Marcelo Jeneci e Cat Power também se apresentaram no segundo dia do evento, que aconteceu em São Paulo, no Audio SP
Lucas Brêda
Publicado em 30/11/2014, às 08h14 - Atualizado em 01/12/2014, às 18h34As facetas pop de dois gêneros ganharam o público no segundo dia de Popload Festival, em São Paulo: a do folk, com The Lumineers, e a do indie, com o Metronomy. As duas bandas – últimas a tocar no palco principal – fizeram as apresentações mais celebradas do último sábado, 29, que também contou com os shows “deslocados” de Marcelo Jeneci e Cat Power (tocando pelo segundo dia seguido no festival).
Chegando a segunda edição em 2014, o Popload Festival tem como objetivo atrair um público jovem e “antenado”, priorizando artistas contemporâneos, em detrimento daqueles já consagrados. Realizado no Audio SP, o festival também ganhou cara de “balada”, com um palco secundário dedicado à música eletrônica (nele se apresentaram Mixhell, 2manydjs e Nepal), e também teve uma “praça de alimentação”, com bar e barracas de foodtruck.
Se por um lado, as novidades tornaram a experiência mais agradável – fazendo com que o evento não se limitasse a “apenas” uma série de shows –, elas também foram um obstáculo para algumas apresentações. O primeiro artista a tocar no segundo dia de festival, Marcelo Jeneci, foi também o primeiro a sofrer com uma parcela dispersa e barulhenta do público, indiferente à apresentação emotiva do músico.
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No palco, o cantor paulistano passeou por faixas de toda a carreira dele, das mais sofisticadas como “Alento” (de De Graça, 2013), à solene “Pra Sonhar” (Feito Pra Acabar, 2010), passando pela oportuna cover de Hyldon, “Vamos Passear de Bicicleta?”. O otimismo singelo da atual fase de Jeneci surgiu com “O Melhor da Vida”, seguida por “Um de Nós”, “Temporal”, “Pense Duas Vezes Antes De Esquecer” e “Feito Pra Acabar”.
Antes de o paulistano começar a comandar os teclados e acordeões, a pista principal ainda era pouco ocupada, mas, ao fim da apresentação, os espaços já haviam sido bem preenchidos, e Jeneci ainda agradeceu a Kevin Parker (vocalista do Tame Impala, headliner no dia anterior do festival) antes de encerrar o show. Com apenas um palco para as atrações principais, a organização teve de fazer a troca de equipamentos em apenas 20 minutos, e foi pontual em praticamente toda a noite.
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Confusa e melancólica
Sem a aparência doce do auge da carreira, mas menos agressiva do que nos últimos anos, Cat Power voltou ao palco do Popload Festival no segundo dia consecutivo para tapar o buraco deixado pelo Beirut (que cancelou a vinda ao Brasil) no line-up. Diferente de sexta, 28, quando deixou o palco após entrar em atrito com uma pessoa da plateia, a cantora levou a apresentação até o fim, pedindo desculpas em quase todas as performances e interagindo de forma instantânea com o público.
O show de Chan Marshall, como ela também é conhecida, foi de longe o mais tocante e verdadeiro do evento, o que não significou unanimidade de público. Com uma apresentação deslocada no festival, ela enfileirou números intimistas e extremamente pessoais – quase sempre interrompidos na metade – para parte da plateia que a ovacionou, enquanto o restante sequer parecia entender o que estava acontecendo no palco.
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Aos 42 anos e grávida (como ela faz questão de lembrar), Cat divagou sobre o amor (“cuide de quem te ama, e não apenas de quem você ama”) e línguas (“português é a mais difícil), confessou sofrer por estar sóbria (“de cigarros e maconha”), admitiu estar “totalmente para baixo” e disse que “não consegue mais fazer música”. Os diálogos foram pouco entendidos, uma vez que a cantora falava baixo e distante do microfone.
De forma displicente, ela chegou a “compor” uma canção durante o show, improvisando versos sobre uma base de três acordes à guitarra. Cat perguntou à plateia qual faixa eles queriam ouvir, homenageou Kurt Cobain, esbarrou por vezes no microfone e deu fim à apresentação dizendo que os assistentes já poderiam retirar os equipamentos, mas ela ficaria ali conversando com o público. Confusa e melancólica – como o próprio show que fez –, a cantora foi embora com os olhos marejados, carregando guitarra e pedal de efeito nos braços.
