Disco tinha “That’s All Right (Mama)” no lado A e “Blue Moon of Kentucky” no verso
Paulo Cavalcanti Publicado em 19/07/2014, às 15h11 - Atualizado às 17h41
No dia 19 de julho de 1954 era lançado pela Sun Records, gravadora independente de Memphis, o primeiro single de Elvis Presley, contendo as músicas de “That’s All Right (Mama)”, no lado A, e “Blue Moon of Kentucky”, no verso (ouça abaixo). O disco mudou a história da música popular e deu inicio à carreira do Rei do Rock.
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Elvis tinha gravado as canções no dia 5 de julho daquele ano. Porém, antes mesmo de Elvis pisar na Sun Records, o estúdio localizado na 706 Union Avenue já era conhecido pelas gravações de blues, R&B, country e folk. O proprietário e produtor Sam Philips enxergava longe: queria dar vez para quem estivesse fora do mainstream, especialmente artistas negros. O estúdio de Sam Philips era cobiçado por vários motivos. Memphis era parada lógica para quem transitava pelo sul dos Estados Unidos - era cômodo gravar lá. O uso de eco e reverberação e excelente qualidade sonora dos discos da Sun saltavam aos ouvidos. Sem recursos para lançar os discos por conta própria, Phillips licenciava o material para outros selos, especialmente os do norte do país. O produtor, por exemplo, gravou em 1951 “Rocket 88” com o cantor e saxofonista Jackie Brenston, acompanhado pela banda de Ike Turner, considerado um dos primeiros discos de rock. O material foi licenciado para a Chess, de Chicago. As maravilhas sonoras criadas por Sam Phillips começaram se espalhar pelos Estados Unidos. B.B. King, Rufus Thomas e Howlin’ Wolf foram algumas das lendas do blues que gravaram na Sun, no começo dos anos 50.
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Elvis conhecia bem os discos que saíam da Sun. A romântica e pouco confiável teoria era que ele queria fazer uma gravação para dar de presente para sua mãe. Existiam outros meios mais fáceis, rápidos e baratos para registrar a própria voz. Elvis não precisava entrar em um estúdio de verdade para fazer isso. Ele queria mesmo ouvir a própria voz gravada em um ambiente profissional como o da cobiçada Sun Records. Se nesse processo ele fosse “descoberto” pelo dono do local, melhor ainda.
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O aspirante a cantor pisou na Sun pela primeira vez em agosto de 1953 para registrar em um acetato particular as canções “My Happiness” e That's When Your Heartaches Begin". No dia 4 de janeiro do ano seguinte, retornou à gravadora para fazer outro acetato, desta vez com "I'll Never Stand In Your Way" e "It Wouldn't Be the Same Without You”. Mesmo sem nenhuma produção e com Elvis acompanhado apenas do violão rudimentar, já era possível sentir nessas quatro gravações (todas elas, baladas) um futuro astro. E foi exatamente isto que Sam Philips percebeu quando ouviu as gravações - isso depois de muita insistência de sua secretária, Marion Keisker.
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Apesar de alguns puristas ainda insistirem na ideia de que os brancos usaram a música negra com fins de exploração, basta colocar lado a lado as gravações de “That’s All Right (Mama)” feita por Elvis e por seu autor e intérprete original, Arthur “Big Boy” Crudup, para ver que essa teoria simplesmente “não cola”. Naturalmente, a versão de Crudup, que ele registrou originalmente em 1946 pela RCA (ironicamente, a futura gravadora de Elvis), é ótima, mas em nada lembra o clima de celebração e o frescor que foi alcançado por Elvis, Scotty Moore e Bill Black. O vocal de Elvis é livre e sem esforço, enquanto a interpretação de Crudup é um típico lamento do blues. Com Elvis e músicos, tudo flui. Elvis, Scotty e Bill imprimem a dinâmica da música country a uma estrutura típica de blues.
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Para o lado B, Elvis e trupe aplicaram a mesma equação. “Blue Moon of Kentucky”, era originalmente de Bill Monroe, o pai do bluegrass (o som das montanhas, considerado um dos gêneros musicais mais puros dos Estados Unidos). Uma das principais características do bluegrass é o chamado “high lonesome”, o vocal agudo e cortante. Elvis abandonou os maneirismos regionais da canção e não seguiu o original de Monroe de forma alguma. Se em “That’s All Right (Mama)” ele transformou um blues em country, em “Blue Moon of Kentucky” fez o contrário. A canção caipira ganhou uma cadência de blues acelerado. Quando o disco saiu, há exatos 60 anos, ninguém mais poderia dizer o que era blues, o que era country - mas hoje uma coisa é certa: a mistura intuitiva feita por Elvis já indicava o que, em termos mercadológicos, seria chamado de rock and roll. Elvis nunca se esqueceu de “That’s All Right (Mama)” e resgatou a canção no especial de TV que fez em 1968, conhecido como Comeback Special. E ele interpretou a canção regularmente durante toda a década de 70. Recentemente, o selo inglês Not Now Music relançou o single em vinil, em edição limitada (vide imagem).
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