.
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Por exemplo, David Bowie já fazia música há quase 50 anos quando Kendrick Lamar lançou a extensa e auto-interrogadora obra-prima de hip-hop To Pimp a Butterfly. No entanto, Bowie, que vivia eternamente no momento, ainda teve grande influência de Kendrick na elaboração do incrível álbum de despedida Blackstar.
E, é graças a mutáveis visionários do pop como Bowie que o mundo pode imaginar um contexto pop para algo tão desafiador e multifacetado quanto To Pimp a Butterfly. É uma pena que os dois não farão uma música juntos na próxima década.
A lista a seguir foi elaborada pela equipe da Rolling Stone EUA: Jon Dolan, Brittany Spanos, Simon Vozick-levinson, Rob Sheffield, Charles Holmes, Christian Hoard, Joseph Hudak, Elias Leight, Suzy Exposito, Will Hermes, Angie Martoccio, David Browne, Hank Shteamer, Jon Freeman, Claire Shaffer, Brenna Ehrlich, Jonathan Bernstein, Jon Blistein, Nick Catucci, Brendan Klinkenberg, Danny Schwartz e Kory Grow.
Importante: Dos 100º ao 11º, os álbuns estão apenas listados na ordem determinada pela RS EUA. Do 10º lugar até o primeiro, os discos vêm acompanhados de uma explicação do que os transformou em obras tão marcante para a década de 2010.
Confira os 100 melhores discos da década de 2010:
Antes da "aposentadoria", LCD Soundsystem fez estrago como a ressaca depois de uma festa intensa com um conjunto de sintetizadores análogos.
"Todos estão ficando mais novos/ É o final de uma era - é verdade", James Murphy lamenta na abertura “Dance Yrself Clean", que tenta enquadrar os destroços do envelhecimento com a redenção inegável da fúria do disco.
Em particular, a meta-paródia "Drunk Girls" e o desanimado "All I Want" sugere singles perdidos de Bowie. Mas em todos os lugares os ganchos são afiados, as compilações são deliciosas, as batidas cinéticas, as letras (como sempre) sarcásticas, e responsáveis por partir corações.
Chegou ao Top 10, uma primeira vez para a banda, e ajudou a lotar o Madison Square Garden para um show lendário de despedida - tudo testamento para a majestade do álbum: um trabalho cansado de raves, uma fusão definitiva de rock e EDM e com impacto furtivo no som do pop moderno. (W.H.)
O supergrupo country da década (se não do século) deixou para trás os ex-maridos e fantasias da casas queimando em favor da introspecção sombria da meia-idade nesta ode originária dos tempos pré-nupciais e da Percocet. Se o discreto terceiro LP do grupo contém menos barulho e música honky-tonk do que os esforços anteriores, os retratos sutis do divórcio, problemas com a maternidade, a rica herança sulista e crises atrasadas da meia-idade cimentaram Ashley Monroe, Angaleena Presley e Miranda Lambert como três das compositoras mais afiadas de qualquer gênero.
Lançado menos de um ano antes de Highwomen faiscar a revolução country do grupo, Interstate Gospel se mantém como um testemunho da profundidade da arte de histórias cotidianas. "Não estamos em uma caixa de sabão", Presley falou sobre o grupo. "Estamos lavando louças e escrevendo músicas sobre isso."- (J. Bernstein.)
Na crítica do LP de estreia de Adele, 19, a Rolling Stone EUA elogia Adele Adkins por sua voz surpreendente e esperou que sua história pudesse "um dia ser tão interessante quanto o fraseado dela".
Acelere o tempo por três anos e a afirmação se mostrou verdadeira. "Vá em frente e me venda / E deixarei sua merda", ela promete ao ex-amante em "Rolling in The Deep". Enquanto a cantora explicou: "Sou eu falando algo como 'Saia da minha casa'. Em vez de implorar por sua volta".
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É uma lição objetiva de como sobreviver ao trauma do fim de relacionamento que se estende na mistura de dor, poder, raiva e autoridade no álbum.
