Beirut - Divulgação/Kristianna Smith

"Passagem pelo Brasil foi inspiração para o novo álbum", diz vocalista do Beirut

Em entrevista à Rolling Stone Brasil, Zach Condon revelou que a banda pode voltar ao país em 2012 com a turnê de The Rip Tide

Bruno Raphael Publicado em 27/12/2011, às 09h16 - Atualizado em 23/02/2012, às 15h54

De identificação imediata com o Brasil após o sucesso de “Elephant Gun”, música-tema da microssérie de TV Capitu (2008), o Beirut conseguiu o feito inédito de levar fãs brasileiros às ruas para tocar as canções favoritas da banda. O movimento “Beirutando” foi divulgado pela internet e logo chamou a atenção do vocalista e idealizador da banda, Zach Condon, que se apresentou em quatro cidades brasileiras ao fim de 2009. “Foi lindo, eu fiquei fascinado pelas pessoas terem feito isso”, declarou Condon, em entrevista à Rolling Stone Brasil.

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Agora em turnê de divulgação do novo disco, The Rip Tide, distribuído no Brasil pela Som Livre, Zach Condon segue um caminho similar ao do músico Justin Vernon, líder e mente criativa dentro do Bon Iver: antes de ser uma banda, o Beirut consistia apenas dele. O primeiro álbum, Gulag Orkestar (2006), foi gravado por ele em seu quarto e depois completado com a ajuda de outros músicos, como Jeremy Barnes, ex-integrante do Neutral Milk Hotel. Atualmente, Zach é acompanhado por cinco músicos, a maioria deles multi-instrumentistas.

“Tenho a impressão de que [o ‘Beirutando’] foi baseado no Take Away Show [série de apresentações em local público idealizada pelo site francês La Blogothèque]”, diz o músico. “Fazíamos praticamente a mesma coisa: tocar pelas ruas as canções, de maneira bem crua. As pessoas se inspiraram nisso e imitaram o estilo de trazer as canções de volta às suas raízes. Devo dizer que tenho orgulho de nós mesmos por termos feito isso [risos].”

O Brasil, novamente, teve papel crucial na criação do novo disco do Beirut, The Rip Tide, diz Zach. “É engraçado”, conta o músico ao telefone, sempre bem humorado. “No primeiro dia que eu vim ao Brasil, nós saímos do avião e estávamos muito empolgados para chegar logo na praia. Chegando lá, eu fui acertado por uma onda que me derrubou e acertou em cheio o meu ouvido. Foi uma loucura: pelo resto da turnê no Brasil eu tive esse barulho horrível soando na minha orelha e não conseguia dar um jeito. Depois disso, eu comecei a cantar e pensar muito em ‘the rip tide’ [‘corredeira’], talvez de maneira inconsciente.”

Lançado em agosto, The Rip Tide marca, nas palavras de Zach, a melhor definição do que é o som do Beirut até o momento. “Têm sido alguns anos de prática, então pelo menos agora eu sei no que estou me envolvendo quando me arrisco a fazer um álbum [risos]”, ele brinca. “É interessante que, quando me sentei para compor este álbum, meu irmão mais novo tinha arquivado todas as músicas que havia feito desde os dezessete anos. Eu estava no México e passei horas e horas ouvindo as coisas que costumava fazer quando mais novo, tentando compreender de onde veio tudo, sabe? O que me trouxe até aqui. Foi interessante revisitar isso e eu tentei incluir o sentimento neste disco.”

Destacando as canções “Santa Fe” (uma homenagem à terra natal de Zach, no Novo México) e “Goshen”, o músico falou a respeito do conceito de cada uma e da importância delas dentro de sua própria vivência. “A primeira imagem que me vem à cabeça quando penso em Santa Fé sou eu crescendo lá”, reflete. “É um núcleo cultural isolado do resto da América e, consequentemente, do resto do mundo. É um lugar muito estranho. Acho que por isso comecei a me interessar por música, e por isso que me senti um nômade a vida inteira. Quer dizer, a ideia deste mundo enorme e eu não ter visitado quase nada. E é por isso que amo Santa Fé! [risos] É um lugar onde você desaparece.”

Já “Goshen” é uma favorita pessoal do músico. “Foi a última que gravei e eu queria muito que estivesse no álbum”, conta Zach. “É uma faixa simples em que só há piano e voz. Eu nunca cantei algo tão cru e que me expusesse tanto. São apenas três acordes e melodia vocal. Foi muito intenso.”

Avesso à música erudita, Zach diz que se esforça para não ensaiar durante as turnês. "Sempre tive a opinião de que quanto menos eu soubesse sobre um instrumento, menos eu seria apegado à técnica e mais original eu seria", filosofa. "É uma coisa que tento manter ao longo dos anos, apesar de estar melhor nos instrumentos que toco. Há algo sobre se manter ingênuo sobre a música para que ela sempre soe mágica e você não saiba o que está acontecendo."

Fã de Caetano Veloso, Zach tocava a música “O Leãozinho” desde 2008 nos shows da banda e, este ano, uma versão do Beirut entrou na coletânea Red Hot + Rio 2. “Eu nem sabia sobre o que a música falava até uns seis meses atrás. Escolhi mesmo por causa da voz de Caetano”, admite Zach. “Tem uma doçura que eu quis imitar e foi o que me atraiu. Ele tem muitas coisas bonitas, mas nesta canção é tudo sobre a voz dele.”

O retorno ao Brasil, segundo o músico, já está perto. "É sempre ótimo aí", diz Zach, elogiando a hospitalidade brasileira. "Nós, como uma banda, estamos muito ansiosos para voltar. É questão de nos organizarmos e, eu acho, que em 2012 voltaremos. Quer dizer, é dezembro já? É quase ano que vem, de qualquer forma. Eu nem sei em que mês estamos, que engraçado [risos]."

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