A peça Chet Baker, Apenas Um Sopro está em cartaz a partir desta quarta, 20, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo
Carlos Sartori Publicado em 20/01/2016, às 16h03 - Atualizado às 16h18
Acompanhar músicos realizando uma gravação dentro de um estúdio é sempre um privilégio. Aquele momento sublime em que cada artista toca seu instrumento e o ambiente pulsa é indescritível. Esse clima de criação contagiante pode ser sentido em Chet Baker – Apenas um Sopro, que estreia nesta quarta, 20, em São Paulo, no palco do CCBB, com direção de José Roberto Jardim. “A peça é muito bacana por ter muita música, isso é uma carta na manga fantástica. Porque a música é de verdade, é tocada mesmo, todo mundo ali é músico”, diz um entusiasmado Paulo Miklos, que interpreta o protagonista. O improviso do jazz valoriza o espetáculo que marca a estreia do ator no teatro. Há 15 anos atuando no cinema, o integrante do Titãs dá vida a um momento dramático da vida do ícone do jazz norte-americano Chet Baker, que morreu em 1988.
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“A peça discute uma coisa que para mim é muito importante, que é o personagem, a pessoa do artista, o ser humano. A miséria humana, as dificuldades da dor, o descaminho... tudo isso dentro de uma situação da fama”, explica Miklos. A história se passa na década de 1960, quando o trompetista tenta se reerguer e gravar um novo disco após ter sido espancado por traficantes em uma briga de rua na cidade de San Francisco. Sem dentes, viciado em heroína e após três anos sem tocar seu instrumento, o gênio musical busca os amigos para espantar os fantasmas e dar a volta por cima. O cenário em formato de estúdio ajuda a compor dramas humanos entre os acordes musicais. “O texto é fantástico, muito bem desenhado. Ele reproduz aquilo que a gente conhece bem de uma maneira muito natural e real. Tem as relações entre os músicos, tudo o que acontece de verdade.”, se empolga Miklos. Para amenizar o drama de um personagem que tocava a alma das pessoas ao soprar sua dor,
o dramaturgo Sérgio Roveri usou uma artimanha no texto que suaviza o clima pesado nos bastidores, o humor.
Em cena, três músicos e uma cantora, todos ligados ao universo da música: Ladislau Kardos (baterista), Piero Damiani (pianista e diretor musical), Jonathas Joba (ator e contrabaixista) e Anna Toledo (atriz, cantora e dramaturga). Ladislau e Piero nunca haviam atuado. “Essa química ajudou muito. Estamos trabalhando com gente que tem experiência. É uma mistura da experiência com a vontade [risos]”, aposta Miklos.
Ator e músico, Paulo Miklos busca a felicidade se expressando por meio das duas paixões.
Se Paulo Miklos vai tocar em cena, isso será uma surpresa, mas ele dá uma pista. “Seria muito cruel fazer um ator ou músico tocar como o Chet Baker [risos]. No cinema, usam o áudio é original, o cara interpreta. No teatro tem que tocar, não dá para mentir. O personagem pode ser feito por qualquer ator, não necessariamente um músico-ator ou ator-músico. É lógico que, como cantor, eu posso fazer uma coisa que eu conheço bem, que é cantar”, ri. Miklos aproveita para fazer uma revelação sobre a paixão pelo trompetista e a banda em que ele toca desde 1982. “Sempre gostei do Chet. Sempre toquei flauta transversal, desde criança. No Titãs não me deixaram tocar flauta porque não era muito rock e comecei a tocar sax tenor. E sempre gostei de jazz. Ele criou uma coisa nova no fim das contas, com a influência da bossa nova. Mudou o curso da história e influenciou muita gente”.
Duas cenas encantam na peça. A primeira lembra o filme Whiplash - Em Busca da Perfeição, história do jovem baterista de jazz que idolatra o professor e sofre nas mãos dele. Na peça, o novato da vez idolatra Chet Baker e precisa enfrentar as brincadeiras sacanas dos outros músicos, em uma cena que garante as gargalhadas. A outra cena marcante é o momento em que Baker ter uma bad trip de heroína e expõe toda a vaidade do artista considerado símbolo sexual. O jogo de luz e de áudio nos leva a invadir as alucinações do mago do trompete. Longe das drogas há dez anos, Miklos diz que esse é um tema com o qual ele se identifica muito e se torna um tempero a mais para o que o músico está experimentando como ator. “É algo muito intenso. O diretor queria que fosse um momento de lucidez e não loucura.”
Além de música de altíssima qualidade, o espetáculo tem um belíssimo cenário e figurino produzido pelo estilista João Pimenta. Tudo para dar mais realismo à história do famoso e polêmico trompetista de jazz, que participou de mais de 140 discos e viveu apenas 58 anos, mas com todos os tipos de altos e baixos. “Ele era uma espécie de James Dean e tocava um instrumento divinamente. Chet tinha o poder de magnetizar, de encantamento com aquele instrumento e com aquela maneira de tocar envolvente, lírica, romântica. O jeito de cantar pequenininho, mas com uma afinação. Parecia que a voz era uma extensão do instrumento dele. Ele era o anti-cantor.”
Chet Baker, Apenas Um Sopro
De 20 de janeiro a 7 de abril de 2016
Centro Cultural Banco do Brasil - Rua Álvares Penteado, 112 – São Paulo
Segundas, quartas e quintas às 20h
R$ 10
Ingressos: culturabancodobrasil.com.br/
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