Peter Capaldi, o novo <i>Doctor Who</i> - Divulgação

Peter Capaldi, o novo Doctor Who, confessa ser apaixonado pelo personagem desde criança; leia entrevista

Oitavo ano da trama ficção científica mais cultuada de todos os tempos estreia neste sábado, 23

Guilherme Guedes Publicado em 23/08/2014, às 11h56

Aos 56 anos, Peter Capaldi vive um sonho de infância: ele é o Doctor Who - especificamente a 12ª encarnação do viajante do tempo mais adorado da TV britânica. Conhecido no Reino Unido pela performance na série de comédia The Thick of It, Capaldi interpretará uma versão mais sombria, sagaz e imprevisível do Doctor Who na oitava temporada, que estreia neste sábado, 23, pela BBC, no Brasil e no Reino Unido, simultaneamente.

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Em entrevista à Rolling Stone Brasil durante a parada brasileira da Doctor Who World Tour - turnê que passou por seis cidades ao redor do mundo com a premiére da nova temporada e promoveu encontros entre os fãs e o elenco - Capaldi se mostrou consciente das altas expectativas às quais será submetido, mas garantiu que a paixão que tem pela série desde a infância o permitiu fazer um bom trabalho.

Tudo bem? Conseguiu aproveitar alguma coisa do Rio nessas poucas horas por aqui?

É ótimo! Terei chance de conhecer um pouco mais amanhã, mas é incrível estar aqui. Ficar hospedado em um hotel como este… Eu me sinto como uma estrela de cinema. Minha esposa está aqui, e estamos nos sentindo como Richard Burton e Elizabeth Taylor porque temos nossa própria suíte, de onde vemos toda a praia de Copacabana. É lindo!

Você foi rotulado pela mídia britânica como “herói de uma nova geração” antes mesmo de estrear em Doctor Who. Como você encara toda essa pressão?

Bem, todos os dias são diferentes, são novos. Acho que ainda não percebi o tamanho da afeição e do amor que os fãs têm pela série. Estivemos na Coreia do Sul, na Austrália, em Nova Iorque, no México, agora no Rio, e eu não sabia que havia tantas pessoas fanáticas pela série. Eu amo Doctor Who desde quando era criança, tenho uma relação muito pessoal com o seriado. Estar aqui e conhecer tanta gente aficionada é emocionante, mas também um pouco assustador porque entendi que sou o responsável por fazer todas essas pessoas felizes, e vou dar o meu melhor para conseguir isso. É impossível agradar todo mundo, mas vamos trabalhar duro para conseguir manter o sucesso do show. Matt Smith, David Tennant e Christopher Eccleston [os três protagonistas da série desde que ela voltou a ser exibida, em 2005] fizeram um trabalho incrível, e eu não estaria aqui se não fosse por eles. Mas é muito excitante e estranho estar aqui no Rio, porque começamos a filmar a nova temporada em janeiro, e gravamos todos os dias por 32 semanas. Eu não entrei em um avião por todo esse tempo, e agora estou aqui (risos).

E viajando pelo tempo e pelo espaço, porque Jenna me contou que vocês estiveram no futuro quando foram à Austrália.

Sim! Eu não sei como isso funciona, mas eu mandei um e-mail de lá para um amigo em Nova Iorque, e ele me respondeu dizendo que eu havia mandado um e-mail do futuro. De algum jeito o seu dia fica mais longo, a sua quarta-feira dura dois dias inteiros (risos). É estranho, eu não consigo entender. Quem fez essas regras? Quem decide?

Todos nós fingimos ser um personagem ou outro quando criança…

Quem você fingia ser?

O Batman.

Ah, você daria um bom Batman (risos).

Obrigado! Isso também deve ter acontecido com você, mais especificamente com Doctor Who, então é possível dizer que você sonhou com isso por toda a sua vida?

Sim. Na minha época, todos os garotos queriam ser o Doctor Who. Quando eu era criança surgiram Doctor Who, os Beatles, e todos nós queríamos ser como eles. Mas quando me tornei ator, eu nunca andava por aí imaginando que um dia eu seria o Doctor Who. Não era algo que estava na minha cabeça o tempo todo, “nossa, eu preciso ser o Doctor Who”, ou “vou ligar para a BBC e pedir para ser o próximo Doctor Who”. A série ficou parada por alguns anos, e eu adorei quando ela voltou, as mudanças que fizeram, a performance de Christopher Eccleston, e depois David, Matt… Eu assisti a tudo, mas nunca pensei que eu estaria aqui um dia. Eu participei de um episódio em 2008 [“The Fires of Pompeei”, quando David Tennant era o Doctor Who], então achei que a minha participação na série se limitaria àquilo. Mas é um papel dos sonhos para mim, porque amo o personagem, amo a série, e conheço tudo sobre ela. É como se escolhessem você para ser o Batman: você teria um conhecimento profundo daquele personagem. Ele está no seu coração. E isso é o mais importante: que ele esteja dentro do seu coração. Doctor Who faz parte de mim de um jeito que eu nem consigo compreender. É o papel dos sonhos para qualquer um, é o melhor trabalho possível.

E o fato de você ter participado da série antes? Como isso será explicado?

Faremos algumas referências sobre isso, para encontrar uma solução para essa aparição anterior. Talvez quem eu era não era realmente quem disse que era.

Há muitos fãs jovens de Doctor Who, mas também há fãs mais velhos, alguns desde o início da série, como você. O que você acha que mudou e o que se manteve em Doctor Who durante todo esse tempo?

Hoje em dia a série é muito mais passional do que costumava ser. Há mais tristeza, mais amor, mais paixão. Antigamente isso ficava nas entrelinhas, mas sempre havia uma espécie de melancolia, de tristeza, não sei bem o que era. Uma das coisas que amo na série atual é que quando ela aborda o próprio passado, traz uma visão mais sombria dele, mais bravia, mas sem perder o romantismo. E quando falo “romantismo” não quero dizer em termos de um relacionamento entre Doctor e Clara, mas em relação à emoção da série como um todo. A minha versão do Doctor é muito intenso, ele ama a vida, o universo, as estrelas, o supermercado, o mar, as sombras, é tudo fantástico para ele. E ele não gosta de pessoas que não percebam como tudo é incrível, então ele perde a paciência e vai embora. Ele é um alienígena, e nesse sentido o novo Doctor lembra um pouco mais a série original. Não fizemos tudo isso de forma consciente, mas conseguimos incorporar esses detalhes.

Você é o ator mais velho a interpretar Doctor Who desde o retorno da série em 2005. Considerando que o personagem tem dois mil anos de idade, a sua aparência influencia a personalidade dele de alguma forma, ou apenas a forma como o enxergamos?

Não tem a ver com idade, mas com identidade, com quem ele é. Não importa para ele. As pessoas dizem que sou velho, mas não me sinto velho. E ele é muito mais velho que eu.

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