O Barão Vermelho em formação clássica: Maurício Barros, Frejat, Cazuza, Dé Palmeira e Guto Golffi. - Frederico Mendes

Os discos lançados por Cazuza são a prova do talento inato do músico

Em oito discos, jaz – sempre viva – uma obra exemplar, que segue como uma das mais importantes da música produzida no Brasil em todos os tempos

Mauro Ferreira Publicado em 07/07/2015, às 12h13 - Atualizado às 12h37

Foram somente três álbuns com o Barão Vermelho e cinco em carreira solo, em vida – oito discos, no total, lançados entre 1982 e 1989. Mas, embora feitos em uma carreira breve, nestes registros está o suprassumo de uma das mais fortes trilhas sonoras do Brasil ao longo da década de 1980.

As dores e as glórias de Cazuza, cuja poesia transcende a passagem do tempo 25 anos depois de sua morte.

O disco Barão Vermelho (Som Livre, 1982) mostrou de cara quem era Cazuza. Gravado em apenas quatro dias, durante 48 horas de estúdio, o trabalho apresentou um rock stoneano, cru, sujo, tecnicamente mal gravado. Porém, havia ali um jorro de juventude até então inédito no mercado da música nacional, com clássicos instantâneos do quilate de “Todo Amor Que Houver Nessa Vida” e “Down em Mim”, entre faixas de tom juvenil, como “Conto de Fadas”. “Dentro desse universo adolescente, essa música continua perfeita”, avalia Frejat, parceiro de Cazuza na composição da maioria do repertório desse disco seminal.

"Logo vi que ali dentro a homossexualidade não era um tabu", diz Ney Matogrosso sobre período na Aeronáutica.

Na sequência, Barão Vermelho 2 (Som Livre, 1983) deu maior polimento ao rock do grupo, sem perder a contundência poética das letras de Cazuza, como atestaram os versos de “Carente Profissional”. É o disco do hit “Pro Dia Nascer Feliz”, música que abriu as portas do sucesso para a banda, inclusive por ter sido gravada simultaneamente por Ney Matogrosso, cantor que namorava Cazuza e que estava no auge do sucesso.

Cazuza lutou febrilmente até o fim contra o vírus HIV.

Com o Barão Vermelho em evidência na mídia, Maior Abandonado (Som Livre, 1984) chegou às lojas. É um trabalho que versa sobre o universo da boemia e da fossa. Em termos de produção, há avanços em relação aos dois antecessores, até porque os “barões” e seu mentor, Ezequiel Neves, já tinham mais domínio da técnica e maior controle sobre os arranjos. Além da faixa-título, o repertório destacou “Bete Balanço”, segundo grande sucesso radiofônico do Barão Vermelho.

RS Brasil - Edição 87: Ney Matogrosso, um homem sexual.

Após a saída turbulenta da banda, Cazuza iniciou carreira solo com a edição, em 1985, do disco conhecido informalmente como Exagerado, nome da música explicitamente pop de Leoni, Ezequiel Neves e Cazuza que se tornou o sucesso do disco e que, desde então, passou a ser a mais perfeita tradução de seu intérprete. Cazuza (Som Livre, 1985), a obra, tem tom agressivo e trouxe no repertório a primeira parceria do artista com Lobão, “Mal Nenhum”, articulada na mesa de um bar do Baixo Leblon, e também a lírica “Codinome Beija-Flor”, indício do flerte progressivo de Cazuza com o universo da MPB.

Com o disco O Passo do Lui, lançado há 30 anos, o Paralamas do Sucesso iniciou uma trajetória destinada ao estrelato. Sem tempo para nostalgia, eles celebram a carreira de olho no futuro.

Gravado em 1986, mas lançado no ano seguinte, o segundo álbum solo dele, Só se For a Dois (PolyGram, 1987), explicitou já no título seu viés mais romântico, mas jamais açucarado. O hit foi a balada pop “O Nosso Amor a Gente Inventa”. Cazuza abriu parcerias sem diluir a força de seus versos cada vez mais existencialistas.

Com 30 anos de estrada, Barão Vermelho relança o primeiro disco e sai em turnê especial para celebrar a data.

O inventário emocional de sua odisseia humana está eternizado na obra-prima da discografia do artista, Ideologia (Poly- Gram, 1988). Trata-se do disco em que Cazuza tirou o foco de si próprio e radiografou o Brasil daqueles tempos sombrios, sem ideologia e com heróis mortos de overdose. “Brasil”, “Ideologia”, “Faz Parte do Meu Show” e “Blues da Piedade” foram alguns clássicos lançados aqui, rebobinados na sequência no álbum O Tempo Não Para – Cazuza ao Vivo (PolyGram, 1989), único registro de show da discografia solo de Cazuza.

Rolling Stones falam sobre os novos shows e o relançamento do clássico álbum Sticky Fingers.

A faixa-título, “O Tempo Não Para”, feita em 1987 com Arnaldo Brandão, já ganhara seu primeiro registro em 1988 pelo grupo Hanói Hanói, mas foi a gravação de Cazuza que projetou a canção e traduziu o momento turbulento pelo qual passavam o país e o artista. O tempo urgia. E, por isso, o duplo Burguesia (PolyGram, 1989) foi gravado e lançado ainda em 1989. Foi uma espécie de testamento de Cazuza, então já frágil, mas com uma poesia que mostrou força incomum em “Cobaias de Deus”, parceria com a colega de geração e loucuras Angela Ro Ro.

Nesses oito discos, jaz – sempre viva – uma obra exemplar, que segue como uma das mais importantes da música produzida no Brasil em todos os tempos.

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