Neguin, b-boy de 23 anos, vencedor do campeonato internacional de break dance Red Bull BC One, fala sobre sua vida dedicada à dança
Por Stella Rodrigues Publicado em 24/12/2010, às 14h37
Antes do encontro para falar ao site da Rolling Stone Brasil, Neguin sobe para o quarto de um hotel, em São Paulo, carregando sua extensa bagagem e o cinturão de campeão da edição de 2010 do Red Bull BC One, renomada competição internacional que, este ano, foi realizada em Tóquio, no Japão. Na disputa, b-boys suaram a camisa para provar habilidade e personalidade em elaboradas coreografias. Enquanto Neguin faz o check-in, a assessoria de imprensa relata a extenuante saga do bailarino nas semanas anteriores: muitos voos, entrevistas, performances no mundo todo. Conforme Neguin explicaria mais tarde, essa é a vida dos b-boys. Eles precisam competir com outros dançarinos pelo mundo, não há carreira ficando em um só país por muito tempo.
Em um restaurante, no final da tarde, a aparência dele não entrega o cansaço tão facilmente. Disposto, Neguin é o retrato da inquietação, aquele tipo que não para quieto na cadeira - não por não estar confortável, pelo contrário, mas pela hiperatividade de quem vem de um ano que foi uma verdadeira e gratificante maratona, fechada com chave de ouro com aquele cinturão.
Fabiano Lopes (que prefere ser chamado de Neguin, afinal, "estamos aqui para falar do trabalho, então, vamos usar o nome de trabalho") começou na dança "meio que por acaso". Praticante de capoeira desde a infância (esporte em que ganhou a alcunha que carrega até hoje), certa vez, enquanto pesquisava sobre a luta na internet, encontrou um vídeo de "capoeira com breaking", algo que sequer sabia o que era. Autodidata esforçado, aos 13 anos começou a se instruir na arte - da qual atualmente tira seu sustento -, copiando os passos dos vídeos. "Depois disso aí foi muito mágico, em um ano eu já estava treinando bem", afirma.
Nascido em Cascavel, no interior do Paraná, Neguin estava em um ambiente em que break, grafite e a cultura hip hop eram coisas praticamente inexistentes. Mesmo para treinar com os vídeos achados na web, não era fácil. "A gente achava um, dois vídeos, e ficava anos treinando em cima daquelas mesmas bases", conta. Sendo assim, a mudança para São Paulo foi inevitável. De pesquisador a pesquisado, "hoje os meus vídeos são os mais procurados", diverte-se ele, sem falsa modéstia. Agora, além de competir, Neguin trabalha dando workshops de dança ao redor do mundo e fazendo shows.
O b-boy paranaense afirma ser capaz de transformar qualquer movimento em passos de dança. "Você piscou aí e eu roubei seu movimento. É a mesma coisa com o jeito como a folha caiu aqui do nosso lado, vou imaginar que sou essa folha e fazer meu corpo imitar a maneira como ela se moveu. Não é só porque sou dançarino que vou me inspirar somente em dança ou música. Mas claro que, por outro lado, tem a parte técnica", afirma, apresentando-se sempre como um profissional bastante estudioso.
"Na dança, o jeito de cada um dançar é chamado de 'flavor', sabor. Até quem é de fora consegue perceber isso, você cria uma identidade muito clara", explica. "A minha grande vantagem é que sou explosivo, em resumo. O que mais impressiona e me torna inconfundível é a minha explosão na dança, que vem dos saltos mortais que eu faço, os pulos repentinos. Sou como um tornado, um furacão. Aliás, também já me apelidaram de Taz", brinca, referindo-se ao protagonista do desenho animado Taz-Mania.
Para ser o melhor no que faz e manter o corpo em dia para "explodir" o tempo todo na dança, espera-se o rigor de atleta nos treinos e na dieta. Mas ao observar Neguin pedir ao garçom um filé com fritas e contar um pouco de seu cotidiano, fica claro que esse não é exatamente o caso. "Eu sou atleta, mas não me comporto como um. Atleta acorda cedo, come aquela comida certinha, descansa bem. Ultimamente, para você ser um b-boy top, não faz nada disso. Você acaba controlando mais a sua mente. Se ela está boa, seu corpo fica bom."
Neguin, que menciona "destino" e "sem querer" com frequência em suas respostas, aos 23 anos, pensa no futuro, mas prefere viver o agora, sem muitos planos. Por enquanto, viaja ao redor do mundo, aprendendo "sempre outras culturas, coisas novas". Curioso, leva de cada viagem todas as experiências que pode ter, interessa-se por cada aspecto mínimo de sua profissão e aproveita tudo que ela pode oferecer. Se rotina (ou a falta dela) na estrada dificulta o contato com a família e os amigos, Neguin parece ter encontrado em seu universo a comunidade que precisa. Fã de música eletrônica, além de rap, frequenta festas de outros países sempre que pode, e conta com a companhia dos outros b-boys ao redor do globo. Ele até revela que alguns dançarinos de divas do pop namoram cantoras igualmente famosas. "Esse mundo dos b-boys tem cada coisa", comenta.
Apesar de ser engajado em assuntos relativos à falta de incentivo financeiro aos artistas do hip hop no Brasil e mencionar os resquícios de preconceito com a cultura hip hop, Neguin quer passar longe da política por trás de seu trabalho. Concentra-se em dar suas aulas por onde passa ("sou um professor do mundo"), competir e ser jurado de campeonatos. Pensa em, talvez depois de se aposentar, passar para a carreira de ator ou investir em vídeoaulas.
Levando uma vida corrida e atípica, Neguin passa a maior parte do tempo em Nova York, a cidade que chama mais de casa ultimamente, mas está no Brasil para passar as festas com a família.
Veja, abaixo, Neguin em ação:
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