A banda de metal brasileira foi a responsável por atrair maior público no segundo e último dia de festival
Lucas Reginato, de Brasília Publicado em 09/09/2012, às 11h28 - Atualizado em 10/09/2012, às 13h00
Se no primeiro dia da 15ª edição do Porão do Rock foi o Raimundos a atração mais aguardada; no segundo dia quem gerou grande expectativa no complexo esportivo Nilson Nelson, em Brasília, foi o Sepultura, que assim como os colegas brasilienses haviam feito na véspera, fez uma viagem pela carreira durante o show.
Ao contrário do que havia acontecido na sexta, 7, o primeiro show do sábado começou pontualmente, o que colaborou para que atrasos acontecessem mais moderadamente durante toda a noite. Mas, por outro lado, o público presente foi menor do que aquele que havia lotado o espaço no dia anterior.
Vivendo do Ócio
O Vivendo do Ócio, mesmo sendo uma das primeiras atrações da área externa do festival, conseguiu atrair uma quantidade significante de espectadores - muitos deles provaram serem fãs da banda ao cantar refrãos de músicas como “Rock Pub Baby”.
O momento, no entanto, foi de celebração à Bahia, terra de onde vieram os músicos que neste ano lançaram seu terceiro álbum, O Pensamento É um Imã. Além deles, diversos baianos se pronunciaram da plateia, e ali estavam para ver não só estes conterrâneos como também o Cascadura, que tocaria no palco algumas horas mais tarde. Com o refrão “Eu só queria tomar um vento na cara, me deu saudade da Bahia”, a música “Nostalgia” expressou este sentimento coletivo.
Karina Buhr
“Eu Menti pra Você” foi a primeira música que Karina Buhr apresentou no festival, já deixando claro aos presentes que sua passagem não seria só mais uma pelo palco no qual diversas bandas já haviam tocado, para um público que não se surpreendia mais com solos virtuosos e distorções barulhentas.
Karina, acompanhada de sua superbanda que entre outros inclui Fernando Catatau, Guizado e Edgard Scandurra, causou certo estranhamento assim que subiu chegou, diante de um número pequeno de pessoas. Mas a cada música que interpretava, a performance ganhava força e o som, peso, combinação que aos poucos conquistou o público.
Depois de revelar sua tradicional inquietude, a impulsiva cantora recebeu aplausos por um repertório que incluiu músicas tanto do primeiro álbum, Eu Menti Pra Você (2010), como de seu mais recente lançamento, Londe de Onde, do ano passado. “Nassiria e Najaf” foi estendida com seu apocalíptico refrão “dorme logo antes que você morra” para que a cantora apresentasse sua banda e terminasse seu show com “Cara Palavra”.
Sepultura
O Sepultura foi uma das poucas atrações que atrasaram neste segundo dia de evento. Mas os 15 minutos que demoraram para entrar no palco não inquietaram o público – pelo contrário, as milhares de pessoas que lotaram a parte interior do ginásio Nilson Nelson celebraram a banda enquanto esperavam.
A banda abriu seu set list com “Kairos”, “Mask” e “Dialog”, todas do álbum Kairos, lançado no ano passado. Mas a partir daí “começou a velharia”, como anunciou o guitarrista Andreas Kisser para delírio dos presentes.
A primeira viagem no tempo foi com “Beneath the Remains”, de 1988, mesmo ano de “Innerself”, tocada na sequência. “Desperate Cry”, de 1991, “Amen”, de 1993, e “Mass Hypnosis”, também de 1988, foram todas acompanhadas entusiasticamente pela plateia.
O som esteve impecável e o baterista Eloy Casagrande – que estreava no festival enquanto o Sepultura participava pela 5ª vez – mostrou para os fãs da banda que pode substituir a altura qualquer baterista no mundo. Com velocidade e precisão, não deixou nenhuma dúvidas quanto a seu talento.
Por maior que fosse, o ginásio é um espaço fechado, e por isso os gritos do público eram ouvidos com força. O ambiente favoreceu também o excelente jogo de luzes do palco, que esteve durante toda a apresentação freneticamente sincronizado com as canções.
Antes de sair para causar um alvoroço do lado de fora do ginásio, Derrick agradeceu mais de uma vez o público e se despediu com “Altered State”, lançada em 1991 no álbum Arise.
Gaz Coombes
Separado do Supergrass, Gaz Coombes veio ao Brasil para mostrar o trabalho gravado no álbum Here Come the Bombs, sua estreia na carreira solo, lançado em março deste ano. O público, porém, não pareceu disposto a escutar os malabarismos sonoros do músico.
Muita gente conversava enquanto Coombes tocava suas canções, que não carregam o peso de guitarras e distorções onipresentes naquele palco durante a sexta e o sábado. De fato, o show introspectivo do músico britânico não foi feito para um festival.
A atenção foi recuperada quando o vocalista anunciou que tocaria músicas de sua ex-banda. “Moving” e “Sit Up Straight” realmente conquistaram a plateia, que permaneceu mais atenta até o final da apresentação.
O músico pôde, então, em um clima não tão suave, explorar e mostrar a quantidade infindável de sons e timbres que carrega nos pedais. Não só ele como todo o resto de sua banda pareceu bem à vontade para explorar novas texturas, adquiridas principalmente com efeitos eletrônicos. A faixa visceral “Break the Silence” satisfez a necessidade dos presentes por barulho e deixou que Coombes saísse de cena aplaudido.
Kyuss Live!
Minutos antes de entrar para encerrar a 15ª edição do Festival Porão do Rock, o baterista Brant Bjork revelou que a banda mudaria de nome e roupagem musical. Ou seja, no Brasil o grupo fez uma de suas últimas apresentações revivendo o momento áureo do Kyuss original, que durou entre 1988 e 1995.
Mesmo sem saber disto, o público se dispôs a celebrar a banda que carrega a fama de ter sido uma das precursoras do estilo que viria a ser conhecido como stoner rock. As letras cantadas por John Garcia receberam coro de muitos presentes, mas o cansaço começou a tomar conta da plateia no decorrer da apresentação.
A banda abusou de passagens instrumentais longas e solos sem muito brilho que entediaram até mesmo alguns dos mais fanáticos. Mas a apresentação dos principais clássicos da banda, como “One Inch Man”, “Green Machine” e “Gardenia” recompensaram a paciência do público, que aplaudiu bastante após a performance de “White Water”, quando Garcia se comunicou pela primeira vez por meio de econômicas palavras, e jogou seu microfone de presente aos fãs.
Mesmo que o bis não tenha sido muito solicitado – até porque a esta altura grande parte do público já havia ido embora – a banda voltou para se despedir ao som de “El Rodeo”.
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