Figura do topo nos rankings ao redor do mundo, 21 recebeu seis Grammys. Escrito quase sozinho, o disco empolgou a indústria musical enquanto o streaming começava a estrangular o mercado no pico da era de download; o disco venderia, eventualmente, cerca de 12 milhões de cópias. E os números só importam porque ajuda a colocar o disco ao lado de álbuns como Back to Black, de Amy Winehouse, como os grandes registros de almas britânicas de nosso tempo. (W.H.)
Com a estreia de Pure Heroine, Lorde passou a ser reverenciada por honestas e maduras reflexões de uma adolescente do século 21. Com Melodrama, ela se tornou uma lenda. O segundo álbum conta com algumas das melhores letras da década, com a artista - na época com 20 anos - dissecando um rompimento e a solidão resultante dele.
Melodrama teve a produção executiva feita por Lorde e Jack Antonoff, e é imersivo: ela mergulha fundo nas próprias tristeza e solidão entre duas baladas emocionantes ("Liability", "Writer in the Dark") e singles radicais e intoxicantes de pista de dança ("Green Light", "Supercut").
Para Lorde, cuja inspiração para o LP é tanto Katy Perry quanto Kate Bush, foi sobre respeitar o próprio gênero em que está. "Muitos músicos pensam que podem fazer pop, e os que não têm sucesso são os que não têm a reverência, pensam ser apenas uma versão burra de outra música", ela disse no lançamento do álbum. "Você precisa ser impressionado." (B.S.)
Drake nunca foi tão magneticamente, confundidamente Drake quanto neste suspiro primordial do segundo álbum oficial. O delicioso "Marvin's Room" - que sintetiza o real e sombrio, com uma produção minimamente adornada fornecida aqui principalmente pelo seu beatmaker 40 - encontra-o em dueto com a gravação de uma mulher no telefone; ela pergunta, "Está bêbado agora?", e ele a preocupa em responder: "Estou apenas dizendo - você poderia fazer melhor".
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Quando Rihanna junta-se a ele para a faixa-título, seus refrões tenros e os versos ansiosos de Drake passam um pelo outro, enquanto Jamie xx e as batidas de 40 palpitam e gaguejam como um coração recém-partido.
"Disse algo em Thank Me Later como, 'Queria não ser famoso'", disse Drake a um jornalista depois do lançamento, se referindo ao seu álbum anterior. "Eu percebi meses depois que não me sinto assim. Todos os meus amigos estão felizes. Sou rico. Posso fazer o que quiser." O que ele conseguiu, de alguma forma, foi reinventar a ânsia de pobre de mim como arrogância de garoto rico. (N.C.)
David Bowie passou toda a carreira como ator multifacetado do rock - mas ele guardou uma de suas mais deslumbrantes performances para o último ato. Bowie lançou Blackstar em seu aniversário de 69 anos - mas dois dias depois, o mundo se chocou ao descobrir que Starman se foi. Ninguém sabia que ele estava secretamente vivendo com um câncer terminal.
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Como o seu produtor Tony Victonti disse: "Ele fez Blackstar para nós, é o presente de despedida." É o testamento de um homem que sabe não ter tempo a perder - ele estende-se do space jazz à ficção científica, inspirando Kendrick Lamar e D'Angelo, ainda experimentando até o fim. Visconti resumiu: "Sua morte não foi diferente de sua vida - uma obra de arte". (R.S.)
Você sabia que ela era problema quando ela chegou. Na tenra idade de 22 anos, Taylor Swift já era a cantora favorita de country dos Estados Unidos. Mas, com Red, ela cresceu com um clássico pop de boa-fé, provando que podia fazer tudo.
Como a artista contou à Rolling Stone EUA em 2014: "Diferentes fases de sua vida têm diferentes níveis de desgosto profundo e traumatizante." Ela atingiu todos os níveis em Red, mostrando domínio do sotaque de Nashville, flash de discoteca, arrogância de guitar-hero e até um drop de dubstep.
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Swift foi comparada com Prince ("Red"), U2 ("State of Grace”), Britney Spears (“22” produzido por Max Martin) - no entanto, a todo momento o disco soa inconfundivelmente como ela. "All Too Well" continua sendo a balada de rock mais majestosa: como o jovem Bruce Springsteen, se alguém o desafiasse a cantar sobre um cachecol em vez de um carro. (R.S.)
