<b>Talento Precoce</b><br> Emma protagoniza <i>La La Land</i>, um dos favoritos ao Oscar, ao lado de Ryan Gosling - Dalle Robinette/Lionsgate

Oscar 2017: Em defesa de La La Land - Cantando Estações

Filme vencedor de seis prêmios Oscar recicla formas de arte do passado e ganhou o coração dos que estão “fora de moda”

Paulo Cavalcanti Publicado em 27/02/2017, às 02h18 - Atualizado às 02h21

Na noite deste domingo, 26,La La Land - Cantando Estações foi o grande vencedor da noite no Oscar 2017, levando ao todo 6 estatuetas das 14 às quais concorreu. O longa acabou perdendo o prêmio de Melhor Filme (apesar de ter sido anunciado como vencedor erroneamente), mas ainda assim ficou com muitas estatuetas. A internet e redes sociais estão repletas de comentários, críticas e piadas sobre o fato de La La Land ter obtido êxito em tantas categorias e em cima de filmes considerados mais “sérios” e relevantes. La La Land estreou nos Estados Unidos em dezembro do ano passado de forma despretensiosa e, graças ao boca a boca, despertou a curiosidade de muita gente, que pagou para ver.

Naturalmente, de tempos em tempos, Hollywood permite se autocelebrar. Esteticamente e estilisticamente, La La Land é um tributo ao cinema do passado. Emocionalmente, contudo, o longa tem os pés fincados no presente, usando música e fantasia para comentar desilusões ou sonhos não concretizados. Como mera experiência cinematográfica, ele é superior aos outros. Não é teatro filmado ou programa de televisão transposto para a tela grande.

O filme é adequado à era dos amadores. No quesito dança, Ryan Gosling e Emma Stone, a dupla principal do filme, têm o calibre de participantes do reality Dancing with the Stars. Cantam como se estivessem fazendo teste para participar de uma encenação ginasial de Rent ou Godspell. Mas essa falta de virtuosismo, essa sinceridade e naturalidade, foram justamente os fatores que pegaram o público. La La Land ganhou pernas, o que é muito saudável. Agora, os fãs do filme organizam vários flash mob e imitam os números musicais de forma amadora no YouTube.

O sucesso de La La Land tem também a ver com pessoas que não estão nos nichos vigentes. Os dois motes principais do longa são o cinema musical e o jazz, formas de arte que já foram muito populares, mas agora são vistas como peças de museu. O culto se encontra nas mãos de poucos estudiosos e nostálgicos. As mudanças de costume e de gostos tornaram estes estilos ultrapassados e comercialmente inviáveis, pelo menos em uma grande escala.

É interessante notar que os filmes concorrentes este ano foram todos “trabalhos de amor”, projetos pessoais relativamente baratos, que ficaram longe dos milhões de dólares que os grandes estúdios geralmente gastam nos blockbusters. E ninguém poderia saber que o diretor Damien Chazelle, com apenas 32 anos, fosse tão versado nestas relíquias culturais pré-rock and roll e que quisesse, de alguma forma, mostrar isso para todo o mundo. Ele fez o trabalho de casa direitinho. La La Land é uma homenagem sem um pingo de cinismo; não é pós-moderno ou procura “desconstruir” o amado estilo cinematográfico. Os personagens Mia (Emma) e Sebastian (Gosling) servem como alter ego do cineasta. São jovens/velhos com interesses e posturas que não condizem com o que rege a vida cultural das pessoas normais. Tem um monte de gente por aí assim, só que não sem voz no mainstream – La La Land apontou para esse lado.

Em 2009, Quem Quer Ser um Milionário?, longa britânico com ação na Índia, venceu na categoria de Melhor Filme e alguns pensaram que havia chegado a era do cinema focado no terceiro mundo. Não aconteceu. Em 2011, O Artista, um filme mudo em preto e branco (também um produto autorreferente da indústria cinematográfica), foi o vencedor, mas ninguém mais se interessou em fazer mais filmes nesta linha, digamos, exótica. Foi considerado uma curiosidade, apenas isso. Seguindo esta filosofia, não vai ter mais nada como La La Land pela frente, pelo menos não tão cedo.

Sinceramente, o melhor do sucesso de La La Land é que ele atiçou a curiosidade de um público que tinha preconceito com musicais; irritou os puristas, que acham que “bom mesmo era no tempo do Fred Astaire, Gene Kelly e Debbie Reynolds", e provocou a ira dos chatos de sempre. A principal virtude de La La Land - Cantando Estações é que ele é retro sem ser hipster. Nada como estar fora de moda.

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