Sam Taylor-Wood, diretora de O Garoto de Liverpool, fala com exclusividade à Rolling Stone Brasil sobre o desafio de dirigir o filme, que conta a juventude rebelde do ex-beatle
Por Pedro Caiado, de Londres Publicado em 03/12/2010, às 12h41
Conhecida na Inglaterra por sua controversa "arte conceitual", seja pelo famoso vídeo que mostra o sono profundo de David Beckham ou pela sequência de fotos em que estrelas de Hollywood choram depressivamente, a videoartista e fotógrafa britânica Sam Taylor-Wood estreia na direção com o longa-metragem O Garoto de Liverpool, que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta, 3. O filme expõe a tensa relação entre John Lennon (interpretado pelo ator Aaron Johnson), sua tia Mimi (Kristin Scott Thomas), que o criou, e sua mãe, a ausente e independente Julia (Anne-Marie Duff).
Em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil, em Londres, a diretora falou sobre o início da carreira e os desafios e triunfos na direção deste filme, que retrata a adolescência de Lennon em um período anterior aos Beatles, revelando o homem por trás da musica. Ela também explica porque decidiu não realizar um filme biográfico, mas sim uma história fictícia baseada na realidade.
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Como foi que você chegou ao projeto de O Garoto de Liverpool?
Eu estava desesperada para achar um bom roteiro e embarcar no cinema. Comecei a ler vários scripts, mas nada me chamava a atenção. Estava quase achando que o problema era comigo, de não saber ler roteiros [risos]. Um dia recebi uma ligação de um colega dizendo ter encontrado o roteiro perfeito para mim. Lendo aquela história eu senti que entendi a jornada que Lennon percorreu, houve uma sinergia. O Garoto de Liverpool me acertou no estômago, mas eu tive que lutar para dirigi-lo, pois eles [os responsáveis pela produção do filme] esperavam alguém mais experiente.
O que mais chamou sua atenção no roteiro?
Eu não tinha ideia da história da juventude de John Lennon. Não sabia de onde ele tinha vindo ou quais eram seus traumas. Concluí que aquela seria uma história boa de se contar. Havia muito daquela apreensão do adolescente, o que realmente mexeu comigo.
Você se sentiu intimidada em realizar um filme sobre pessoas tão importantes na história da música?
Sim, bastante. Eu era ingênua até pisar em Liverpool, onde eu pude sentir a grandeza de Lennon e sua importância. Até então eu achava que um ótimo roteiro e uma ótima história sobre o amadurecimento de Lennon me respaldavam. Mas pisar em Liverpool me fez perceber que eu havia mergulhado em um projeto realmente grande. Naquele ponto, percebi que estava carregando o peso de um grande ícone. Antes das filmagens me perguntei se realmente eu seria capaz de seguir adiante.
Você, como artista independente, tem liberdade de criação, mas no papel de diretora devem ter existido restrições e responsabilidades com produtores, com a indústria. Para quem você fez este filme?
Não pensei neste filme como um produto, nem qual público eu estaria agradando. Eu queria tentar fazer o melhor. Se eu pensasse assim, provavelmente congelaria e não o faria. Tive alguns daqueles momentos de pânico, a responsabilidade era grande.
O Garoto de Liverpool não é um filme biográfico, mas uma história de amor. Você pensou desde o início em não realizar um filme biográfico?
Não pensei desta maneira. O roteiro de Matt Greenhalgh [que também escreveu Control, sobre Ian Curtis] era muito específico em relação à linha do tempo. Era a história de relacionamento entre Lennon, sua mãe e sua tia, e não sobre o sucesso de Lennon e dos Beatles. O roteiro evita o nome da banda, que não é citada durante o filme. Penso que isso é ótimo, pois enfoca a história de Lennon. Obviamente todos nós sabemos o que ele se tornou.
Quão importante foi para você manter este filme honesto em relação aos fatos?
Foi difícil desde o início. Eu gosto de sentir que a verdade nunca vai interferir numa boa história, mas tive de deixar a verdade interferir nesta. Entrei em contato com Yoko Ono e Paul McCartney para obter o máximo de detalhes sobre Lennon. McCartney revelou preciosas particularidades sobre o comportamento dele, como seu problema de visão, as conversas. Yoko estava mais preocupada na imagem de Mimi, pois para muitos ela havia sido retratada como uma mulher ruim. Yoko me alertou que John amava Mimi e que ela amava John. Isso realmente me ajudou muito ao filmar esses personagens.
Como foi o processo de escolha do ator principal? Havia muitos sósias no teste de elenco?
Foi um processo emocionante. Eu devo ter visto umas 20 pessoas antes de Aaron Johnson aparecer. No momento em que ele sentou na minha frente eu sabia que seria ele. Durante o teste ele conversava consigo mesmo, tinha o olhar correto, o sotaque, o tipo de intensidade que eu procurava em um ator para interpretar Lennon. Mesmo assim, segui com o teste com mais 300 atores para ter a certeza de que Aaron era a escolha certa. Eram tantos sósias de Lennon e McCartney que cheguei a pensar se seria melhor escolher um deles para ganhar a identificação do público. Porém, resolvi optar por atores que, apesar de não lembrarem fisicamente os músicos, convencem por meio de intensas performances. No fim o público esquece que os atores não são parecidos. No final do filme já não importa se Aaron não é idêntico a Lennon, pois ele convence quando incorpora o "espírito" de Lennon.
Aaron teve de aprender a tocar guitarra?
Aaron e Thomas Brodie-Sangster [Paul McCartney no filme] tiveram que aprender a tocar guitarra, cantar e falar com o sotaque do norte da Inglaterra, que é bem complicado de se copiar, além de incorporar o espírito e a alma dos músicos.
Como você desenvolveu o personagem de Lennon jovem, já que não há muitos registros do ex-beatle antes de ele se tornar famoso?
Nós decidimos que o Lennon que nós conhecemos não se formou até sua mãe falecer. Aquele foi o ponto que o mudou para sempre. Antes da morte de sua mãe ele viveu um processo de amadurecimento. Depois disso, seu comportamento, sua expressão corporal, o jeito de se vestir e até seu rosto mudaram - até ele encontrar Yoko. Nós fizemos muita pesquisa, assistimos a muito material no processo.
Paul McCartney parece não ter gostado da cena em que Lennon bate nele. Aquela cena foi real?
Paul disse: "Vi o seu filme. Eu não lembro de Lennon ter batido em mim". Mas ele também disse quando eu o encontrei recentemente: "Gostei do filme. Entendo que este é um filme [ficcional] e não um documentário". O roteirista achou necessário incluir aquela cena para criar o momento em que Lennon e McCartney reconhecem uma grande perda. Há cenas do filme que obviamente são dramatizadas.
Como foi a transição do trabalho fotográfico e de videoarte do passado para um longa-metragem de narrativa tão tradicional?
Senti que foi uma progressão surpreendentemente natural, como se eu tivesse treinando para dirigir por um tempo. Durante as filmagens havia uma continuação do meu trabalho como videoartista e fotógrafa. Mas editando eu tive de ser mais tradicional para poder contar a história da melhor maneira possível. Muitas cenas eu gostaria de ter mantido, mas tive de cortar porque elas fugiam da narrativa da história que eu queria contar.
Assista abaixo ao trailer de O Garoto de Liverpool:
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