Nos braços do público
A plateia do Audio SP só pegou fogo de vez quando The Lumineers ocupou o palco do Popload Festival. A banda norte-americana deu início ao show com “Submarines”, uma das faixas do bem vendido disco de estreia autointitulado. E já na segunda do setlist, “I Ain't Nobody's Problem” (cover de Sawmill Joe), o público até então desatento e dividido se juntou para o primeiro grande coro da noite.
Com um folk tradicional embebido na música pop – e nos gritos de “ei” e “ou” –, o grupo encantou o público geral à primeira vista e entregou performances intensas aos muitos fãs presentes. “Flowers in Your Hair” veio em seguida, abrindo caminho para o maior hit do Lumineers, “Ho Hey”, convidando pista e camarote, abarrotados à esta altura, para cantar as palavras que dão título à faixa.
Uma cover de Bob Dylan, “Subterranean Homesick Blues”, ganhou espaço no repertório, assim como “Dead Sea”, “Slow It Down” e uma faixa nova – um dueto com poucas novidades entre Wesley Schultz (vocal e violão) e Neyla Pekarek (vocal e violoncelo). Após o bandolim dar a tônica em “Charlie Boy”, Schultz e o baterista Jeremiah Fraites pediram a um segurança para abrir espaço na plateia e foram andando até um pequeno palco, localizado bem no centro da pista lotada.
A façanha é comum nos shows do Lumineers, e até mesmo o pianista e bandolinista Stelth Ulvang deixou o palco e foi correndo aos camarotes, carregando um acordeão e gritando os versos das músicas, quase como um anônimo. Nos braços do público, a dupla cantou as ternas “Darlene” e “Flapper Girl”, provocando um rebuliço tremendo, e depois voltou ao palco.
Particularmente animado, tirando e recolocando o chapéu, Schultz liderou o grupo na performance expansiva e grandiosa de “Stubborn Love” – mais uma com o grito de “ô” –, decorada com os arranjos de violoncelo de Neyla Pekarek. A contagiante “Big Parade” pôs ponto final na apresentação do Lumineers.
Indie pop “sem vergonha”
O Metronomy não é uma banda tão recente quanto o Lumineers, e há alguns anos não vem a São Paulo. Por isso, o grupo resolveu dar atenção maior a todos os quatro discos da carreira, e não apenas ao álbum Love Letters, lançado este ano. A escolha se mostrou certeira logo na abertura, com “Holidays” e “Radio Ladio”, ambas de Nights Out (2008), transformando o Audio SP em uma grande pista de dança.
Depois de “Love Letters”, os britânicos passearam pelo álbum The English Riviera (2011), com a dupla “Everything Goes My Way” – cantada pela baterista queridinha Anna Prior – e “The Look”. Do novo disco, a banda tocou “I'm Aquarius” e “Reservoir”. Mais refinadas, as faixas refletem a fase atual do Metronomy, após ter experimentado um tipo de gravação analógica e ser aclamada pela com Love Letters.
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O quarteto – que no palco vira quinteto – não precisou falar muito: os trajes idênticos e as danças enfáticas, principalmente do baixista Olugbenga Adelekan, já eram suficientes para ganhar a plateia por completo. Mesmo assim, o vocalista, tecladista e guitarrista, Joseph Mount, brincou: “Sou a primeira pessoa que vocês vão ver quebrando uma pandeirola”, após jogar e pegar de volta o instrumento rachado no meio.
O clima deu uma esfriada com mais uma canção de Love Letters, “Never Wanted” – assim como aconteceria depois com “The Upsetter” – mas voltou a esquentar com o teclados da hipnótica e instrumental “Side 2”, os refrãos em falsete de “Corinne” e o hit “A Thing for Me”. O tecladista Oscar Cash ainda aumentou a celebração ao assumiu os vocais para uma cover fiel de “Here Comes the Sun”, dos Beatles.
O setlist também teve “Month of Sundays”, “Boy Racers” e “Heartbreaker”, entre outras, e um encerramento com direito a bis – repetindo o que o fez o Tame Impala no dia anterior – com a avassaladora e instrumental “You Could Easily Have Me”. Fazendo um indie pop “sem vergonha”, mas sem se deixar levar pelo óbvio, o Metronomy encerrou com carisma e eficiência o Popload Festival 2014, que chega ao segundo ano de existência se consolidando como uma opção eficaz a um público ainda carente deste tipo de evento no Brasil.