Polêmico disco duplo dos Beatles, White Album completa 50 anos

Álbum da banda inglesa trouxe diversificação de estilos e várias canções clássicas

Paulo Cavalcanti

Publicado em 22/11/2018, às 07h30
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- Os Beatles (Foto: Everett Collection / Keystone)

Há meio século, no dia 22 de outubro de 1968, os Beatles lançaram o álbum duplo The Beatles - mais conhecido como The White Album (ou Álbum Branco), devido a sua capa espartana e totalmente branca.

Naturalmente, como tudo o que gira em torno dos antigos lançamentos do quarteto de Liverpool, o cinqüentenário disco sendo celebrado nos quatro cantos do mundo. Mas é preciso lembrar que, quando lançado, o disco também foi alvo de uma série de polêmicas.

Depois dos experimentos psicodélicos do álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band e do projeto Magical Mystery Tour, acontecidos no ano de 1967, os Beatles decidiram voltar ao básico.

Eles haviam abandonado as aventuras com o LSD e buscavam apoio espiritual junto ao guru indiano Maharishi Mahesh Yogi. Instigado por George Harrison, o quarteto foi para Rishikesh, na Índia, em fevereiro de 1968.

Os músicos se decepcionaram com os métodos e com o comportamento do guru. O lado positivo foi que a estadia no Oriente serviu para que os integrantes escrevessem uma boa quantidade de canções, que seriam eventualmente usadas no próximo trabalho fonográfico deles.

Antes de lançarem um álbum, o quarteto colocou no mercado com enorme sucesso o single “Hey Jude”/“Revolution”.

Naquele momento, os Beatles estavam deixando de funcionar como uma unidade que colaborava conjuntamente o tempo todo. John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr estavam seguindo seus próprios rumos, buscando um diferencial como músicos e indivíduos.

Isso foi refletido no resultado do álbum duplo, uma eclética coleção de 30 faixas bem distintas. As canções não soavam como nada que eles haviam feito antes. Não soavam como uma mera repetição ou reciclagem de temas e sons.

Uma crítica freqüente ao The White Album é que ele seria longo demais – um disco só, em vez de dois, seria suficiente. George Martin, falecido produtor e diretor musical dos Beatles, comentou a respeito: “Eu tentei agradá-los, fazendo uma seleção de melhores músicas. Queria colocá-las em um único LP. mas eles não quiseram saber”.

Lennon, por exemplo, insistiu em incluir “Revolution 9”, uma auto-indulgente colagem de ruídos e efeitos sonoros que ele elaborou ao lado da companheira Yoko Ono. Mas tirando a cacofonia de “Revolution 9”, as demais canções se mostraram diretas e comerciais.

Os Beatles estavam na reta final de sua carreira fazendo uma música altamente refinada e complexa. O álbum foi gravado de maio a outubro daquele ano, nos estúdio da EMI em Abbey Road e no Trident Studio.

Os Beatles resolveram não lançar nenhuma faixa do The White Album no formato de single. Mesmo assim, inúmeras canções do trabalho se sobressaíram nas rádios, especialmente as canções escritas por McCartney, como “Back in The URSS” (uma paródia aos Beach Boys) e o proto ska “Ob-La-Di, Ob-La-Da”.

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O baixista brilhou também nas baladas acústicas “Blackbird”, “I Will” e “Mother’s Nature Son”.  Já a irônica "Rocky Raccoon" seguia a linha da canção folk tradicional.

Macca trafegou pela nostalgia do music hall em “Honey Pie” e “Martha My Dear”. “Wild Honey Pie” era apenas uma vinheta.  Nas faixas “Birthday” e "Why Don't We Do It in the Road?", o baixista por uma linha básica e crua.

Mas “Helter Skelter”, contudo, foi a criação de Paul McCartney que gerou mais controvérsia. O baixista tinha intenção de criar uma música suja e barulhenta. Cheia de distorções e com um vocal gritado e urgente, “Helter Skelter” lançou sementes para o heavy metal. E ainda inspirou o serial killer Charles Manson.

As canções de John Lennon não possuíam um apelo tão comercial tão impactante quanto aquelas escritas por McCartney, mas ainda eram fascinantes. Elas abriam uma janela para a mente de Lennon, que a esta altura que cada vez mais influenciado por Yoko Ono.

O cantor relembrou a mãe na terna e acústica “Julia”. A delicada “Dear Prudence” foi dedicada a Prudence Farrow, irmã da atriz Mia Farrow – ambas estavam na Índia com os Beatles, meditando. A faixa contrastava com "The Continuing Story of Bungalow Bill", um relato em ritmo country sobre um caçador de tigres.

Em “Glass Onion”, Lennon estourou o balão dos fãs ligados em teorias da conspiração, que enxergavam significados esdrúxulos nas letras da banda. O artista falava de sua rotina modorrenta em “I’m so Tired” e embarcava em um clima onírico em “Cry Baby Cry”.  

Chamou de forma velada o Maharish de charlatão em “Sexy Sadie” e comentou com ironia a onda de hard blues que tomava conta da Inglaterra em “Yer Blues”. O beatle reprisou “Revolution” em uma versão mais lenta, segundo ele, “para que as pessoas pudessem entender melhor a letra”.

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Nas faixas "Happiness Is a Warm Gun" e “Everybody's Got Something to Hide Except Me and My Monkey", Lennon seguia experimentando nos quesitos letra e música.

George Harrison ofereceu quatro canções: “Piggies”, “Long, Long, Long”, “Savoy Truffle” e "While My Guitar Gently Weeps".

Esta última tornou-se um clássico imediato, uma reflexão sobre o culto à guitarra. O solo foi executado por um grande herói do instrumento: Eric Clapton, amigo do compositor da faixa.

Ringo veio com apenas uma canção: o divertido country “Don’t Pass Me By”. Mas ele teve a honra de encerrar o álbum com a hollywoodiana “Goodnight”, escrita por Lennon e McCartney.

Para marcar estes 50 anos do The White Album, o trabalho está sendo relançado no mercado internacional em vinil, em uma caixa de seis CDS com um livro e uma edição com três CDs.

Aqui no Brasil, a Universal Music, que hoje representa os Beatles, está disponibilizando apenas a versão com três discos – dois CDs trazem os registros oficiais e outro, traz takes alternativos e versões acústicas.

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