- Série Os Eleitos (Foto: Reprodução)

Os Eleitos acompanha bastidores da corrida espacial norte-americana enquanto amarra nacionalismo à trilha sonora certeira [REVIEW]

Produzida por Leonardo DiCaprio, a série estreou no catálogo do Disney+ na última sexta, 5

Camilla Millan I @camillamillan Publicado em 06/02/2021, às 10h00

Parece ser apenas mais uma série norte-americana patriótica sobre o espaço - e não deixa de ser. Contudo, alguns elementos se destacam na produção. Seja o papel das mulheres da trama ou a trilha sonora certeira, Os Eleitos têm algo de diferente. 

A série de oito episódios do National Geographic foi produzida por Leonardo DiCaprio e estreou no Disney+ na sexta, 5. Ela apresenta aos espectadores a jornada percorrida por astronautas, cientistas e engenheiros norte-americanos até o espaço sideral - e a cada semana, mais um capítulo será lançado na plataforma de streaming.

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Era o ano de 1959, plena Guerra Fria, quando sete pilotos de testes dos Estados Unidos viraram celebridade do dia para a noite: eram os primeiros astronautas do Projeto Mercury, da NASA, que marcou o início de uma corrida espacial contra os soviéticos. 

Baseada no best-seller de Tom Wolfe, a série Os Eleitos acompanha a conhecida disputa espacial e científica dos Estados Unidos e União Soviética, assim como a batalha de egos entre os astronautas, que querem a todo custo ser o primeiro homem a ir ao espaço.

Estão no elenco Patrick J. Adams (Suits), Nora Zehetner (Grey's Anatomy), Jake McDorman (What We Do In The Shadows), Shannon Lucio (The OC), Colin O’Donoghue (Once Upon a Time), Eloise Mumford (50 Tons de Cinza) e outros. A produção executiva também conta com grandes nomes, como Leonardo DiCaprio, Jennifer Davisson e Mark Lafferty - e a direção é de Michael Hampton.

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No seriado, de 108 pilotos, 7 são escolhidos para fazer parte do programa da NASA após diversos testes físicos, psicológicos e de resistência. Entre os eleitos, estão o comandante John Glenn(Patrick J. Adams) e piloto da marinha Alan Shepard(Jake McDorman), que ganham relevância na narrativa enquanto protagonizam uma disputa hollywoodiana para se destacar.

Em meio a esse combate de egos para definir quem será o primeiro a ir ao espaço, a produção conta com momentos cômicos (e certamente dramatizados) da realidade por trás da fama dos pilotos, que se transformaram em verdadeiras celebridades. Considerados heróis nacionais, os astronautas protagonizam brigas, problemas familiares e outras questões pessoais no backstage.

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Nacionalismo e corrida espacial

Como a maioria de filmes norte-americanos que tratam sobre astronautas, o nacionalismo de Os Eleitos é notável. A série é uma representação fidedigna da época retratada, assim como de toda uma mentalidade norte-americana - e o patriotismo é uma das características.

Após a Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética entraram em um período de grande tensão. Com os aliados do Bloco Ocidental e Bloco Oriental, respectivamente, os Estados protagonizaram a disputa “capitalismo x socialismo”, monopolizando poderio militar, ideológico e político - e a corrida espacial foi uma característica importante desse período.

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Em busca de ganhar destaque e vantagem sob o adversário, a Guerra Fria impulsionou a corrida espacial - e as conquistas deveriam acontecer rapidamente. Os Eleitos mostra o objetivo norte-americano de levar o Homem ao espaço antes da União Soviética, e em um período de dois anos. 

Ao longo da série, esse esforço nacionalista e em oposição aos russos é repetido: “Se Rússia mandar o Homem ao espaço antes, perdemos a Guerra Fria”, diz um dos organizadores do Projeto Mercury no seriado.

Com o perigo iminente de um conflito destruidor, já que a produção de bombas atômicas estava a todo vapor na época, surgiu uma mobilização de sair na frente do adversário. Como o comandante John Glenn diz na produção, o programa da Nasa era “um esforço coletivo por Deus e pela liberdade”.


