Levanta a mão quem nunca dançou como Michael Jackson em "Thriller" ou colocou a lanterna embaixo do queixo para fazer Freddie Mercury em "Bohemian Rhapsody"
Yolanda Reis Publicado em 15/03/2020, às 14h00
Lady Gaga filmou o clipe de "Stupid Love" em um iPhone. Produções e orçamento a parte, pontuou isso (não novidade): para produzir algo novo, é necessário um celular, uma ideia e algumas horinhas. Duas semanas depois, o YouTube arrecada 40 milhões de visualizações para o vídeo.
Nem sempre foi tão fácil assim bombar na internet, claro. Quando o YouTube surgiu, em 2005, existiam muitas dúvidas: as gravadoras dão licença para publicar as músicas? Não, preferem elas mesmas disponibilizar. Mas, espera... Assim, todos poderão ouvir a música de graça, numa era em que compravam-se CDs físicos e singles isolados no iTunes? Muitos artistas demoraram até o começo da década de 2010 para entrar na onda de clipes digitais - e alcançar um milhão de views era difícil.
Antes disso, ainda, para seu clipe ser visto, precisava de uma televisão, um contrato. Algum organizador dos lab MTV ou programas de novidades da VH1 precisava gostar da sua banda, da estética, achar que não corria riscos ao mostrar algo vanguardista. Mesmo com essas aprovações, precisava-se da mais importente: o público.
Para agradar de verdade, precisa criar algo inovador. Diferente. Uma banda tocando em uma festa? Já vimos isso antes. Uma mulher louvando um santo negro e depois dançando em frente a cruzes pegando fogo? Obrigada, Madonna, por ajudar a marcar a história da música no clipe de "Like a Prayer."
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Mas, muito além da Madonna, existiram diversos clipes totalmente icônicos no mundo da música. As últimas três ou quatro gerações lembram dos seus próprios, e alguns ultrapassam a barreira da linha do tempo para eternizar-se na cultura eterna. Separamos, abaixo, alguns exemplos perfeitos de clipesinesquecíveis:
Este vídeo foi lançado em 9 de setembro de 2013. Foi a volta da Miley Cyrus para o showbussiness. Mas bem diferente: saiu como criança, voltou como ícone sexual. Chocou todos.
O vídeo é relativamente simples: ela canta, com close no rosto, e depois está em uma bola de demolição, em referência ao título. Ganhou VMA naquele ano.
O clipe de 13 de outubro de 2008 saiu poucos dias depois da música - e ambas as produções foram sucesso. O clipe mostra Beyoncé e outras duas mulheres de maiô preto e salto alto, em preto e branco, dançando num fundo branco.
Os passos foram inspirados na rotina de dança “Mexican Breakfast”, criada por Bob Fosse em 1969. Recebeu diversas paródias, e foi um dos primeiros “virais” de dança da internet.
De skatista, Avril Lavigne virou (pelo menos um pouco) princesinha neste clipe. Apresentava uma nova fase da cantora, mais colorida e feminina - mesmo assim, bem na contramão de artistas mulheres da época.
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O vídeo mostra a estrela em três papeis - ela mesma, uma menina nerd e uma punk - querendo um menino. Na época, era o vídeo mais visto do YouTube, e o único com mais de 100 milhões de views. A RCA, porém, retirou o link do ar em 2009 (na época, algumas gravadoras acreditavam que isso desestimularia a compra do single). Voltou apenas em outubro de 2019 - hoje tem quase 500 milhões de views.
O vídeo saiu no dia 26 de setembro de 2006. A faixa é o principal single do disco Black Parade, terceiro do My Chemical Romance. Como o álbum é uma ópera rock, a banda decidiu fazer os clipes conversarem entre si - formando uma história completa.
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Um dos favoritos da MTV, o clipe ajudou a consagrar o visual da banda - e toda uma geração.
Esta música tem dois clipes - uma versão editada, com nove minutos, e uma completa, com 12. Estreou no dia 14 de outubro de 2015 na MTV. É um resumo do disco American Idiot, ópera rock que mostra a história de Jesus do Subúrbio - um garoto punk, com problemas em casa e dificuldades em crescer. No final, suja a parede de um banheiro com o próprio sangue - totalmente icônico.
No dia 19 de dezembro de 2003, Britney Spears apareceu mais adulta do que nunca. Vivia, no vídeo, uma espiã secreta se vingando de um ex-namorado - torturando-o sob vários disfarces. Faz alusões a Blade Runner, O Pecado Mora ao Lado e John Woo. Além disso, mostra Spears praticamente nua, coberta com diamantes.
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Votado em enquete virtual como o clipe mais sexy do mundo, teve consequências: depois do seio de Janet Jackson aparecer durante o show do Super Bowl e a CBS (dona da MTV) ser multada, clipes com “teores sexuais” saíram da rotina diurna do canal - e Britney só aparecia durante a noite.
