Dois párias sociais – o rei do Facebook e o rei gago de verdade – esquentam a corrida pelo Oscar entre a nova e a velha Hollywood
Por Peter Travers Publicado em 21/02/2011, às 12h23
Indicados a melhor filme: Cisne Negro, O Vencedor, A Origem, Minhas Mães e meu Pai, O Discurso do Rei, 127 Horas, A Rede Social, Toy Story 3, Bravura Indômita e Inverno da Alma
Quem deveria ganhar:A Rede Social, sem dúvida, choro nem reclamações sobre como a invenção de Mark Zuckerberg, o Facebook, não se trata do que a Academia mais ama: o triunfo do espírito humano. E daí? A Rede Social, impulsionado pelos melhores roteiro (Aaron Sorkin), direção (David Fincher), fotografia (Jeff Cronenweth), edição (Angus Wall e Kirk Baxter), trilha sonora (Trent Reznor e Atticus Ross) e elenco do ano, é um filme do e para seu tempo. É uma comédia de gravidade chocante sobre a maneira como formamos uma rede sem realmente nos comunicarmos. É o primeiro ano em muitos no qual não há um perdedor óbvio entre os indicados a melhor filme, e A Rede Social ganha com orgulho um lugar na cápsula do tempo cinematográfica.
Quem ganhará:A Rede Social, por todos os motivos declarados acima. Não acredito na ideia de que os eleitores do Oscar sejam velhos demais para aceitar um filme da era digital que não seja confortante. Afinal, Guerra ao Terror venceu no ano passado.
Pode surpreender:O Discurso do Rei. A história real do gago rei George VI (Colin Firth) e do fonoaudiólogo (Geoffrey Rush) que o ensinou a perder o medo do microfone tem o maior número de indicações (12, contra oito de A Rede Social) e o apelo sentimental mais tradicional. É um retrocesso deslumbrante, mas um retrocesso mesmo assim. Roger Ebert aposta que Bravura Indômita, com dez indicações e o maior sucesso comercial para os irmãos Coen (US$ 138 milhões e cada vez mais), possa chegar de fininho e levar o prêmio.
Esnobado: Pessoas estão chorando pela exclusão de Atração Perigosa, de Ben Affleck. Deixo minhas lágrimas para A Ilha do Medo, de Martin Scorsese, e O Escritor Fantasma, de Roman Polanski. O que - simplesmente esperamos que esses dois grandes nomes sejam excelentes?
Indicados a melhor ator: Javier Bardem (Biutiful), Jeff Bridges (Bravura Indômita), Jesse Eisenberg (A Rede Social), Colin Firth (O Discurso do Rei) e James Franco (127 Horas)
Quem deveria ganhar: Colin Firth em O Discurso do Rei. Firth foi indicado no ano passado pela melhor atuação de sua carreira em Direito de Amar. Agora, ele fez o impossível e entregou uma performance igualmente excelente como um homem que não queria ser rei (aquela gagueira!) e se tornou um mesmo assim. As armadilhas do papel prejudicariam a maioria dos atores. Como você encontra variedade, coragem e graciosidade em um gago? Assista a Firth. Ele anda na corda bamba sem escorregar.
Quem ganhará: Firth. Os outros indicados nem precisam se preocupar em preparar um discurso.
Pode surpreender: Jesse Eisenberg em A Rede Social. A maioria dos apostadores colocaria a tour de force de James Franco em 127 Horas na posição de azarão, mas uma observação mais atenta do Zuckenberg retratado por Eisenberg revela um ator com a habilidade de nos aproximar de um homem que não nos quer por perto. Neste papel, Eisenberg é o único concorrente no nível de Firth.
Esnobado: Tem um minuto? Como Michelle Williams é indicada por Namorados para Sempre e seu brilhante par, Ryan Gosling, não? Eles são perfeitos um para o outro. Como o soco duplo de Leonardo DiCaprio em A Ilha do Medo e A Origem é ignorado? Onde está a indicação para homenagear o grande Robert Duvall em Get Low? Ou um lugar para o merecido holofote em Michael Douglas por O Solteirão? Como Mark Wahlberg faz das tripas coração em O Vencedor e fica sem nada? Quero respostas.
Indicadas a melhor atriz: Annette Bening (Minhas Mães e Meu Pai), Nicole Kidman (Reencontrando a Felicidade), Jennifer Lawrence (Inverno da Alma), Natalie Portman (Cisne Negro) e Michelle Williams (Namorados para Sempre)
Quem deveria ganhar: Annette Bening em Minhas Mães e Meu Pai. No papel de esposa e mãe lésbica, Annette não se exibe nem grita "Olhem para mim!" uma só vez. Ela simplesmente incorpora o personagem tão completamente que respiramos com ela. Isso é atuação no mais alto nível, puro da forma que o Oscar nem sempre reconhece. Talvez eles acordem desta vez.
