Longa chinês retrata dificuldades de uma jovem vítima de bullying em um ambiente escolar de pressão extrema
Marina Sakai (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 27/04/2021, às 20h08
“Disciplina, trabalho duro, nenhum arrependimento” são os dizeres pendurados nas paredes de uma escola preparatória para o Gaokao, prova chinesa similar ao vestibular. Quem passou por um teste no fim do Ensino Médio, conhece a pressão. Na China, as exigências são extremas e a competitividade máxima é pré-requisito. Esse é o clima de Better Days (2019), filme de Kwok Cheung Tsang indicado ao Oscar 2021 como Melhor Filme Internacional.
Na década de 2020, filmes asiáticos ganharam mais reconhecimento no Oscar. Parasita, de Bong Joon Ho, levou o prêmio de Melhor Filme em 2020 e Minari, de Lee Isaac Chung, concorre à mesma categoria em 2021.
Apesar de ter vindo do outro lado do mundo, Better Days fala de assuntos globais. É profundo, sensível e de partir o coração. Veja cinco motivos para assisti-lo:
A atriz de 29 anos ganhou reconhecimento em A Árvore do Amor (2010), do diretor Zhang Yimou. Interpreta Chen Nian, a protagonista, em uma performance desesperadora, sensível e visceral de uma vítima de um bullying cruel. A mãe da estudante é vendedora de cosméticos ilegais e nunca está em casa. Chen Nian lida com as pressões da escola e as agressões — físicas e verbais — sozinha.
Desenvolve-se ao longo do filme, precisa amadurecer muito antes de outras meninas de sua idade. O fato de Zhou ter quase 30 anos e viver alguém do Ensino Médio, nesse caso, é positivo. Traz a profundidade e bagagem de um adulto para a mente da garota. A performance é elétrica, real e provoca imensa empatia em quem assiste.
Uma das frases mais impactantes de Chen Nian é: “Amigos não são necessários aqui [na escola].” O abuso é retratado de forma diferente de muitos outros filmes. É brutal, violento, sem nenhum filtro. O longa começa com o suicídio de uma das meninas da escola, Hu Xiaodie (Yifan Zhang), quem não aguenta a pressão de passar na prova de conclusão e, em cima disso, o bullying.
O acontecimento impacta muito Chen Nian, quem, após cobrir o corpo da menina morta com um casaco, torna-se o próximo alvo das meninas malvadas. A partir de então, não consegue passar um dia sem tormento, perseguição após a aula ou agressão nos corredores. Também pela performance de Zhou Dongyu, sentimos profundamente como é ser alvo de adolescentes más.
Better Days é desses filmes para não ficar confortável em nenhum momento. As cenas de agressão e a atuação de todos os envolvidos — desde a tristeza de Chen Nian à frieza de Wei Lai (Zhou Ye), a líder das abusadoras — são angustiantes e provocadoras.
O longa questiona o sistema de ordem e rigidez escolar encorajado na China. É uma mensagem necessária para um país onde essa estratégia Darwiniana de seleção natural do “mais forte” ainda prevalece.
A situação de Chen Nian começa a melhorar (mas nem tanto assim) quando conhece o jovem delinquente Xiao Bei (Jackson Yee). Desenvolvem um relacionamento sutil de proteção e confiança e, quase sem perceber, romance. Solidarizam-se um com o outro e, apenas nesses momentos de intimidade, são vulneráveis.
A primeira cena do filme mostra Chen Nian adulta, professora de inglês em uma escola. Escapou dos demônios do passado e voltou justamente ao lugar que a assombrou, verdadeiro sinal de superação. Muito disso se deve à relação com Xiao Bei, primeiro amigo de verdade.
O filme é bastante silencioso, especialmente no começo, quando Chen Nian não tem com quem conversar. As únicas brechas são as cenas de intensa violência. Apesar de ser ambientado em uma cidade ocupada, a estética é cinzenta e amarelada, chuvosa e com pouca vida durante o dia. De noite, quando a protagonista está com Xiao Bei as cores se tornam vivas e a cidade também. O clima do longa reflete e dialoga com a vida de Nian em diferentes momentos.
+++LEIA MAIS: Oscar 2021: quem tem mais chance de ganhar as principais categorias da noite?
ATENÇÃO: Aqui no Brasil, o CVV – Centro de Valorização da Vida realiza gratuitamente apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo todas as pessoas que querem e precisam conversar. Contato disponível pelo telefone 188 ou por meios online (e-mail, chat, Skype) com dados disponíveis no site https://www.cvv.org.br/
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