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Os três “blinks” correm pelados por Los Angeles - chamando atenção de todos. Um plot bem básico, mas com bastante impacto - tanto na mídia quanto na vida real. Embora os meninos usassem sungas com a cor da pele, quem dirigia por ali no dia da gravação não sabia - e quase causaram acidentes.
O vídeo deu ao Blink-182 a fama de uma banda que tira a roupa para conseguir chamar a atenção - e demorou para desfazerem isso. Mesmo assim, continuou icônico. Tanto que recriaram a correria nua em “She’s Outta Her Mind” (2016), mas com garotas.
“Bye Bye Bye” estreou a década de 2000 em diversos aspecots. Lançado em 20 de janeiro daquele ano, foi um dos primeiros vídeos do milênio. O visual futurista de uma caixa de luz, os cabelos espetados (ou as luzes de Justin Timberlake), as roupas largas: tudo ali gritava nova fase.
O clipe teve orçamento de US$ 1 milhão - extremamente alto para a época. Valeu a pena. Os efeitos especiais (os garotos do ‘NSYNC como marionetes, a caixa girando, o trem em movimento) eram impecáveis.
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A coreografia, também, tornou-se icônica. Darrin Henson criou a rotina (e recebeu um VMA por ela) de modo que fosse bem característica da banda e “incopiável”. Até hoje, é eleita uma das mais memoráveis por veículos como VH1 e Billboard.
Esta música conta a história de várias crianças que cresceram juntas - apenas para se ver sem futuro (Jamie saiu da escola e teve filhos, Mark não tem emprego, Jay se suicidou, Brandon morreu com overdose). Foi uma reflexão do vocalista sobre a própria infância.
O clipe mostra essa evolução. Acontece inteiro dentro de uma sala de estar, que varia entre nova (com estilo anos 70) e detonada - e mostra diversas pessoas no centro, metamorfoseando - os personagens. Efeito impressionante (desenvolvido com rotoscopia).
De junho de 1993, o videoclipe de "Cryin'" apresentou a atriz Alicia Silverstone (depois, participaria também de "Amazing" e "Crazy"). Mostrava uma adolescente em um recém-termino, e a rebeldia da personagem. Muda de vida completamente, e faz um piercing no umbigo. Muita gente credita esse vídeo pela popularidade do acessório nos anos 1990. Ganhou três VMAs, incluindo Vídeo do Ano, além de ser o clipe mais pedido na MTV aquele ano.
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Lançada do disco Grave Dancers Union (1992), "Runaway Train" é uma música sobre depressão - mas o vídeo é sobre crianças desaparecidas. Tem diversas versões: para o Reino Unido, inicia-se com uma tela com os dizeres "100 mil jovens estão perdidos nas ruas". Nos EUA, o número é 1 milhão.
O vídeo é dividido em duas maneiras: uma delas, interpretação. Mostra três histórias paralelas de crianças perdidas: um menino fugindo depois de ver o avô matando a avó; um bebê sequestrado por uma mulher mais velha enquanto passeava com a mãe biológica; uma garota no início da adolescência se prostituindo, e depois sequestrada por uma gangue - é estuprada e espancada por eles, e depois vai para o hospital.
A outra parte do vídeo é parte real. Mostra fotos de crianças desaparecidas, nome completo delas, e ano em que sumiram. Tinha uma versão para o Reino Unido, uma para Austrália e três para os EUA - cada área do país via uma diferente, com fotos de desaparecidos daqueles estados. No final, Dave Pirner, vocalista, dizia: "Se você viu uma dessas crianças, ou é uma delas, por favor, ligue para [número na tela]."
O clipe de "Runaway Train" ajudou a solucionar 26 casos. Boa parte deles eram circustâncias problemáticas, ou as crianças estavam mortas. Uma das meninas desaparecidas dos EUA, por exemplo, foi morta pela mãe e enterrada no quintal, pois o pai pedia a guarda dela. Outras pessoas foram vítimas de serial killers. Em 2019, 10 pessoas mostradas no vídeo não tinham sido encontradas.
Kurt Cobain aparece como o líder de uma banda tocando em um evento estudantil, algo bem clássico nos EUA. Embora apáticos no começo, os estudantes transformam tudo em uma completa anarquia. Foi real: deixaram dezenas de jovens sentados ouvindo a mesma música o dia todo, e depois pediram para dançarem e quebrarem tudo. Foi o que fizeram.
O clipe recebeu dois VMAs, e em 2000 entrou no Guinness Book como o clipe mais rodado na MTV Europa. Além disso, foi descrito por um funcionário do canal como o vídeo que redefiniu a MTV e fez com que ela tivesse outro público. De fato, nada mais transicional dos anos 1980 para os 1990.
Tudo neste vídeo parece vanguardista. Na primeira cena, a câmera cai do céu, corre pelas ruas de um subúrbio, foca em uma criança (Macaulay Culkin), dentro do quarto, arrasando no air guitar. Leva uma bronca do pai, e responde com uma alusão a De Volta Para o Futuro, digna de mandá-lo, literalmente, para o espaço.
