Novos rumos da franquia podem salvar universo dos piratas da dependência de um personagem problemático
Larissa Catharine Oliveira | @whosanniecarol Publicado em 27/08/2020, às 07h00
Piratas do Caribe pode seguir em frente sem Johnny Depp, como indicam rumores da indústria cinematográfica sobre o reboot da franquia. Apesar do último filme da saga, A Vingança de Salazar (2017), ter sido lançado após o divórcio conturbado do ator com Amber Heard, que o acusou de violência doméstica, a Disney não parece disposta a contratá-lo com o novo processo envolvendo o ex-casal. Provavelmente, a escolha seja a melhor - e a culpa é de Jack Sparrow.
Independentemente da opinião sobre a veracidade das acusações feitas por Amber, grande parte do público não consegue imaginar Piratas do Caribe sem a presença do personagem de Depp. Quando os rumores sobre um novo filme sem o ator ganharam força, as redes sociais foram inundadas por comentários contrários à possibilidade.
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Assistindo piratas do Caribe e só consigo pensar que estão querendo fazer um piratas do Caribe sem o Johnny Depp, isso não faz sentido, ele é a alma do filme
— 𝖞𝖆𝖘𝖒𝖎𝖓 (@yasjpg) July 7, 2020
piratas do caribe sem o Depp seria ridículo, com todo respeito.
— Allace (@All4ce) July 18, 2020
Sem Johnny Depp, Piratas do Caribe não existe.
— 🔥 (@uivosdoluar) August 25, 2020
piratas do caribe sem o Johnny Depp nao existe malditos
— Gabriel (@_gabrielleto1) August 25, 2020
Segundo o site The Hollywood Reporter, a Disney pretende fazer o novo filme com Margot Robbie como protagonista, mas poderia envolver Depp na trama de alguma forma caso “as polêmicas acabem” - algo improvável com os processos de difamação movidos pelo ator contra o jornal The Sun e a ex.
Essa mudança radical e impopular pode significar um novo horizonte para os Piratas. Ao longo de cinco filmes, o roteiro se tornou “enfadonho, repetitivo, extenuante”, nas palavras da Rolling Stone EUA. Quanto mais do mesmo - especialmente em tempos tão diferentes - o público pode suportar?
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Os filmes foram inspirados por uma atração dos parques da Disney. Inaugurado em 18 de março de 1967, é um dos mais populares dos parques e estava entre os favoritos do próprio Walt Disney. No percurso, o público viaja em pequenos barcos para conhecer a ação de piratas na região do Caribe, por volta do século 17. Após o sucesso dos filmes, a atração reproduz os cenários e personagens dos cinemas.
Além dos comentários sexistas de Sparrow, existe um problema mais profundo nas origens do personagem. Uma parte da atração da Disney original mostrava mulheres traficadas à venda em um “leilão de noivas”. “Aqui os navegantes estão leiloando as belezuras da cidade”, explicou Walt Disney ao demonstrar o projeto. O trecho apenas retirado da atração em 2017, de acordo com o NPR, e foi substituído por uma mulher pirata. A cena original ainda é reproduzida em algumas unidades, como no parque de Paris.
Nada disso teria alguma relação com Jack Sparrow, mas um curta-metragem oficial da franquia encenou o leilão de noivas e explicou a relação do capitão do Pérola Negra com duas mulheres prostituídas em Tortuga. Na prequel Tales of the Code (2011), incluída em uma versão comemorativa de DVDs, Scarlett e Giselle se arrumam para casar com Sparrow, mas logo descobrem a enganação. Ambas foram traficadas e leiloadas para piratas assustadores.. No final do curta, a ruiva mostra que sabotou o barco do pirata, e por isso Sparrow naufraga quando entra em cena no primeiro filme. Sim, Jack Sparrow traficou mulheres. Existe uma grande diferença entre a moral egoísta do personagem com a participação efetiva em um crime hediondo, algo inaceitável na cultura atual.
O mundo era um lugar diferente quando os primeiros filmes foram lançados e a figura de Sparrow se estabeleceu como grande protagonista, apesar de ter sido concebido como um coadjuvante. Antes do movimento Me Too e de uma onda de conscientização virtual, essas temáticas não seriam amplamente discutidas. Apesar da justificativa histórica, ter um protagonista com constantes piadas machistas e um passado obscuro está na contramão nas recentes tendências na indústria, cada vez mais inclusivas.
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As personagens femininas em Piratas do Caribe merecem mais. Todas apresentadas até o momento na franquia foram completamente subdesenvolvidas. Desde Elizabeth Swann, muitas vezes mais destemida que qualquer pirata, até a inteligentíssima Carina Smyth, mesmo as figuras femininas com maior tempo em tela não receberam uma chance digna de desenvolvimento. Um novo filme com uma protagonista feminina segue a tendência abraçada por franquias como Caça-Fantasmas, Oito Mulheres e um Segredo e Thor, da Marvel.
É verdade que o personagem carismático e emblemático merece créditos pelo sucesso dos filmes, mas a franquia concretizou os receios dos produtores durante as filmagens de O Baú da Morte (2006), segundo filme. "Não queremos apenas um filme do Jack Sparrow. Ele é a pimenta", comentou o diretor Gore Verbinski em entrevista ao IGN em 2007 (via Cinelinx). "Não vamos dar muito Jack [ao público]. É como ter sobremesa ou algo bom em excesso".
A própria reação do público mostra a enorme dependência dos filmes com a figura central de Sparrow. Nenhum dos outros personagens principais, sejam vilões ou mocinhos, apareceram com tanta frequência e tempo de tela quanto ele. Apesar disso, o personagem demonstrou pouco crescimento e fica preso em um ciclo de "mais do mesmo".
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Apesar do sucesso nas bilheterias até então, sempre superiores aos US$ 670 milhões do filme de estreia da franquia e duas vezes bilionária, em 2006 e 2011, a chegada de uma nova década marcada por grandes mudanças culturais exige transformações mais profundas para manter a saga interessante.
A saída de Depp pode salvar Piratas do Caribe da dependência do ator e dar vida própria ao universo criado pela franquia - e, quem sabe, garantir um futuro para os personagens já amados pelo público.
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