Filme de Maite Alberdi faz crítica ao abandono de idosos e marca primeira indicação chilena à categoria
Gabriela Piva (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 18/04/2021, às 12h00
Agente Duplo (2020), indicado como Melhor Documentário de Longa-Metragem no Oscar 2021, é o primeiro filme chileno a concorrer na categoria. A história acompanha Sergio, um espião contratado por uma empresa para saber se existem idosos maltratados em um asilo.
Para espiar o lar e passar despercebido, os moradores acreditam participar apenas de um documentário. Não suspeitam do paradeiro do agente - pelo contrário, fortalecem o vínculo com ele como se fosse um amigo.
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Um assunto silenciado, Agente Duplo veio de uma pequena produção feminina para dar voz a algo pouco discutido: a solidão e o abandono na velhice. Outras críticas, como o uso da tecnologia, também são sutilmente apresentadas na obra.
Em um gênero difícil de enquadrar, o documentário cômico de Maite Alberdi brinca com a linguagem ao usar um toque de filme noir. A proposta chega a colocar o estilo do filme em dúvida. (Existe a dúvida se o enredo é real ou fictício).
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A fotografia, o enquadramento e a luminosidade, por exemplo, diferem de uma denúncia cinematográfica típica. Por isso, confira outros motivos para assistir Agente Duplo:
A proposta de Alberdi cambaleia entre um documentário e uma narrativa. Os usos distintos para luz, enquadramento e fotografia interferem na linguagem de Agente Duplo - em determinados momentos, aproxima-se de métodos usados em filmes ficcionais, e deixa de lado os artifícios de documentário.
O roteiro, um pouco lento e emotivo, simboliza a chegada à terceira idade, quando a perda de energia é iminente - principalmente para asilados. A aposta de um espião em um lar de idosos também é novidade.
Porém, a história é muito bem contada e desenvolvida. A apresentação dos personagens, do asilo e de Sergio satisfazem o telespectador por mergulhar com certa profundidade nos anseios de cada um. (Como, por exemplo, a senhora apaixonada pelo protagonista).
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A fotografia é um tanto única para um documentário. Por exemplo, quando Sergio está em um escritório para ser contratado por uma empresa, existe uma brincadeira com as persianas e a luz - uma imagem incomum para o gênero.
Em determinado momento no início, a bandeira do Chile é bem posicionada no canto de uma cena. O destaque da fotografia parece acontecer para enfatizar o esquecimento da população idosa.
Agente Duplo também utiliza aparelhagem de espionagem. Sergio usa óculos com câmera, e mostra os bastidores da obra.
Os principais pontos do filme são questões sociais. No início, ao exibirem idosos usando a tecnologia, fazem sutil crítica sobre como a vida cotidiana parece mais fácil com o uso aparelhos, mas também como as novas ferramentas excluem quem não está acostumado com elas - geralmente, os mais velhos.
No decorrer da obra, percebe-se o maior foco da crítica: o abandono e a solidão dos idosos. Alguns personagens, inclusive, são exemplo perfeito: não recebem visitas dos familiares nos asilos - são mães, avós, pais, tios e tias esquecidos pelos próprios parentes.
Ao El País, a diretora explicou porque escolher detetives para falar sobre o apagamento dos idosos na sociedade: “[É] uma desculpa para ver um assunto que, [de maneira diferente], talvez ninguém visse.”
Além de ser a primeira indicação chilena na categoria de Melhor Documentário de Longa-Metragem no Oscar 2021, a maior parte da equipe era de mulheres.
“É uma honra estar entre os pré-selecionados, com uma gama tão incrível de documentários, e estamos realmente agradecidos à Academia por nos escolher. Para uma equipe latino-americana dirigida por mulheres, esse tipo de sonho parece impossível,” disse Alberdi ao El País antes das indicações oficiais ao prêmio.
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O Oscar 2021, inclusive, apostou em um catálogo diverso de filmes. Na mesma categoria disputam Crip Cramp (2020), sobre jovens com deficiência motiva; Professor Polvo (2020), sobre a amizade entre um homem e um polvo; e Time (2020), sobre a liberdade de um homem preso há mais de 60 anos por roubo à mão armada.
Agente Duplo não poderia ficar de fora. Com uma linguagem cômica, mas delicada, apresenta o bom trabalho de uma pequena produção, assim como a invisibilidade dos idosos no Ocidente.
O filme está disponível no Globoplay.
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