O homem aterrisa no meio da África, rodeado de leões de verdade, e uma tribo caçadora - e dançarina. Michael Jackson está lá! Então, mulher hindu, índios norte-americanas, uma indiana, russos, crianças de subúrbios… Todos dançando. A mensagem: “não importa se é preto ou branco.”
Tudo isso faria do clipe extraordinário. Mas a melhor parte vem depois: dezenas de pessoas de diferentes etnias cantam o refrão, metamorfoseando-se umas nas outras, em sequência. A técnica não era nova (Godley & Creme usou no clipe de “Cry” em 1985), mas “Black or White” a popularizou.
Este clipe estreou em 14 de novembro e 1991. Foi ao ar simultaneamente em 27 países, e obteve audiência de 500 milhões de pessoas, recorde no gênero. Teve diversos covers e homenagens ao longo de ano.
Esta faixa é a mais famosa do rapper. O clipe foi indicado em duas categorias do VMA. Mostra diversos jovens dançando - mas o mais interessante são os ângulos, recortes divertidos e efeitos de luz.
Foi bastante importante para a cultura do hip-hop, que começava a sair do subúrbio - e, mais importante, tirar a figura do negro da marginalidade. É um retrato da época e da cultura urbana do grupo.
Com uma Madonna atipicamente morena, “Like a Prayer” foi lançado no dia 23 de fevereiro de 1989 - e duramente criticado por Deus e o mundo… Ou quase isso: pelo Papa e pelo Vaticano.
O vídeo mostra Madonna como testemunha do assassinato de uma menina negra por supremacistas brancos - mas um homem negro é suspeito. Ela corre para a igreja buscando forças para desfazer o erro.
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A vibe (bastante) sexy, o beijo de um santo negro, e principalmente diversas cruzes em chamas fizeram a igreja reclamar - e Madonna perdeu milhões de patrocínio da Pepsi depois da marca sofrer boicote.
A-ha gravou duas versões para “Take On Me”. A primeira, de 1984, era bem simples, mostrava a banda em um fundo azul, tocando. Em 1985, venho a animação mais conhecida. As filmagens foram no icônico Kim's Café (hoje, Savoy Café). Quando o vídeo estava pronto, aconteceu a rotoscopia (técnica em que pegam cada frame de um vídeo e desenham por cima, criando um visual realista) em 3 mil takes.
O vídeo foi ovacionado. No VMAs de 1986, ganhou seis categorias. Foi indicado a dois AMA, também. A popularidade não diminuiu com os anos: Family Guy tem uma segunda versão oficial do clipe, e a Volkswagen, um comercial.
Não é exagero dizer que "Thriller" é o clipe mais icônico desta lista. Nele, Michael Jackson homenageia An American Werewolf in London, filme de terror com lobisomens de John Landis. Contratou o diretor pois adorou a ideia da transformação. Os efeitos especiais da produção eram os melhores possíveis, feitos por pessoas que atuavam na área do terror.
São vários os fatores que marcam o vídeo de Michael Jackson. No conteúdo, há, acima de tudo, a dança dos zumbis. O astro participou ativamente da criação da coreografia, ao lado do profissional Michael Peters. O objetivo era alcançar uma rotina que não fosse nada cômica - e vista como bem elaborada. Além disso, procurava elementos do jazz, para combinar com a música.
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A coreografia foi repetida muitas e muitas vezes em outras produções. De Repente 30 (2004), filme com Jennifer Garner, a popularizou para uma geração mais nova. Apareceu em animações, como Os Simpsons e South Park. Até Chiquititas, novela infantil, tem uma versão de "Thriller." Em uma vertente fora do mainstream, um vídeo com 1,5 mil prisioneiros performando a rotina tem 58 milhões de views no YouTube.
Outro aspecto bastante lembrado do clipe é o figurino de Michael Jackson - especificamente, a jaqueta vermelha. A peça é de Deborah Nadoolman Landis, responsável por diversas roupas icônicas - como o visual de Harrison Ford para Indiana Jones e o casaco-assinatura de John Belushi. Em 2011, uma das jaquetas que o astro usou no clipe foi leiolada - arrecadou $1.8 milhões.
O clipe de "Thriller" tem 649 milhões de views no YouTube. Foi considerado pela MTV, em 1999, o "melhor vídeo". VH1 e Time deram o mesmo título em 2001. Em 2010, uma enquete do MySpace elegeu como o vídeo mais influente de todos.
O single do Queen foi lançado, em 31 de outubro de 1975, acompanhado de um vídeo. Embora a estratégia seja popular hoje (quase unânime, talvez), não era tão comum antes. A banda ajudou a popularizar a tática.
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Assim como a música, o clipe de “Bohemian Rhapsody” tem várias fases. Intercala imagens de apresentação com takes da banda em um fundo escuro - ora silhuetas, ora os rostos dos músicos sombrios. As imagens se multiplicam, sobrepõe, giram - e ninguém esquece depois de assistir.
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