FLUTUANDO Bullock e Clooney em cena de Gravidade -

Oscar 2014: por dentro da magia de Gravidade, um dos favoritos da edição 2014 da premiação

Alfonso Cuarón queria algo o mais simples possível e passou quatro anos aperfeiçoando os detalhes técnicos

Logan Hill Publicado em 02/03/2014, às 16h00 - Atualizado às 16h12

James Cameron disse que “esse é o melhor filme já feito”. O inovador espetáculo espacial Gravidade, estrelado por Sandra Bullock e George Clooney, mostra uma engenheira e um astronauta que tentam sobreviver na gravidade zero depois que o ônibus espacial deles é destruído por escombros. É uma imaginação vertiginosa de como deve ser a sensação de quase morrer acima da Terra, enquanto acaba seu oxigênio e estilhaços em alta velocidade ameaçam perfurar o seu rosto.

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O filme é como um filho concebido por Alfonso Cuarón, diretor de E Sua Mãe Também e Filhos da Esperança. “Sempre fui um cara muito que lida pouco com tecnologia”, diz Cuarón. “Comprei meu primeiro computador há tipo cinco anos”.

Essa ignorância talvez tenha sido a grande vantagem para o cineasta de 51 anos: quando ele começou a trabalhar no filme, em 2009, ele não sabia o que não era possível. “Passamos um mês delicioso escrevendo o roteiro”, diz o filho de 30 anos de Cuarón, Jonas. “Muito do que nos impulsionava era: ‘vamos fazer algo simples, apenas dois personagens no espaço, sem figurantes. Será muito fácil.’ Quatro anos e meio depois...”

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Em Gravidade, Cuarón usa imagens realistas, em constante movimento, que parecem se estender para sempre. Foram meses de tentativa e erro para alcançar a sensação de desorientação e embrulho que o filme passa. Trabalhando ao lado de seu diretor de fotografia de longa data, Emmanuel “Chivo” Lubezki, Cuarón explorou tanques submersos, espelhos, Chroma-key, entre outras técnicas. “Tentamos até mesmo o Cometa Vômito”, conta ele, fazendo referência ao jato de altitude elevada usado para simular a gravidade zero em Apollo 13. “O dublê vomitou. E ficou todo ‘me tire daqui!’ Foi tudo terrível.”

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Lubezki acabou tentando a ideia de movimentar as luzes em volta de um ator parado, o que faria com que o ator estava se mexendo; o fundo poderia ser finalizado na pós-produção. O único problema é que a iluminação era um equipamento enorme e colocá-la para se movimentar rápido o suficiente era perigoso e desajeitado. Finalmente, o time inventou um aparato de luz enorme, chamado de “a gaiola”, composto de seis painéis enormes de LED em volta dos atores, que ficaram amarrados a um arreio. Os pixels do LED poderiam simular a luz emanada pelas estrelas em movimento e os escombros em cascata, iluminando os atores de forma que desse a impressão de que eles estavam girando pelo espaço.

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Cuarón também teve a ajuda de autômatos. “Estávamos desenvolvendo essa tecnologia com os robôs que eles usam para construir carros”, diz. Eles instalaram uma câmera em um robô programável de duas toneladas que a equipe batizou de Iris. Iris corria paralelamente à “gaiola” e entrava em espaços posicionados estrategicamente para criar uma câmera em movimentos que podia girar 360 graus. “A intenção era que o público fosse um terceiro personagem no espaço com os nossos heróis”, conta Cuarón.

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Para que isso funcionasse, Cuarón e equipe tiveram que coreografar e programar cada coisa com antecedência - as telas de LED, Iris e mais dois robôs que simulavam a luz da Terra e do sol. De certa maneira, o filme todo já estava feito antes do primeiro dia no set. “Você está inventando tecnologia e não sabe se vai funcionar. Uma noite antes de filmar, não funcionou. No dia que começamos, funcionou.”

“Foi assustador”, diz o produtor David Heyman. “Porque se o robô de duas toneladas que está indo da direção de um ator não parar – bem, não é um fim muito bonito.”

Depois de tudo isso, teve a gravação do tanque submerso que se tornou um dos dias mais assustadores. “Eu tinha que sair da roupa espacial embaixo d’água e comecei a entrar em pânico porque não conseguia tirá-lo rápido o suficiente”, diz Bullock. “Os mergulhadores de resgate estavam longe, porque era um shot amplo e pareceu que passaram minutos antes de eles chegarem até mim.”

Bullock é o personagem centrar do filme, apesar de Cuarón afirmar que deveria haver um grande ator para estrelar o longa. “E eu insisti que tinha que ser uma mulher. Queríamos passar bem longe do heroísmo macho” (apesar de que Cuarón admite que Bullock foi mais macha do que ele: “Sandy dizia que a personagem não deveria gritar e eu disse: ‘Sandra, eu gritaria se estivesse lá dentro’. Ela respondeu: ‘Sim, mas você é um medroso’.”)

Crítica - Gravidade, de Alfonso Cuarón, proporciona 90 minutos de agonia - e isso é ótimo.

“Pobre Sandra, ela ficou sozinha naquela caixa”, diz Cuarón. “Toda a comunicação acontecia por meio de fones de ouvido na roupa dela. Ela ficava a 15 minutos da gente e a comunicação era por meio de rádio, como se eu fosse Houston e ela fosse uma astronauta.”

Uma vez que o cubo tinha sido fechado, levava 25 minutos para abri-lo novamente, de forma que Bullock escolhia ficar lá dentro, isolada por até 11 horas por dia. Para mantê-la animada durante os dias de minúsculas calibragens técnicas e problemas de computador, Cuarón criou uma playlist atmosférica para os fones de ouvido dela e se divertiu, surpreendendo a atriz de vez em quando ao colocar imagens do filho dela nas telas de LED.

O resultado final é uma coisa muito rara: um filme totalmente tecnológico que realmente é digna da hipérbole construída e que justifica o aumento no preço de ingresso para ver em 3D. Cuarón diz que tudo isso veio dos sonhos com o programa espacial de quando era criança, nos anos 60. “Eu ia dormir tarde ou acordava cedo para ver os foguetes sendo lançados”, ele diz. “Eu fingia que esses caras estavam em um pequeno casulo, sozinhos, cercados de nada por todos os lados. Eu tinha minha cápsula de plástico, um brinquedo vagabundo, e tinha uma luz dentro. Eu brincava com ele à noite, com as luzes apagadas”, relembra. “Havia algo tão frágil e desafiador. E era tão empolgante.”

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