Primal Scream, Sonic Youth e Iggy Pop fazem os grandes shows do Planeta Terra 2009
Por Artur Tavares Publicado em 11/11/2009, às 19h59
Atualizada em 11/11, às 20h
Aconteceu neste sábado, 7, a terceira edição do festival Planeta Terra, que vem sendo a salvação do público paulista quando se trata de boas atrações e organização impecável desde que se iniciou, em 2007. A chuva que caiu sem dó no Playcenter durante a noite não espantou o fiel público roqueiro que prestigiava seus ídolos: Primal Scream, Sonic Youth e Iggy Pop, figurinhas repetidas entre fãs que não saem dos shows que acontecem por aqui, mas que mesmo assim foram atrações mais interessantes do que a inédita Maximo Park.
Se Iggy Pop fez a apresentação da noite tocando músicas do álbum Raw Power (do Stooges, de 1973), e também outros de seus clássicos (como "The Passenger"), exibindo seu corpo, dançando em êxtase e quase perdendo as calças, o Sonic Youth pode ser coroado como o grande show de rock da noite. Kim Gordon - de vestido curto prateado e meia calça e luva combinando - e seu marido Thurston Moore estavam afinados enquanto se revezavam para tocar uma hora e meia de pauleiras psicodélicas e barulhentos acordes distorcidos à última potência.
Mais burocrático foi o Primal Scream, que teve o início do show prejudicado pelo baixo som - o único problema em todo o festival. Bobby Gillespie e sua banda também enveredaram pelo caminho do som psicodélico, mas este tinha um quê de blues à la Hendrix amparado pelas guitarras de Andrew Innes. Foi uma apresentação diferente daquela que a banda fez no Tim Festival de 2004, quando apelaram mais para o rock 'n' roll cru.
Em relação ao local escolhido para o festival, o parque de diversões Playcenter, a organização ganhou pontos por superar a antiga Vila dos Galpões, talvez o espaço abandonado mais legal para realização de shows em toda São Paulo - e que deverá dar lugar a um shopping. O público de pouco mais de 16 mil pessoas encheu o parque, mas ainda assim havia espaço de sobra ali para se ter conforto. Os brinquedos funcionaram sem problemas (alguns até depois do horário previsto de fechamento) e foram muito requisitados. Não chegaram a ter filas quilométricas. Aqueles baseados em sustos, como o "Monga", ficaram cheios de ex-crianças que não perderam a chance de se divertir.
Abaixo, confirma mais impressões sobre as apresentações do palco principal (para saber como foram os shows do Metronomy, N.A.S.A. e outros, clique aqui.).
Iggy & the Stooges, à 0h
Iggy Pop e seus Stooges foram os únicos que fizeram o público de fato cantar junto durante todo o festival. À meia-noite, quando a iguana entrou no palco com seus usuais cabelos compridos loiros e seu definido corpo bronzeado sem camiseta, os primeiros acordes de "Raw Power" foram o suficiente para que a chuva parasse de ser um problema no palco principal.
A banda seguiu com "Search and Destroy", que fez todos os "forgotten boys (e girls)" da plateia pularem e dançarem. "Gimme Danger", mais intimista, veio em seguida, diminuindo o tom.
Antes da sexta música do show, "Shake Appeal", começar, surge um prenúncio de confusão. Iggy chama "meia dúzia de garotos" para subir no palco. Mais de 100 pessoas sobem e fazem festa durante a canção. Eles deveriam descer após o fim da música, mas muitos se recusam, obrigando os seguranças a entrarem em ação. Alguns querem encostar no eterno ídolo do rock, outros sofrem com mata-leões. Um fã ainda desmaia brevemente, mas Iggy despreocupado segue com o show.
A apresentação diminuiu o pé em "Funhouse", mas logo depois Iggy rouba a muleta de um fã que está na grade para tocar "I Got a Right". A cada música, as calças do roqueiro caiam mais, exibindo despreocupadamente seu cofrinho e metade de sua bunda. Ele ofereceu "I Wanna Be Your Dog" para o falecido guitarrista Ron Asheton, e a banda parou logo depois.
Voltaram brevemente para um bis, que teve "The Passenger" e que foi encerrado com "Lust for Life".
O palco principal ainda recebeu meia hora depois do fim do show de Iggy Pop o DJ Étienne de Crécy, que tocou um tecno pesado no meio de uma belíssima estrutura cúbica, na qual ele ficava bem no meio. Ela se acendia e se apavaga de acordo com as batidas de sua música, dando a entender que Crécy ainda controlava o gigante cubo em si.