O rapper mais profundo, barulhento e musical da década fez três obras-primas nos anos de 2010, ganhando um Pulitzer com Damn. Mas To Pimp a Butterfly é o LP que define o estado da arte do hip-hop nos anos 2010, não apenas pelos milhares de estilos do MC e política não diluída de Lamar (veja “King Kunta”, "Alright", o auto-interrogador “The Blacker the Berry” e o favorito do Obama "How Much a Dollar Cost"), mas também pela visão musical, que adotou a arquitetura de ponta nos beats (produtores Sounwave, Flying Lotus, Rahki) enquanto cavalgava uma nova geração de mestres de jazz polivalentes (Kamasi Washington, Terrace Martin, Thundercat, Robert Glasper).
O LP levou para casa cinco prêmios de um recorde de 11 indicações no 58º Grammy Awards em 2016. E sua influência foi além do hip-hop. David Bowie estudou-o enquanto trabalhava no seu último LP, Blackstar. "Nós adoramos o fato de Kendrick ter uma mente tão aberta", disse o produtor de Bowie, Tony Visconti. "Ele jogou tudo lá". Ele jogou, e o resultado é um marco. (W.H.)
"Quem você pensa que é?", Beyoncé pergunta em no sexto e monumental LP. A frase precede uma declaração de colapso conjugal, triunfo pessoal, escuridão radical, raízes sulistas e visão musical sem limites.
Ela fez parceria com Jack White em "Don't Hurt Yourself", chutou o país que fazia armas em "Daddy Lessons" e vinculou a própria história a um sentido mais profundo de raízes afro-americanas em "Formation".
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Lemonade foi o único lugar no pop onde co-autores como Father John Misty e Kendrick Lamar sentiam-se igualmente em casa, parte de uma conversão colaborativa global liderada pela própria rainha.
"Beyoncé está bem envolvida em todas as etapas", Jonny Coffer, que co-escreveu e co-produziu "Freedom", contou à Rolling Stone EUA. "Ela manda no show e fala o que gosta e não gosta, e está sempre fazendo sugestões. Ela sabe exatamente como quer que soe e como chegar lá".
Em Lemonade, ela reinou suprema como a rara deusa pop que inspira tanto amor e empatia quanto choque e temor. (J.D.)
Esqueça, se puder, o chapéu vermelho, os tuítes ultrajantes, as calças de treino muito caras. (Nós também pediríamos para esquecer o disco meia-boca de 2018 Ye, mas é provável que você já tenha esquecido.)
Lembre-se, em vez disso, do salto artístico que desafiava a gravidade que Kanye deu com o quinto LP. Atormentado pela reação feroz ao colapso do VMA de 2009 - um momento que, curiosamente em retrospecto, parecia o fundo do poço para sua imagem pública - ele se escondeu no Havaí e emergiu com o argumento final sobre a própria dualidade de gênio e idiota.
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A gravações secretas no Avez Honolulu Studios tiveram Nicki Minaj, Rick Ross, Justin Vernon e outros artistas apresentando os melhores desempenhos da carreira, sob a orientação das absurdas, porém eficazes, regras da casa de Kanye ("SEM CHAPÉU HIPSTER"..."ÀS VEZES, SÓ CALE A BOCA").
Presidindo tudo isso, ele se tornou o maior produtor de sua geração, passando por cima de mais de 40 anos de música pop para fazer girar sua sinfonia de orgulho ferido, do exuberante falsetto de soul em "Devil in a New Dress" ao trovejante heavy metal de “Hell of a Life.”
E enquanto ele desprezava os policiais racistas e a sala dos roteiristas de South Park, Kanye salvou as cenas mais amargas em My Beautiful Dark Twisted Fantasy para si mesmo (“Blame Game” e “ Runaway ”). Sob todo o burburinho, este é um álbum conceitual sobre a própria incapacidade de parar de partir o coração da América. Quase uma década depois, ainda dói. (S.V.L.)
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