Declarações na cerimônia mostraram que condenação de ex-policial pelo assassinato de George Floyd é apenas uma vitória: muito ainda precisa acontecer
Camilla Millan Publicado em 26/04/2021, às 16h47
O Oscar 2021 aconteceu no domingo, 25. Pela primeira vez, a Estação Central de Los Angeles deu lugar à cerimônia intimista, com menos convidados e mais dinâmica. Contudo, o verdadeiro destaque do evento foram os discursos potentes sobre injustiça racial e violência.
A premiação reflete o cenário atual da sociedade, que se encontra em ebulição. Na terça, 20 de abril, o ex-policial Derek Chauvin foi condenado pelo assassinato de George Floyd, mas a luta por justiça está longe de acabar.
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Com milhares de negros mortos por oficiais da lei, questiona-se para quem a legislação foi feita - e se a arte imita a vida, o Oscar 2021 não deixaria de protagonizar importantes falas sobre racismo, injustiça racial e desigualdade.
Regina King, vencedora do Oscar 2019 como Melhor Atriz Coadjuvante, abriu a cerimônia com uma fala que pautaria evento. Logo no início, a artista abordou o julgamento de Derek Chauvin:
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“Lamentamos a morte de muitos e, para ser honesta, se as coisas tivessem acontecido de forma diferente [no tribunal], trocaria meus saltos altos de hoje por uma bota para marchar. Agora, eu sei que muitos estão nos assistindo para ver alguém de Hollywood falando sobre vocês, mas como mãe de um filho negro, eu conheço o medo que muitos sentem. Não há fama ou fortuna que mude isso,” disse a cantora.
Esse foi o começo de uma cerimônia marcada pela busca por justiça racial. A Academia, historicamente racista e sem representatividade, foi tomada por vozes potentes em busca de justiça - e a lista de indicados e vencedores tem grande valor.
Um dos ganhadores da premiação foi o curta Dois Estranhos. Com uma abordagem inovadora, a produção acompanha a cruel chacina que mata negros todos os dias nos EUA. Em 30 minutos, a produção dá uma aula - e, em ainda menos tempo, o co-diretor Travon Free lembrou que a violência policial continua:
“Hoje a polícia vai matar três pessoas. Amanhã a polícia vai matar três pessoas (...) em média, a polícia nos Estados Unidos mata três pessoas diariamente, o que equivale a cerca de mil por ano. E essas pessoas são desproporcionalmente negras,” disse ao receber a estatueta de Melhor Curta-Metragem da noite.
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O cineasta, que também homenageou as vítimas do racismo nos EUA na parte interna do blazer, continuou: “A coisa mais desprezível que uma pessoa pode ser é indiferente à dor de outras pessoas. Só peço por favor que você não seja indiferente. Por favor, não seja indiferente à nossa dor.”
Ator, cineasta, produtor e filantropo, Tyler Perry protagonizou uma fala importante sobre intolerância ao receber o Prêmio Humanitário Jean Hersholt: “Não odeie ninguém. Eu me recuso a odiar alguém porque eles são mexicanos, negros, brancos ou LGBTQ.(...) Quero receber este prêmio humanitário e dedicá-lo a qualquer pessoa que queira ficar no meio. Porque é aí que a cura, a conversa, a mudança acontece. Acontece no meio.”
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Ganhadora do Oscar de canção por "Fight For You" (Judas e o Messias Negro), H.E.R. também teve uma fala importante. A artista, que foi a segunda mulher negra a receber esse prêmio, disse: "Temos a oportunidade e a responsabilidade de falar a verdade e escrever a história como ela realmente foi."
O filme acompanha Fred Hampton, líder dos Panteras Negras, e a história de traição que levou ao assassinato do jovem ativista. A produção fala sobre o passado, mas se faz atual, assim como os diversos discursos do Oscar 2021.
Os protestos pelo assassinato de George Floyd levaram a reflexões dos mais diversos âmbitos: da polícia e justiça à arte. Contudo, a morte de negros não é recente, e muito menos irá acabar. Por isso, espera-se que a cerimônia continue sendo mergulhada em importantes discussões - e que a representatividade se torne regra, não exceção.
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