Cineasta mistura realidade e ficção em histórias cruas e comoventes
Marina Sakai (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 29/04/2021, às 18h33
Chloé Zhao fala de pessoas e vidas reais. É conhecida por misturar ficção e documentáriopara criar narrativas desencantadas, cruas e envolventes em seus filmes; retrata a identidade norte-americana como apenas uma estrangeira poderia. A diretora, roteirista e editora de Nomadland (2020) fez história ao se tornar a primeira mulher não branca a vencer Melhor Direção no Oscar 2021. O longa também levou Melhor Filme e Melhor Atriz, com Frances McDormand.
Além disso, foi a segunda mulher a vencer como Melhor Direção no Globo de Ouro 2021 — a primeira foi Barbra Streisand, com Yentl (1983). Além de ultrapassar barreiras e atingir marcos, Zhao chamou atenção de grandes nomes como Bong Joon Ho, diretor de Parasita (2019) e vencedor de três Oscars, quem a colocou na lista dos 20 diretores promissores da década. Também recebeu elogios de Barack Obama, quem considera Nomadland um dos melhores filmes de 2020.
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Conheça a trajetória de Chloé Zhao e veja por que prestar atenção em sua carreira:
Nascida em Pequim, China, em 31 de março de 1982, Chloé foi batizada como Zhao Ting. Seu pai se tornou executivo em uma das maiores siderúrgicas do país, e Chloé cresceu em um ambiente privilegiado. Aos 15 anos, mudou-se para um internato no Reino Unido e, de lá, foi para Los Angeles, EUA.
Na adolescência, inspirou-se bastante no diretor chinês Wong Kar-wai, um dos motivos de se tornar cineasta. Até hoje, Chloé assiste Felizes Juntos (1997), seu preferido, antes de começar um projeto, quase como uma cerimônia.
Estudou ciência política antes de se mudar para Nova York para aprender Produção Cinematográfica na Escola de Artes Tisch da Universidade de Nova York, uma das mais prestigiosas do país. Foi aluna de Spike Lee, de Infiltrado na Klan (2018) e Destacamento Blood (2020), também indicado ao Oscar 2021.
Com uma carreira curta e bem-sucedida, Chloé Zhao se consolidou no cinema independente. Uma tendência nos filmes é juntar um elenco de não-atores para interpretar personagens parte ficcionais, parte reais. Tudo isso para contar histórias puramente estadunidenses, dos lugares abandonados e comunidades esquecidas.
O primeiro longa da carreira foi Songs My Brothers Taught Me (2015), sobre a reserva indígena de Pine Ridge, no estado de Dakota do Sul. Zhao passou dois meses lá após ver fotos do local quando estava na universidade.
Retrata os irmãos John e Jashaun Winters. O primeiro vende álcool ilegalmente para sustentar a família, e planeja deixar a reserva e se mudar com a namorada quando terminar o Ensino Médio. Muitos querem ir para cidades grandes, mas têm dificuldade em deixar a terra e a família. Os atores são moradores de Pine Ridge e a narrativa é baseada em histórias reais.
Chloé roteirizou, produziu, dirigiu e editou o longa, posteriormente aclamado no festival de Sundance. Foi a primeira atenção de Hollywood. Recebeu também uma indicação ao Independent Spirit Award e foi exibido na Quinzena dos Realizadores de Cannes.
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Para o segundo projeto, Chloé lançou um filme no estilo faroteste moderno Domando o Destino (2017), sobre Brady Blackburn, cowboy impedido de montar após um acidente. O longa retrata as angústias e buscas internas necessárias para entender sua identidade.
Brady interpretou uma versão ficcional dele próprio. O cenário é o mesmo do filme de estreia da diretora, Dakota do Sul. Mais uma vez, Zhao ganhou elogios e apareceu na lista de indicados do Independent Spirit Award.
Pela primeira vez, Zhao trabalhou com uma atriz profissional. Frances McDormand, de Três Anúncios Para Um Crime (2017) e Fargo (1996), interpretou Fern. Após a recessão de 2008 nos EUA, o colapso da cidade natal e a morte do marido, a mulher de meia idade decide abdicar da vida capitalista e passa a viver como uma nômade.
Baseado no livro de 2017 da jornalista Jessica Bruder Nomadland: Surviving America in the Twenty-First Century (Nomadland: Sobrevivendo a América no Século XXI, em tradução livre), Zhao criou uma história com base ficcional, mas personagens e frustrações reais.
McDormand buscou a alma dos Estados Unidos profundos, longe do glamour e do “sonho americano.” Mas, além dela, quem brilhou no longa foram os coadjuvantes não-atores, interpretando a si mesmos.
Nomadland ganhou o Globo de Ouro de Melhor Direção e Melhor Filme e foi o grande vencedor do Oscar. Além da indicação de Zhao, também concorreu a Melhor Atriz, Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado, Edição e Fotografia.
A 93ª edição do Oscar também trouxe outro marco importante: Zhao não foi a única indicada a Melhor Direção, estava acompanhada de Emerald Fennell, por Promising Young Woman (2020). Até 2020, apenas cinco mulheres haviam sido nomeadas em toda a história da premiação e a única ganhadora foi Kathryn Bigelow, por Guerra ao terror (2010).
Logo depois da vitória de Zhao no Globo de Ouro, a mídia do país natal a elogiou muito e chamou-a, inclusive, de “orgulho da China.” Contudo, a relação se tornou conturbada depois da cineasta criticar o governo do país e a censura estatal. As menções à Zhao e ao filme sumiram da imprensa. Chineses nacionalistas a tratam como “traidora da pátria” e, nas redes sociais, pediram boicote ao filme.
Um bom profissional sempre busca se reinventar. Talvez esse seja o objetivo da mudança tão drástica para Chloé Zhao no próximo projeto: dos independentes ao mainstream. A próxima empreitada será a direção de Os Eternos, da Marvel.
O filme abre a Fase 4 do MCU e conta com Salma Hayek (Ajak) e Angelina Jolie (Thena) no elenco. O lançamento nos Estados Unidos está previsto para 5 de novembro de 2021.
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