A força (e o pouco tempo) das mulheres na série

Longe de ser o foco da série, estão as esposas dos pilotos escolhidos pela NASA. As mulheres não são as principais na série, uma vez que os engenheiros, pilotos, astronautas e cientistas são todos homens - e brancos. Contudo, em alguns momentos da produção, personagens femininas mostram a força e importância delas para a história - tanto na ficção quanto na realidade.

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As esposas dos astronautas, mesmo assediadas pela imprensa e longe dos maridos, se apresentam como a base sólida para que a família continue erguida - e elas certamente deveriam ter mais tempo de tela. 

Com personalidades distintas e fortes, cada esposa tem uma forma diferente de lidar com a corrida espacial e como ela afeta a família. Em alguns momentos, em curtos aprofundamentos nos sentimentos de cada personagem, o espectador consegue entender a diferença entre aparência e realidade.

Muitas esposas, na frente dos repórteres, podem parecer plenamente felizes, mas em alguns diálogos e outras cenas curtas, mostram toda a angústia e tristeza de viver uma situação tão incerta quanto à ida do Homem ao espaço. “A única forma de passar por isso é sorrindo,” diz uma das personagens.

Com testes de lançamento dando errado e a necessidade de ficarem semanas separadas, as famílias são uma importante parte da série - e as mulheres aumentam de relevância (mesmo que de forma pequena) ao longo dos episódios.

Uma das personagens que merece destaque é Trudy Cooper (Eloise Mumford), esposa do astronauta Gordon. Também com uma carreira de pilota, Trudy tem uma forte personalidade, e não quer apenas satisfazer o marido, mas construir a própria felicidade. O único problema da narrativa é não dar mais espaço e profundidade para a história da personagem.


Trilha Sonora

Em meio às polêmicas, ao marketing da NASA para conseguir investimento e aos problemas familiares, a série apresenta uma trilha sonora certeira. Mesmo que muito literal, as letras das músicas no seriado encaixam nos acontecimentos dramáticos e cômicos - e tem até canção brasileira na produção.

“A Banda”, de Chico Buarque, é a trilha sonora do momento de lazer dos astronautas após chegarem na Flórida e irem se hospedar em um hotel com piscina e (muita) bebida - e o encaixe é preciso. Os 7 escolhidos se divertem no local enquanto Chico canta: “Estava à toa na vida/ O meu amor me chamou/ Pra ver a banda passar/ Cantando coisas de amor”.

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Contudo, há outros momentos nos quais a música é precisa na narrativa. Apesar de ser um dos  melhores pilotos da Marinha norte-americana, Alan Shepard é a representação de um galã festeiro e inconsequente. Enquanto ele quer aproveitar a fama e ganhar atenção para si, o piloto protagoniza momentos de luxúria e vaidade acompanhados brilhantemente pelas músicas. 

Quando o piloto vê a oportunidade de comprar um carro luxuoso “Money (That's what I want)”, de Barrett Strong, tem a letra certa: “As melhores coisas na vida são de graça/ Mas você pode dar elas para os pássaros e abelhas/ Eu preciso de dinheiro (é o que eu quero)”.

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Além disso, em um momento mais introspectivo, quando a série mostra fotos e memórias do comandante John Glenn, a faixa “Beyond The Sea”, de Bobby Darin, encaixa com perfeição: “Em algum lugar além do mar/ Em algum lugar esperando por mim (...) É muito além das estrelas/ É perto além da lua.”

Se você gosta de temas espaciais, presta atenção na trilha sonora e não se importa com a repetição do "espírito patriótico norte-americano", Os Eleitos é a escolha certa. A produção faz um bom papel de adaptar o livro de Tom Wolfe para o streaming e retratar acontecimentos reais de uma época. Contudo, as falhas ainda existem - principalmente a notável falta de representatividade étnica.

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+++ PAI EM DOBRO | ENTREVISTA | ROLLING STONE BRASIL

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