Leah Branstetter, PhD em musicologia, desenvolveu uma pesquisa mostrando a revelância feminina no início do rock
Redação Publicado em 02/06/2019, às 09h00
Elvis Presley, Bob Dylan, Chuck Berry. Quando pensamos no início do rock, lá na década de 1950, estes nomes saltam aos olhos e lembramos da brilhantina, jaquetas de couro e enormes Gibsons. Mas um aspecto da época sempre ficou em segundo plano: as mulheres.
À época, acreditava-se que mulheres eram o sexo frágil e não se envolviam na loucura do estilo jovem e não se interessavam pelo assunto, ou ainda, que não eram capazes de fazer música, conforme dibulgado em publicações da época. “Uma garota não pode cantar rock and roll. É basicamente algo selvagem demais para uma cantora aguentar”, disse a revista Billboard, em 1958. “É completamente verdade que nenhuma mulher da era do rock podia competir com a loucura e a intensidade de Jerry Lee Lewis, ou chegar aos pés da popularidade de Elvis Presley”, acrescentou o Journal of Country Music, em 1981.
Leah Branstetter, PhD em musicologia, resolveu mudar essa ideia. Nos últimos quatro anos, desenvolveu uma pesquisa para encontrar quem foram as mulheres que fizeram parte do início do estilo. Women In Rock And Roll’s First Wave (Mulheres na Primeira Onda do Rock) explora perfis de rockeiras que não só apresentavam shows, mas também escreviam músicas e eram donas de gravadoras.
O resultado da pesquisa de Leah rendeu um site no qual ela reuniu entrevistas, perfis detalhados, coletâneas e contos da história dessas mulheres que foram importantes para a música, mas nunca tiveram seu legado enfatizado. O maior destaque ao trabalho é dado pela playlist de Spotify que Leah criou. São mais de 30 músicas de mulheres da década de 1950 e início de 1960. Queria mais, mas muitas das canções nunca chegaram ao streaming. Você pode ouvir aqui.
Os perfis também são completos, com resumo de carreira e discografia. Separamos o de Ruth Brown, a principal pioneira do rock - e que nunca conseguiu ganhar dinheiro, e teve que trabahar como motorista de ônibus após o sucesso. Leia a história de Ruth abaixo e as restantes aqui.
Ruth Brown nasceu em Virginia e cresceu na Carolina do Norte, trabalhando na fazenda com sua avó, e saindo escondida para assistir shows de R&B e Jazz. Depois de um tempo, começou a fazer apresentações, sempre escondida da família. “Eu realmente queria falar do meu interesse de cantar como profissão, mas eu sabia que se fizesse, meu pai ia surtar”, contou em sua autobiografia.
No final dos anos 1940, Ruth fugiu de casa com seu amado Jimmy Earle Brown (de quem herdou o nome), e começaram a se apresentar juntos. Depois, tocou com Lucky Millinder, mas foi demitida e deixada em Washington sem um tostão. Começou a apresentar-se em bares em troca de gorjetas, e chamou a atenção de olheiros da Atlantic Records. Fechou contrato em 1949.
Na Atlantic, Ruth estourou - e durante um tempo a gravadora foi chamada de “a casa que Ruth construiu”. Lançou mais de 100 faixas, e conseguiu vários sucessos No1. Começou a fazer turnê pelos EUA, o que, para ela, garantiu visibilidade. “Um dos motivos da minha popularidade era que eu estava envolvida - era visível. Uma das poucas artistas mulheres que tocou no Sul [parte conservadora dos EUA]. Em todo lugar que tinha um palco, eu estava”, contou. Mas ainda enfrentava dificuldades, como ter que alugar casas para dormir e ter que se trocar no carro por negarem camarins.
No começo da década de 1970, Ruth sofreu um baque - ela não recebia dinheiro pelo seus sucessos. Começou a trabalhar no que podia - motorista de ônibus, ajudante de idosos, babá - “fazia de tudo para manter minha casa e meus dois filhos. Fiz com dignidade e não me envergonho”. Só voltou a fazer sucesso no final da década, quando voltou a investir em R&B. E passou boa parte de sua carreira lutando pelos direitos de músicos e das mulheres. Morreu em 2006, após receber um Tony Award e entrar para o Hall da Fama do Rock em 1993.
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