Paul Banks fez a estreia do projeto solo na noite desta quinta-feira, 15, no Cine Joia - Divulgação / Rafael Beck

Paul Banks, vocalista do Interpol, apresenta o projeto solo em São Paulo

Músico fez show condizente com os dois discos lançados longe da banda, apoiando-se em versos melancólicos embalados por sua voz aveludada

Pedro Antunes Publicado em 15/03/2013, às 03h20 - Atualizado às 15h06

Difícil desassociar Paul Banks da melancolia da sua banda, o Interpol. A voz, cheia de ecos, o baixo e a bateria marcantes: tudo dialoga com a sonoridade do grupo de Nova York. Ainda assim, é diferente – a vibração é outra, como se viu no Cine Joia, na noite desta quinta-feira, 14, em São Paulo.

Resenha: Interpol revisita a carreira em show do Planeta Terra 2011.

Em show realizado via crowdfunding, promovido pela Playbook, na estreia da plataforma Club NME, a atmosfera criada em torno dele era de veneração e fugiu do luto fúnebre que costuma acompanhar os shows da sua banda. O Interpol, aliás, é ignorado por Banks durante a redonda apresentação de 1h30.

Não que ele renegue o material produzido pelo grupo ao longo de pouco mais de uma década, desde o belo Turn on the Bright Lights (2002), mas Banks, com dois discos solo, possui material para carregar uma apresentação sozinho, sem precisar recorrer a hits como "PDA", "NYC", e "Specialist", do álbum de estreia, por exemplo.

Ainda que, no palco, ele mantenha aquela postura já conhecida por aqui, paradão e pouco interativo, Banks está diferente. Mesmo que o pós-punk ainda esteja presente, ele é apresentado de uma forma diferente do Interpol – ou melhor, da visão individual do músico. E isso significa linhas de baixo menos acentuadas e ainda mais espaço para o que há de melhor: a voz de barítono reverberante do músico, uma das melhores da geração dos anos 2000, com versos poéticos e doloridos. No palco, o músico toca guitarra e é acompanhado por um baixista também tecladista, outro guitarrista e um baterista.

Banks passeia com elegância pelos dois discos lançados como artista solo, Julian Plenti Is... Skyscraper (2009) e Banks (2012). Se, no primeiro deles, ele se mantinha escondido pelo alter ego Julian Plenti, para evidenciar um distanciamento da banda, ainda que musicalmente isso não seja tão explícito, no segundo, Banks evidencia referências e traz mais elementos eletrônicos, que compõem uma diversidade sonora interessante.

Ele abriu a apresentação com 12 minutos de atraso. As duas primeiras canções são da fase Julian Plenti, “Unwind” e a ótima “Fun That We Have”. No lugar da agitação e da interação comum em lugares pequenos – e das sempre chatas conversas paralelas –, o público permanece num silêncio respeitoso e apreciativo. Paul Banks não toca temas alegres e saltitantes e a quietude dos presentes mostra que os fãs entendem isso – ainda que fosse a primeira vez que daquelas músicas ao vivo para o público brasileiro.

Justamente por ser um show de crowdfunding, a sinergia entre banda e plateia foi criada rapidamente. Palmas vinham quando necessário, após cada canção. Ninguém pediu por Interpol – não alto o bastante para chegar aos ouvidos do educado e contido Paul Banks, que se arriscou com um “obrigado” em alguns momentos do show.

Ele seguiu a performance com “I’ll Sue You”, “Only If I Run” e “Arise, Awake”. Aos poucos, a plateia pareceu despertar do transe inicial e passou a ser mais participativa a cada canção. Ainda que o Cine Joia não estivesse abarrotado, a casa se mostrou o lugar ideal para o tipo de música executada por Banks – completamente diferente do show do Interpol no Planeta Terra, em 2011, quando público e banda não pareciam estar na mesma sintonia. A iluminação estava mais clara que o ideal para um show desse porte, mas nada que atrapalhasse a fluência das canções.

O músico experimentou um momento mais intimista com “Fly as You Might” e “No Chance Survival”. A banda colocou o pé no freio e deixou a voz de Banks ecoar com elegância e precisão. Foi a calmaria antes de “Young Again”, cujos versos mais solares e irônicos – no universo sombrio e carrancudo dele, entenda-se –, receberam um dos grandes coros da noite. “No Mistakes”, “The Base” e “Paid For That”, do segundo disco do músico, vieram na sequência, para completar a etapa mais “empolgante” do show – entre aspas, por se tratar de Paul Banks.

A apresentação se perde, contudo, na pouca variação rítmica e melódica do material solo do vocalista. Há, sim, um experimentalismo diferente da fórmula do Interpol, mas Banks mantém o conforto que vem assolando, como uma praga, o repertório da banda original: apoia-se em versos sentimentalistas e em sua voz aveludada. Enquanto outros artistas procuram o trabalho solitário para explorar novas sonoridades – arriscando-se mais, portanto –, ele decidiu não dar um passo completo para fora da zona de conforto e manteve um pé dentro e o outro, fora. Não que o público tenha reclamado, pelo contrário. Mesmo com o fim da apresentação, antes do bis, vindo de forma anticlimática com a marcha reduzida de “Summertime is Coming”, Banks agradou a plateia, que inclusive ajudou a financiar o show.

Com “Skyscraper” e “Games for Days”, no bis, ele encerrou o show da forma que começou: com uma vibração diferente de quando está à frente do Interpol e correto com o que foi apresentado em seus dois discos como artista solo. Ao vivo, contudo, fica evidente que o material está distante daquilo que poderia ser se corpo e alma dele estivessem determinados a dar um verdadeiro passo adiante – mesmo que equivocado.

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