Brian Molko à frente do Placebo, em São Paulo - Bruna Sanches

Placebo para fãs

Trio liderado por Brian Molko fez show intenso neste sábado, 17, em São Paulo; setlist foi baseado no disco Battle for the Sun, de 2009

Por Bruna Veloso Publicado em 18/04/2010, às 15h34

Há bandas que param no tempo; há bandas que, na ânsia de não parar no tempo, se reinventam a ponto de perder a identidade. E há bandas que seguem seu caminho sem se preocupar com nenhum desses dois extremos, evoluindo à medida que seus integrantes crescem, envelhecem e mudam a maneira de enxergar o mundo. É nesse grupo que se encaixa o Placebo, que fechou sua nova turnê brasileira com um show conciso no Credicard Hall, em São Paulo, na noite deste sábado, 17.

A apresentação começou pontualmente às 22h, com "For What It's Worth", primeiro single de Battle for the Sun (2009). O álbum é um marco na carreira do trio: depois da saída do baterista Steve Hewitt (que, pela segunda - e aparentemente definitiva - vez, deixou a banda), Brian Molko e Stefan Olsdal injetaram otimismo nas composições. A começar pelo título, o disco mostra passos da banda em direção a uma temática menos depressiva, com mais elementos orquestrais e coros em diversas faixas. É o processo evolutivo de um conjunto soturno, que fez fama com letras cheias de sexo, drogas e dramas pessoais - e agora, com uma nova postura diante da vida (diga-se, Molko é pai de Cody, hoje com quatro anos), brada sem pudor versos como "We can build a new tomorrow today" (em inglês, "nós podemos construir um novo amanhã hoje", trecho de "Speak in Tongues").

Ao vivo, os arranjos do Placebo - que agora conta com o competente Steve Forrest nas baquetas - ganham força com três músicos de apoio, que se revezam entre baixo, teclados, guitarra e violino elétrico (este, executado pela única mulher no palco, Fiona Brice).

Molko, 37 anos, mantém a aparência andrógina do começo da carreira. Com cabelos quase chanel, calça branca, camisa preta e, como sempre, lápis nos olhos e um batom discreto nos lábios, Molko é uma figura interessante: apesar de exibir trejeitos femininos quando não está com a guitarra em punho, no palco ele transmite uma aura extremamente masculina. A forma como ele se apresenta emite uma energia quase que sexual - e aí está um dos motivos de o show do Placebo ser tão intenso, mesmo sem grandes aparatos tecnológicos (adornando o palco, apenas um telão) ou inovações ao longo desses 16 anos de estrada.

Nesta terceira vinda da banda ao país (eles estiveram aqui em 2005 e 2007), Battle for the Sun serviu de base para os shows. Foram nove músicas do álbum, em um setlist de 20 faixas. "Ashtray Heart" (que, aliás, foi usado como nome por Molko e Olsdal antes da escolha da palavra Placebo), a faixa-título, "Breathe Under Water", "Julien", "The Never-Ending Why", "Bright Lights": todas as novas músicas foram bem recebidas pelas quatro mil pessoas na casa. Na plateia do Placebo, não há espectadores ocasionais - a banda tem um fiel séquito de fãs, que acompanha a carreira do trio sem exigir um show apenas de hits.

Grandes sucessos não ficaram de fora - entre eles "Soulmates", "Follow the Cops Back Home" e "Every You Every Me", responsável por levar a música do Placebo a plateias até então inexploradas, ao ser incluída na trilha de Segundas Intenções (1999). Mas muita gente deve ter sentido falta de "Protect Me From What I Want", "English Summer Rain" e "This Picture", entre tantas outras espalhadas pelos cinco discos anteriores a Battle for the Sun.

Sem falsa simpatia

Molko não é chegado a bate-papo com a plateia. Sua interação com o público é mínima: um "obrigado", em português, logo no início da apresentação, uma introdução para a música "Speak in Tongues" (ele explicou que sua família o levava a igreja quando pequeno, e que o pastor, "possuído", falava uma língua "inventada", que nem mesmo ele conhecia - esse "falar" é explicado pela expressão que dá nome à música) e um pedido de coro em "Bitter End", já no final do show.

Para completar a apresentação de cerca de 1h30, o bis veio com "Trigger Happy", "Infra-red" e "Taste in Men", com destaque para a força de Forrest atrás da bateria. O baterista imprime seu estilo na banda, tornando o Placebo mais pesado, ao vivo, que nos tempos com Hewitt.

Ao final, fica a sensação de que o trio cumpre bem seu atual papel: embalar a depressão de seus fãs com sucessos antigos, e levá-los pelos ouvidos a um caminho mais esperançoso, com as novas composições - sempre com a força e o estranho charme que a banda mantém no palco.

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