Sonic Youth, às 22h
Sempre que o Sonic Youth sobe em palcos brasileiros, fãs dizem a mesma frase: "como é bom ver os velhinhos tocando assim". E, não importa como eles decidam tocar, os cinquentões sempre acabam fazendo o que há de melhor no rock 'n' roll. A exemplo da apresentação da banda no Claro Que é Rock em 2005, esta foi esvaziada dos hits noventistas do grupo, como "100%", "Sugar Kane" e "Drunk Butterfly". Optaram por tocar a crueza barulhenta e psicodélica do recente The Eternal, em músicas como "No Way", "Sacred Twister" e "Calming the Snake", que abriram o show. A chuva que apertava a cada música contribuiu à atmosfera quase soturna criada pelas guitarras mais que distorcidas combinadas com uma luz azul etérea. A banda tocou por uma hora e meia, fazendo grandes sessões instrumentais ao longo de canções como "Anti-Orgasm" e "Leaky Lifeboat". Kim Gordon ainda dançou como uma cobra e até se jogou no chão durante "Jams Run Free", antes de a banda acabar com "Death Valley '69".
Primal Scream, às 20h30
Para alguns, o que realmente faz falta nas apresentações do Primal Scream é o dub e o jungle nunca repetido depois de Screamadelica, clássico disco de 1991. Para outros, o grande lance de se assistir à banda hoje é justamente acompanhar a crítica política de Gillespie e sua trupe ao Reino Unido e aos Estados Unidos. Foi este o show que esteve no Brasil. A banda subiu ao palco no típico mau humor britânico. Sequer deu boa noite antes de começar a tocar um rock pesado, sintetizado e com alguns momentos de microfonia. Foi o único grupo a passar vídeos nos telões, o primeiro uma alusão à luta de classes Marxista em "Deep Hit At Morning Sun". Por toda a apresentação o que se viu foi uma banda de veteranos (formada por ex-integrantes do Jesus and Mary Chain e Stone Roses) afinada e disposta a fazer barulho, mas o show ficou por aí mesmo um pouco antes de seu encerramento, quando eles embalaram o eterno hit "Movin' on Up".
Maximo Park, às 19h
Chame de pausa para comer, para ir aos brinquedos ou até mesmo desculpa para ver o Copacabana Club no palco secundário. Não importa. A apresentação do Maximo Park foi a grande decepção do Planeta Terra 2009. Primeiro porque deveria ter acontecido no auge do indie rock britânico - há uns dois, três anos. Segundo porque o grupo não acrescentou nada à noite que pertencia ao rock clássico. A apresentação tinha um público esvaziado e apático, que ficou para ver o vocalista Paul Smith se exibir no palco. Ele dançou como Elvis, fez caras e bocas para as câmeras que transmitiam imagens para os telões, abusou dos movimentos de braços enquanto se mostrava à plateia. O resto da banda fez o feijão-com-arroz trivial, sem acrescentar nada às músicas dos quatro discos do grupo, entre elas "Graffitti", "Mystery", "Kids" e "Acrobat". Mais chato foi Smith forçar no "obrigado" ao fim de cada música, e explicar cada uma delas antes de começar.
Móveis Coloniais de Acaju, às 17h30
O Móveis deixou de lado os ternos vermelhos iguais característicos de sua primeira turnê para apresentar ao público o álbum C_mpl_te, mas esqueceu de trazer ineditismo ao palco do Terra deste ano. A banda tocou o disco quase na íntegra, começando com "Tempo", passando pelas boas "Uhu", "Cheia de Manha", "Bem Natural" e a engraçada "Cão Guia". Mas o esforço do grupo em entreter supera o de tocar bem - coisa que a banda faz, mas que fica de lado quando seus integrantes tocam trombone com os pés, ou então fazem a tradicional roda junto aos fãs. É, em resumo, um show divertido, mas que já não tem o encanto de quando a banda surgiu.
Macaco Bong, às 16h
Cada vez mais cabeludos e barulhentos, o trio cuiabano Macaco Bong abriu o festival pontualmente às 16h, quando o sol ainda estava ardido e o ar muito seco - como a própria capital mato-grossense. Mais cheio que nos anos anteriores, o primeiro show do festival foi acompanhado por quase quinhentos fãs. A banda passeou pelo repertório do disco Artista Igual Pedreiro, lançado em 2008, carregando o som em todas as peças instrumentais, como "Black's Fuck", "Shift" e "Bananas for You All". Para aqueles que estão cansados de ver as apresentações do trio, que como a banda seguinte, Móveis Coloniais de Acaju, se tornou carne de vaca nos festivais de música pelo país, a grande surpresa foi ver o Macaco Bong tocando uma canção nova, chamada "Um Sol Bem Quente". O baixista Ney Hugo explicou que o "sol" em questão deve ser grafado como sua representação gráfica de nota musical. A música é um metal longo, mais pesado e grave do que o grupo havia gravado desde então.
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