O filme de Lee Isaac Chung mostra a busca pelo “sonho americano” com uma narrativa afetuosa e performances dignas de Oscar
Vitória Campos (sob supervisão de Yolanda Reis)
Publicado em 15/04/2021, às 18h31Dirigido e escrito por Lee Isaac Chung, Minari (2020) consegue mostrar de forma afetuosa como a busca pelo “sonho americano” e as dificuldades de se adaptar a uma nova cultura podem ser grandes desafios, mas aposta na família e no amor como solução.
O ponto alto da produção sobre imigrantes coreanos em uma fazenda no Arkansas, EUA, são as relações familiares, principalmente de David (Alan Kim) com a avó Soonja (Yuh-Jung Youn).
Ela vem diretamente da Coreia para ajudar a cuidar dos netos durante uma fase de adaptação, e acaba causando espanto em David. A maneira de estranhamento na qual os personagens são apresentados é responsável pelas melhores cenas do filme e, também, as mais emocionantes.
A relação dos dois é ambígua, pois, por mais realistas que sejam os momentos entre a avó e o neto, Soonja também quebra as expectativas por não ser o estereótipo de avó. Não, ela não gosta de costurar e fazer bolo, mas ama assistir luta livre. Contudo, também tem as próprias tradições daterra natal. Conseguimos perceber lentamente o crescimento do carinho e a intimidade entre os personagens nos momentos de adaptação aos costumes do novo país.
Soonja é um alívio cômico no filme. No entanto, também é responsável pelos momentos mais dramáticos. Com a construção de diversas camadas da personagem, Yuh-Jung Youn mostra a razão de ser indicada ao Oscar como Melhor Atriz Coadjuvante.
A relação não seria a mesma sem David. O personagem possui uma doença no coração, e pode ser comparado ao órgão principal da família, pois é o principal foco da narrativa de Minari.
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Alan Kim mostra o potencial para atuação desde pequeno e torna-se o destaque do filme. Traz uma sutileza necessária e sabe transitar entre a leveza e o drama rapidamente. Seja pelos olhos puxados herdados da Coreia do Sul, ou pelos costumes da família, com David conseguimos notar as dificuldades de ser imigrante. Ele tenta ser 100% norte-americano para se enturmar e se sentir em casa. Mas demora para perceber como, na verdade, não apagamos totalmente nossas raízes.
Mesmo com ritmo um pouco lento a partir do segundo ato, Minari consegue desenvolver muito bem quase todos os personagens. Os pais, Jacob (Steve Yeun) e Monica (Han Ye-ri), mostram o lado afetuoso da família, tentando proteger os filhos dos desafios financeiros, emocionais e até mesmo sociais na nova terra.
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O casal discorda em vários aspectos, mas as discussões são bem humanas e reais, e mostram como nenhum perde a razão ao explicar o ponto de vista. Apenas a filha Anne (Noel Cho), tem o arco deixado um pouco de lado conforme o filme flui.
A busca pelo “sonho americano” não é fácil, mas o diretor não pretende torná-la um problema insuperável. Adaptar-se a uma nova cultura e nova língua são grandes desafios, porém, tornam-se pequenos quando comparados à força de uma família unida.
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Lee Isaac Chung demonstra dominar a história que quer contar, pois o próprio diretor viveu esses momentos. Quase uma cinebiografia, o filme se resume ao próprio nome: Minari, erva conhecida por crescer onde outras espécies têm dificuldade. É trazida por Soonja da Coreia e acaba refletindo exatamente a situação do diretor e da família durante a trama.
A fotografia engrandece a natureza e a trilha sonora dá um tom sereno. Não possui muitas cenas de aventura ou grandes acontecimentos, mas se torna belíssimo nos detalhes. Com seis indicações ao Oscar 2021 e produzido pela A24, o filme é positivo ao nos levar a crer na importância de manter nossas raízes vivas e lutar ao lado de quem amamos. Minari é sobre crescer em um solo diferente, mas, mesmo assim, florescer.
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