História de amizade entre homem e polvo impressiona com a fotografia e comove com reflexões sobre a fragilidade da vida
Marina Sakai (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 10/05/2021, às 15h19
Na floresta de algas do fundo do mar no Cabo da Boa Esperança, no litoral da África do Sul, Craig Foster encontrou amizade e autoconhecimento com um animal invertebrado. Professor Polvo (2020) é uma história comovente e curiosa de conexão entre duas espécies. O longa da Netflix venceu dois Critics Choice Documentary Awards e levou a estatueta de Melhor Documentário de Longa-Metragem no Oscar 2021.
Craig Foster é um cineasta sul-africano quem, depois de muito trabalhar, sentiu-se desconectado da própria família e da natureza. Apaixonado pelo mar — Foster cresceu nas ondas do litoral sul do continente —, decidiu começar a mergulhar todos os dias, mas não esperava desenvolver o relacionamento inusitado.
Depois da vitória no Oscar, separamos cinco motivos para assistir Professor Polvo:
Professor Polvo se passa majoritariamente dentro da água, então é fácil imaginar a beleza das paisagens marítimas do filme. Corais, águas vivas, tubarões, moluscos e as águas azuis da costa da África do Sul são motivo suficiente para assistir ao longa.
Muito foi filmado pela lente e pelos olhos de Foster enquanto experienciou o ambiente, então, todos os momentos importantes da história foram capturados.
A sinopse diz: Foster e o polvo se tornam amigos. Mas, mesmo assim, não deixa de ser impressionante. O público não espera, necessariamente, abraços, contato físico e brincadeiras entre homem e polvo, mas o invertebrado vira a estrela do filme e, por algum tempo, da vida do cineasta.
É uma história de confiança com altos e baixos — além de momentos de quebra dessa segurança, comuns em qualquer amizade —, mas realmente formam um vínculo profundo.
Você provavelmente sairá dessa experiência com algum conhecimento extra sobre polvos. O filme não foca na biologia, mas não deixa de chamar a atenção para os aspectos mais importantes do animal.
São considerados os bichos mais parecidos com alienígenas na Terra, de acordo com estudioso e filósofo Peter Godfrey-Smith. Mas, aos olhos de Foster, também são muito parecidos com seres humanos. Além de se camuflar para fugir de predadores, mudam facilmente de forma e conseguem até caminhar sobre duas “pernas,” ou tentáculos.
Além disso, os mesmos tentáculos comandam o sistema nervoso e as ventosas enviam sinais diretamente para o cérebro. Esses são apenas alguns dos conhecimentos adquiridos depois de assistir Professor Polvo.
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A estrutura do documentário também tem alguns detalhes simbólicos, quase imperceptíveis mas, quando notados, elevam a experiência.
Nas primeiras cenas, por exemplo, Foster fala sobre como se sentia desconectado da natureza e, de maneira geral, da própria vida. Foi ao Deserto do Kalahari e conheceu um grupo de rastreadores/caçadores completamente imersos na natureza.
James Reed e Pippa Ehrlich, diretores de Professor Polvo, retrataram os rastreadores e Foster de maneiras claramente distintas. Os nativos, a partir de seus olhos e o cineasta, através da lente da própria câmera. Mostra a tal desconexão sentida na época e narrada por ele.
Logo após a cena, Foster decide mudar a relação com a natureza, tornar-se mais parecido com os caçadores. Segundo ele, precisava se aprofundar. Nessa hora, joga água na cabeça, como se estivesse, literalmente, pulando no mar.
A vida no mar não é como a nossa. Existem riscos, imprevisibilidades e, claro, predadores; todos os dias, o pequeno animal se arrisca para caçar e depende apenas das técnicas de camuflagem. Sem entregar muito da história entre Foster e o polvo, a dupla passa por dificuldades, todas narradas pelo cineasta. A conexão entre público e polvo também aumenta ao longo de Professor Polvo e, ao final, é difícil não se emocionar.
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