Além de ter envelhecido mal, uma das personagens principais da franquia fica de fora de And Just Like That
Ej Dickson | Rolling Stone EUA. Tradução: Gabriela Piva @gabriela_piva (sob supervisão de Yolanda Reis) Publicado em 15/02/2021, às 12h28
Existem muitos motivos para And Just Like That, próximo revival da HBO Max, ser uma péssima ideia. Há o fato da versão mais recente da franquia, Sex and the City 2, ter sido lançada há mais de uma década. Além disso, o filme não foi bem avaliado pela crítica pelo tempo de execução, islamofobia inerente e roteiro desajeitado.
E há o fato de, embora aclamado pela crítica como subversivo na época do lançamento, Sex and the City envelheceu mal por apresentar uma fantasia da cidade de Nova York onde todos são brancos, magros e heterossexuais.
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Mas a razão principal para o reboot de Sex and the City ser uma péssima ideia é a ausência de um dos personagens principais e a alma da franquia: a publicitária sexualmente voraz Samantha Jones (Kim Cattrall).
Cattrall cravou uma guerra pública com atrizes principais do elenco de Sex and the City - Sarah Jessica Parker como a escritora Carrie Bradshaw; Cynthia Nixon como a rígida advogada Miranda Hobbes; e Kristin Davis como a galerista Charlotte York - por anos, acusando-as de exclusão. (Em certa altura do campeonato, houve uma disputa sobre um convite para um imóvel alugado durante as filmagens nos Hamptons.)
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A atriz de Samantha recusou participar de outro filme da franquia. Se a postura dela é justificável ou não, depende de vários fatores, como, por exemplo, se você tende a se alinhar com o oprimido (neste caso, Cattrall) ou se você é um fã de sapatos de celebridades por mais de R$ 2 mil (U$S 400, convertido na quinta, 11). Quem torce por um reboot de SATC sabia da ausência de personagem, confirmada pelo teaser de And Just Like That.
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Mas um revival de Sex and the City sem Samantha fica longe de alcançar o mesmo nível dos filmes anteriores. Como até mesmo os maiores críticos de SATC sabem, o filme não é nem sobre sexo, nem sobre cidade, nem sobre sapatos, nem sobre a fenda do queixo de Chris Noth: é sobre o poder duradouro da amizade feminina. A ausência de uma das amigas do grupo central trai essa ideia.
Em um mundo diferente, em uma série diferente e com um ator diferente, Samantha não teria passado de uma mera caricatura. A libido da personagem beira a comédia por alcançar um nível de tesão raramente visto fora de um pornô. Além da propensão para piadas mal-humoradas ao estilo Mae West e um nível de confiança inatural.
Mas, apesar do caráter caricatural do personagem e comportamentos politicamente incorretos da história, Samantha também apresenta uma abundância admirável de qualidades: não se desculpa pelo estilo de vida, rejeita continuamente profissionais de saúde críticos e esposas esnobes da sociedade.
Diante da adversidade,é incansável, como visto na última temporada quando, ao lutar contra um câncer de mama, fez um discurso franco e vulgar em um evento beneficente da doença onde todos os participantes acabaram jogando suas perucas no ar.
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Acima de tudo, Samantha é profundamente leal aos seus amigos. Em um chá de bebê, quando Charlotte acusa uma mulher grávida de roubar o nome de seu futuro filho, Samantha não hesita em xingar a grávida e tirar amiga da festa; quando Carrie conta de caso com seu ex-parceiro, Samantha não a julga por tal transgressão.
Os críticos acusaram as quatro mulheres no centro de Sex and the City de superficialidade e egocentrismo, mas isso não se aplica tanto a Samantha. Na verdade, apesar de ser a integrante mais hedonista e indulgente do quarteto, é indiscutivelmente a mais ética.
É difícil enfatizar o tamanho do desempenho de Cattrall nisso. Embora expressasse frases como “você namora o Sr. Grande, eu namoro o Sr. Grande demais”, a competição não passa de uma paródia realizada para além do material criado pelos escritores. O melhor exemplo disso é quando Richard (James Remar), o hoteleiro estúpido e único homem a realmente conquistar Samantha, a trai. Depois de flagrá-lo em sexo oral com uma mulher qualquer, a personagem quebra a pintura de um coração no joelho. "Agora seu coração também está partido,” soluça. Nas mãos de um ator menor, a linha seria risível. Mas Cattrall fala com uma tristeza e convicção tão requintadas a ponto de ser difícil não ter seu coração partido junto com o dela.
Os críticos não hesitam em apontar as múltiplas falhas de Sex and the City, suas atitudes em relação à raça e sexualidade entre eles (lembra quando Samantha "se torna" lésbica?). Além disso, poucos destacaram a atuação virtuosa de Cattrall, como preenche com agilidade uma caricatura com vigor - apesar da atriz ter se sentido miserável na duração da série. (Teria sido muito maltratada por Parker; o fato dele ter sido publicamente gentil e irritantemente graciosa em contrapartida às acusações recebidas faz Cattrall parecer mesquinha - e isso aumenta minha crença em suas alegações.) Nada vai me fazer rir ou disparar meu coração como Samantha defendendo suas escolhas de vida para Carrie.
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Houve muita discussão sobre como o reboot de Sex and the City lidará com a ausência de Samantha. Cattrall gostaria de ver a personagem reformulada, talvez com uma mulher negra ou uma pessoa não-binária - um objetivo louvável - para encobrir a personagem branca e privilegiada. Enquanto isso, Parker respondeu às objeções dos fãs dizendo: “Samantha não faz parte desta história. Mas sempre fará parte de nós. Não importa onde estivermos.”
Provavelmente, os roteiristas a mataram, talvez pelo câncer de mama pelo qual lutou tão bravamente na temporada final do programa. Isso me parece uma traição à persoangem e à própria Cattrall. Os principais do programa são versões fantasiosas de mulheres e, por definição, não morrem.
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Matar casualmente a mulher com quem passou quase duas décadas encenando - com grande custo pessoal, de acordo com ela - parece um tapa na cara. Mas acima de tudo, SATC sem Samantha é um insulto aos fãs que passaram 20 anos se apaixonando pelo mundo construído pelo show e pelas mulheres nele. Portanto, a versão completa deveria ser a única aceita e digna de um reboot.
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