Badi Assad, Adriano Grineberg e a banda holandesa The Jig completaram a programação
Antônio do Amaral Rocha Publicado em 17/08/2014, às 15h03 - Atualizado às 15h29
O tecladista, cantor e compositor Adriano Grineberg é um obsessivo pesquisador das origens do blues. Abrindo a primeira noite desta sexta-feira, 15, da segunda etapa do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival, ele apresentou parte do resultado de suas pesquisas que descobriu em viagens pela África, por países como África do Sul, Nigéria e Mali. Fez um show baseado no álbum Blues For Africa e ficou demonstrado que suas teses em busca de um elo blues e África fazem todo sentido. Temas da tradição iorubá apresentam ligação com lamentos do canto gospel e mostram aproximação com o blues. Para demonstrar “sua tese”, Grineberg veio acompanhado de guitarra (Edu Gomes), baixo (Rodrigo Jofré), bateria (Sandro Grineberg) e percussão (Felipe Romano), logo conseguindo boa comunicação com o público, ainda em expectativa, do espaço Costazul. Fez um show enxuto de uma hora e encerrou com uma versão de “What’d I Say”, de Ray Charles.
Badi Assad e o multi-percussionista Marcos Suzano entraram logo em seguida e o público começou a se dar conta das surpresas da noite. Badi, que além de festejada violonista, é também cantora e compositora com carreira internacional consolidada em vinte anos de estrada, fez uma apresentação que incluiu temas escolhidos entre os seus onze discos lançados, e especialmente do último Amor e Outras Manias, além de covers de clássicos brasileiros e internacionais conhecidos. Para Badi, a voz não é só um elemento de canto, mas também e especialmente um elemento percussivo. E isso ela faz de maneira sui-generis, tirando sons inusitados, a ponto de parecer que três vozes estão presentes. Sempre com a ajuda da cozinha de Suzano, Badi surpreendeu com “Ponta de Areia” (Milton Nascimento e Fernando Brant), “Sweet Dreams” (Eurythimics), “Mulheres e Cunhatãs” (Badi Assad) e “Banca do Distinto” (Billy Branco). Ainda inovou apresentando algo que ela chamou de “pagoblues” numa versão de “Vacilão” de Zeca Pagodinho. No bis, fez sozinha diversos temas em improviso vocal, incluindo uma estonteante citação de “Asa Branca”, com sons tirados a partir de toques no pescoço. Badi é uma bela figura no palco e cativou a plateia com sua simpatia e genialidade.
A banda holandesa The Jig fez o terceiro show da noite. Com uma formação de bigband, incluindo teclado, baixo, guitarra, bateria e um naipe de metais com sax tenor, sax barítono e trompete, fizeram um show movimentado, alegre e dançante, com temas próprios de jazz, com levada soul e R&B. Deu para notar que vieram preparados para conseguir a adesão da plateia brasileira, pois o líder se comunicou falando português a partir de uma cola que não conseguiu esconder e cumpriram bem a função.
O trompetista Randy Brecker, uma lenda viva do jazz, com trabalhos na carreira que incluem de Frank Sinatra a Bruce Springsteen, fez o show que pode ser considerado o de mais difícil fruição nesta sequência do Rio das Ostras Jazz e Blues Festival, acompanhado de guitarra (Mitch Stein), baixo (o brasileiro André Vasconcellos), teclados (Oli Rockberger) e bateria (Rodney Holmes). Brecker não faz concessões ao fácil e grande parte dos temas são tocados com uso de partituras. Lógico, houve espaços para os improvisos habituais, e neste show o destaque foi a bateria de Holmes, mas a percepção é de um show tradicional de jazz onde cada músico tira o máximo de sua performance. No caso de Brecker, que tem um disco gravado no Brasil, Randy no Brasil, além de ter sido casado com a pianista brasileira Eliane Elias, transparece a ideia de que ele já não tem que provar mais nada, por isso mesmo fez uma apresentação que pode ser considerada fria e burocrática.
O show de fechamento desta noite botou fogo no público do espaço Costazul, calculado em 15 mil pessoas, e poucos poderiam fazer ideia do que viria. Acompanhado apenas de bateria (Richie Monica) e baixo (Francesco Beccaro), o guitarrista Popa Chubby é um incendiário de plateias e esmerilhou o quanto pode a sua guitarra já ralada em temas de blues e blues rock. Tocando a maior parte do tempo sentado, pois apresenta dificuldades para se locomover por causa do sobrepeso, Chubby parece se apresentar para desconstruir a música e temas conhecidos recebem tratamento até irônico pela forma com interpreta e improvisa. Além do trabalho autoral, conhecido apenas por público restrito, Chubby fez citações de Beethoven e versões desconstruídas de “Somewhere Over the Rainbown”, o tema de “The Godfather” e “Hallelujah” (de Leonard Cohen), quando foi acompanhado por um coro de centenas de vozes. No dia seguinte, sábado, 16, Chubby repetiu a mesma performance no palco da Lagoa de Iriry e nos dois casos fez um show para não se esquecer.
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