Fernanda Takai em performance com o Pato Fu em 2016 - Reprodução/Facebook

Pato Fu: “Não é um disco infantil”, diz Fernanda Takai sobre Música de Brinquedo 2, que tem letra polêmica com “duplo sentido”

Em novo álbum, que chega dez anos depois da “parte 1”, banda usa brinquedos e instrumentos para registrar versões de Gilberto Gil, Ricky Martin, entre outros

Anna Mota Publicado em 06/09/2017, às 17h58 - Atualizado às 19h55

Gilberto Gil, Sting e Raimundos reunidos. Parece um cenário irreal, mas músicas deles e de outros oito artistas ganham releituras especiais em Música de Brinquedo 2, disco lançado pelo Pato Fu no dia 1 de setembro. O álbum chega dez anos após Música de Brinquedo, que apresentou a proposta da banda de substituir os instrumentos tradicionais por miniaturas e brinquedos, implementando ainda backing vocals mirins.

O trabalho poderia ser simplificado como “infantil”, mas, para a vocalista Fernanda Takai é muito mais que isso. “É um álbum que se comunica com a criança, mas também muito com o adulto. Ele tem várias camadas a serem descobertas e pode ser apreciado de diferentes maneiras. Por exemplo, minha mãe, que é uma senhora de 74 anos, curte demais. É muito bacana vê-la escutando Rita Pavone, que é da época de adolescência dela, e também Ricky Martin, que ela conheceu quando levou a Nina [filha de Fernanda e do guitarrista John Ulhoa] no cinema pra ver Shrek.”

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O projeto é original e, quando escutado, esbanja uma sonoridade divertida, já que permite que o ouvinte embarque no papel de investigador para tentar descobrir todos os materiais utilizados na produção das releituras. Mas é necessária uma boa dose de imaginação para ter sucesso na missão. “Em ‘Severina Xique-Xique’ tem uma galinha de borracha substituindo a zabumba, e em ‘Kid Cavaquinho’ o John pegou um desses instrumentos que as pessoas usam para fazer barulho em estádio de futebol (como uma vuvuzela, só que com um som mais grave) e usou como uma cuíca”, relembra.

Fernanda destaca que esse resultado lúdico vem de um processo muito desafiador. “Trabalhamos com ‘instrumentos’ que são difíceis de serem tocados. Muitas vezes a gente tem que descobrir como tocá-los, é necessário fazer um mapeamento dos objetos que podemos usar. Desde o primeiro disco aprendemos muito, mas não digo que o processo se tornou fácil, acho que apenas menos complicado.”

Entre as 11 faixas, que a vocalista define como canções que “atravessam gerações”, está a já citada “Severina Xique-Xique”, de Genival Lacerda. A escolha foi alvo de alguns questionamentos na internet, por ter uma letra de “duplo sentido” em um álbum voltado para crianças. “Eu acho que isso faz muito parte da cultura brasileira. Eu cresci nos anos 1960 e ouvi ‘Severina Xique-Xique’ quando criança, e ela não é, de nenhuma forma, uma música agressiva. Acho que hoje as pessoas escutam coisas muito mais explícitas do que isso.”

“Sobre a repercussão nas redes sociais, creio que se a banda aprendeu algo em 25 anos foi a não ter medo de seguir com as nossas ideias. Claro que, na era da internet, a rejeição pode ser potencializada, mas a aprovação vai ser potencializada no mesmo nível. O próprio Genival me mandou um vídeo agradecendo a versão, fiquei muito feliz. Talvez ele nem conhecesse o Pato Fu, mas agora, pela música, ele sabe quem somos e que já estamos há 25 anos na estrada.”

Ouça Música de Brinquedo 2 abaixo.

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