Carrie Fisher posando ao lado de um Stormtrooper em Londres, Inglaterra, no dia 23 de maio de 1980. A atriz estava na cidade divulgando o filme <i>Star Wars: Episódio V - O Império Contra-Ataca</i>. - AP

Ponto de vista – relembrando Carrie Fisher, a eterna Princesa Leia

A personagem mudou a representação feminina no cinema

Paulo Cavalcanti Publicado em 28/12/2016, às 09h32

A primeira impressão que Carrie Fisher causou no público que acompanhava as novidades cinematográficas na década de 1970 não foi no papel de Princesa Leia Organa na trilogia original de Star Wars. Em 1975, em Shampoo, filme dirigido por Hal Ashby e estrelado por Warren Beatty, ela vivia Lorna, filha de uma das várias amantes de George, o cabeleireiro mulherengo vivido por Beatty. A aparição de Carrie foi rápida, em apenas duas cenas. Mas foram memoráveis: a garota estava no mapa e prestes a consegui coisas melhores.

Sem muita pausa, ela foi convidada a participar de um novo projeto de George Lucas. Era um filme que ele tentava fazer havia muito tempo, mas só recebia a porta na cara. Na época do mega realismo dos anos 1970, ficção e fantasia eram consideradas gêneros “infantis”. Ao assinar o contrato para viver a Princesa Leia, Carrie fez muito mais do que entrar em um projeto de sucesso e que iria se tornar lucrativo para todo mundo: ela se lançou à imortalidade e se tornou um ícone pop.

A Princesa Leia era o ponto convergente em Star Wars, o coração e alma de toda a trama. Era para ela que os rebeldes deveriam se reportar no combate às forças expansionistas e opressoras comandadas pelo sinistro Darth Vader. Ela dava as palavras de ordem e incentivo. Leia funcionava como uma mistura de guerreira, espiã e diplomata. A princípio, ela resistia ao assédio do galanteador Han Solo (Harrison Ford). Só confiava nos robôs C-3PO e R2-D2; o que importava para ela era apenas a causa.

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O papel da Leia e todo o esforço que Carrie aplicou nele têm sido debatidos exaustivamente no circuito de fãs. Ela se tornou um ícone feminista e matriarca das mulheres no universo dos filmes de ação. A atriz era possessiva em relação à personagem a qual deu vida. Carrie falou sobre isso à Rolling Stone no final do ano passado, quando estava preste a estrear Star Wars: O Despertar da Força. Ela dizia que a personagem nunca foi uma “donzela em apuros”. “Ela mandava neles”, diz. “Não sei qual é sua ideia de apuros, mas não era isso! E eu não era nenhuma beldade correndo pela galáxia com os peitos balançando.” Mas se divertia quando alguma garota fazia cosplay de Princesa Leia e vinha pedir para tirar uma foto. “Os rebeldes nunca serão derrotados, estão em todas as partes”, falava se divertindo.

Carrie, como artista e mulher, durante os 60 anos em que esteve entre nós, levou uma vida muito interessante e produtiva longe da princesa que se vestia de branco e rondava as galáxias procurando derrotar os vilões do Império. Ela se destacou também como roteirista e autora. Seu livro Lembranças de Hollywood foi adaptado para a tela grande em 1990. Recentemente lançou Memórias da Princesa, em que recordava os altos e baixos da franquia. Carrie também fazia sucesso em espetáculos autobiográficos de stand-up.

Mas ela se aproveitava da imortalidade que a Princesa Leia havia dado a ela, dizia: "Eu sou a Princesa Leia, não interessa o resto. Se estou querendo uma mesa em um restaurante, não saio falando que escrevi algum livro. E se estou sem meu RG, não falo que participei de Harry e Sally – Feitos um para o Outro. Vai estar escrito ‘Princesa Leia’ em minha lápide”.

A primeira aparição da Princesa Leia no primeiro Star Wars foi através de um holograma. E a última, agora em Rogue One: Uma História Star Wars, por meio de uma reconstrução digital. Carrie se foi, mas a Princesa ainda vai permanecer.

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