Quem ganhará: Natalie Portman em Cisne Negro. Nenhum papel neste ano ofereceu uma demonstração mais dramática para uma atriz, e Natalie faz um belíssimo papel como esse cisne de balé levado a um colapso nervoso por forças da luz e das trevas. O Oscar ama isso.
Pode surpreender: Annette. Indicada três vezes sem levar nada, ela pode realmente ter uma chance.
Esnobada: Julianne Moore, a talentosa parceira de Annette Bening em Minhas Mães e Meu Pai, tem o direito de alegar roubo.
Indicados a melhor ator coadjuvante: Christian Bale (O Vencedor), John Hawkes (Inverno da Alma), Jeremy Renner (Atração Perigosa), Mark Ruffalo (Minhas Mães e Meu Pai) e Geoffrey Rush (O Discurso do Rei)
Quem deveria ganhar: Christian Bale em O Vencedor e Geoffrey Rush em O Discurso do Rei. As pessoas acham que não há empate no Oscar, mas isso já aconteceu duas vezes em 83 anos, e deveria acontecer de novo para Bale e Rush.
Quem ganhará: Bale. Se forçado, eu teria de dar vantagem no Oscar a este ator britânico, que é um fio desencapado. Ele incendeia o filme no papel de ex-lutador e junkie Dicky Eklund. Tente não olhar para ele.
Pode surpreender: Geoffrey Rush. Como Bale, Rush está representando uma pessoa real, neste caso Lionel Logue, o altamente excêntrico fonoaudiólogo australiano que fez com fosse possível para o rei gago falar nas rádios em 1939 e convocar os súditos a apoiar a declaração de guerra contra a Alemanha de Hitler. O desempenho icônico de Firth como o rei teria sido insustentável sem Rush. Como atores, ambos são virtuoses do jazz.
Esnobado: no departamento "foi um roubo", inclua um trio excelente de A Rede Social (Andrew Garfield, Justin Timberlake e Armie Hammer). Por esses pecados egrégios de omissão, os eleitores do Oscar na categoria de atuação parecem tão burros quanto os idiotas da imprensa estrangeira em Hollywood que distribuem prêmios insignificantes no Globo de Outro.
Indicadas a melhor atriz coadjuvante: Amy Adams (O Vencedor), Helena Bonham Carter (O Discurso do Rei), Melissa Leo (O Vencedor), Hailee Steinfeld (Bravura Indômita) e Jacki Weaver (Reino Animal)
Quem deveria ganhar: Melissa Leo em O Vencedor. Como a mãe dos boxeadores Micky Ward (Mark Wahlberg) e Dicky Eklund (Christian Bale) e suas sete irmãs, Melissa é um furacão inegável. Ela tem dado atuações milagrosas em filmes pouco vistos (21 Gramas, Três Enterros, Rio Congelado). Chega. É seu dia.
Quem ganhará: Melissa. Com todo respeito a Amy Adams, sua parceira de O Vencedor e também indicada ao Oscar, mas ela leva o outro.
Pode surpreender: Hailee Steinfeld em Bravura Indômita. Ela só tem 14 anos, mas merece homenagens por sua atuação neste faroeste dos irmãos Coen. O problema é que Hailee não tem um papel coadjuvante - ela é uma atriz principal na categoria errada.
Esnobada Vou começar com Mila Kunis e Barbara Hershey em Cisne Negro, passar para Olivia Williams em O Escritor Fantasma e terminar declarando que qualquer Academia que não veja a genialidade de Lesley Manville em Another Year está usando uma venda nos olhos e merece um castigo.
Indicados a melhor diretor: Darren Aronofsky (Cisne Negro), Joel Coen e Ethan Coen (Bravura Indômita), David Fincher (A Rede Social), Tom Hooper (O Discurso do Rei) e David O. Russell (O Vencedor)
Quem deveria ganhar: David Fincher por A Rede Social. Fincher já provou sua capacidade de unir conteúdo e estilo em Clube da Luta, Seven e Zodíaco (OK, não gosto muito de Benjamin Button), mas se supera aqui ao conectar a pirotecnia verbal do filme com sua orientação visual única.
Quem ganhará: Fincher. É meio óbvio.
Pode surpreender: Tom Hooper por O Discurso do Rei. Como a corrida por melhor filme se dará com A Rede Social versus O Discurso do Rei, a categoria que recompensa o mago por trás das cortinas também terá isso. Só que, para mim, Darren Aronofsky, de Cisne Negro, é o único outro candidato que inovou em direção no ano passado.
Esnobado: Christopher Nolan por A Origem. Tem de ser a maior esnobada da temporada do Oscar. Nolan é um visionário no estilo de Fincher, e o fato de que foi desprezado por Amnésia, O Cavaleiro das Trevas e, agora, A Origem fala muito sobre as falhas do Oscar. Recado para a Academia: é um novo século. Entre nele.
Tradução: Ligia Fonseca
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