Em show em São Paulo, Prodigy mostra que ainda pode fazer sucesso nos anos 00 - e que, às vezes, não se reinventar é a saída
Por Bruna Veloso Publicado em 24/10/2009, às 16h27
A imagem do punk, o peso do hard techno e um produtor que sabe misturar a isso algo de ragga, hip-hop e muito do rock. Liam Howlett, 38, fundou o Prodigy e segue até hoje como a mente criativa por trás da banda - mas foi na união de duas figuras fortes no palco (à época, um dançarino do universo raver britânico e um MC que gostava de reggae) que ele formou um dos nomes mais emblemáticos da cena eletrônica dos anos 90. Em apresentação nesta sexta, 23, em São Paulo, o Prodigy mostrou porque não é apenas um revival: muito mais que uma sequência de hits antigos, os britânicos fizeram um show energético, regado a novas composições - mas com o vigor e os beats de antigamente.
Howlett (o produtor), Maxim Reality (o MC) e Keith Flint (o dançarino) subiram ao palco por volta das 23h40, depois de apresentações de Daniel Peixoto, MixHell (o duo eletro de Iggor Cavalera e sua esposa, Laima Leyton) e DJ Marky. Nem de longe Maxim (42 anos) e Flint (40) aparentam a idade que têm: o primeiro assume boa parte dos vocais sem parar de se movimentar pelo palco, enquanto o segundo, com o mesmo corte de cabelo de mais de dez anos atrás, corre como se fugisse de algum demônio imaginário.
"World's On Fire" foi a primeira da noite. Outras quatro faixas seriam tiradas de Invaders Must Die, lançado no início deste ano. Foi esse disco que trouxe o Prodigy de volta aos iPods, depois de alguns anos não tão proveitosos: não bastasse o fim do boom das raves, a caça aos traficantes de ecstasy e o contínuo surgimento de novas vertentes na música eletrônica, em 2004 o Prodigy - sem Flint e Maxim - foi malhado pela crítica e por boa parte de seu público por Always Outnumbered, Never Outgunned (deste, apenas "Spitfire" foi apresentada em SP). Cinco anos se passaram, e eles estão novamente no topo: Invaders... atingiu o nº1 da parada britânica em apenas uma semana, e seguiu, logo após o lançamento, nas listas de mais vendidos de diversos países da Europa.
Ao vivo, com a ajuda de um guitarrista (que assume vez ou outra o baixo) e um baterista, as batidas frenéticas dos programadores de Howlett ganham status de show de rock, abrangência de música pop. E bota pop nisso: "Breathe" (The Fat of the Land), apresentada logo no início do show, foi uma das responsáveis pela "dominação mundial" do Prodigy no final da década de 90 (quem não se lembra do vídeo da música?).
Impossível ficar imune ao caos sonoro de faixas como "Omen", "Poison" e "Firestarter". A expressão psicopata de Flint e os chamados de "All my funcking people" de Maxim incitam uma dança sem nenhuma cadência, quase de movimentos involuntários. E quem foi à Via Funchal com o intuito de dançar, desta vez teve sorte: em 2006, dezenas de milhares de pessoas se espremeram para conseguir assistir à superlotada apresentação do Prodigy no Skol Beats; nesta sexta, era possível caminhar sem dificuldade (a produtora Time 4 Fun não divulga o número de público por questões contratuais).
Depois de cerca de uma hora de show, o grupo mandou "Smack My Bitch Up", outro hit de The Fat of the Land. Maxim comanda a plateia, fazendo com todos se agachem e levantem num pulo na explosão dos versos que dão nome à música. Teve até roda de pogo pouco antes de a banda deixar o palco, para voltar menos de dois minutos depois, com "Take Me to The Hospital". Para terminar, a ótima levada reggae do refrão de "Out of Space", de Experience, o disco de estreia, lançado em 1992.
Em cerca de 75 minutos, o Prodigy provou que nem só do passado precisam viver os ícones dos anos 90: com um ótimo disco lançado recentemente, uma dupla de cantores tão assustadora quanto carismática e um produtor singular, a banda ainda tem capacidade para fazer novos discos. Sem mexer na fórmula ou se reinventar - e aqui, isso não tem lado negativo.
Neste sábado, 24, o Prodigy se apresenta no Citibank Hall, no Rio de Janeiro.
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