Com som do casal Zeo & Flow e vídeos da agência multimídia Comparsas, performance ao vivo vai explorar limites - ou a falta deles - entre as duas artes
Por Anna Virginia Balloussier Publicado em 23/05/2009, às 01h32
Eles foram feitos um para o outro - mas só agora som e imagem começam a se conhecer melhor. Pelo menos é essa a bandeira do projeto Fuzion, que estreia neste sábado, 23, como parte do Chemical Music Festival, intensivão eletro com 35 atrações, realizado no Riocentro, na capital fluminense.
O casamento entre áudio e vídeo, tocado pela dupla Flow & Zeo e pelo grupo de criação multimídia Comparsas, parece óbvio. Você vai lá, chega na rave e se deixa levar pelo beat do DJ ao mesmo tempo em que um telão explode em efeitos siderais (que, muitas vezes, deixam a desejar em criatividade e qualidade).
Mas a performance do coletivo vai além. Bem além, acredita Bernardo Alevato, do Comparsas. "O normal é, no caso de ter um VJ na festa, o cara não saber qual música vai tocar. Fica aleatório. Nós estamos ensaiando há semanas. A sincronia entre música e vídeo é bem maior. Isso sem contar que 90% das imagens que usamos são produzidas por nós. As outras 10%, na maioria, são cedidas por amigos... É sempre algo autoral", ele explica, em entrevista ao site da Rolling Stone Brasil.
A manha é basicamente esta: inspirada no tema "caos urbano em contraste com a natureza", a parceria entre o casal carioca Zeo Guinle e Marian Flow e os rapazes do Comparsas (no mercado de VJs desde 2003) experimentará - pela primeira vez em público - um espetáculo live de fusão entre as sensações sonora e audiovisual.
A ideia é provocar uma sessão de hipnose coletiva. Sai o psicólogo a balançar o relógio de lá para cá, entram 12 faixas eletrônicas, embaladas por vídeo-arte. Na caixa de som, variantes do house. Na tela, animações e flagrantes urbanos de várias cidades do mundo, como Nova York, Cairo, Amsterdã e Tóquio.
"Numa faixa, 'Chaos Addiction', trabalhamos com imagens de NY, mixadas com luzes. Tudo para dar uma atmosfera urbana e, logo, bem caótica", diz Alevato.
Zeo e Flow moram no Itanhangá, um dos últimos "redutos verdes" do Rio, com seu densa mata avizinhada à caótica Barra da Tijuca - e estão acostumados "a fazendas no meio do nada", onde acontece grande parte das raves. Para eles, a mão dupla entre o frenesi urbano e a calmaria natureba é de praxe. Daí surgiu a ideia de um set que se debruçasse sobre esse vaivém de sensações.
Apesar de ensaiada, a performance contará com intervenções ao vivo, na base do "vamos ver que bicho dá". "Cada apresentação é diferente. Há certas coisas que não se deixam pré-programar", afirma Flow, que, ao lado do marido, vai trabalhar com três estações de áudio para injetar dinâmica às interferências ao vivo.
A experiência, vanguardista no Brasil, lembra bastante o trabalho que o (ontem) cineasta e (hoje) multiartista Peter Greenaway apresentou ano passado no Brasil, o Tulse Luper VJ Performance. Com a ajuda de uma interface touch screen de alta definição, Greenaway criou uma modalidade imersiva e eletrônica de cinema, que manda a linearidade às favas. Com isso, decretou: "O cinema morreu". Aos menos como antes o conhecíamos.
A iniciativa de pôr som e imagem no mesmo saco pode estar se fortalecendo em uma era tão multimídia como a nossa, mas não é nova. "O pessoal já projetava vídeos para casarem com shows de jazz. E para o pessoal do Pink Floyd, a imagem sempre foi importante. Há também (a ópera-rock) Tommy, do The Who."
E coube à música eletrônica levar essa relação à outra alçada, segundo o comparsa. "Em geral, não há letras no gênero. Logo, há hecessidade de interpretar a música, e o vídeo ajuda. E muito. É fundamental entrar em sintonia com a frequência da música. O eletro, em si, é bastante abstrato."
Mas, para ele, o som ainda leva a melhor em eventos como o Chemical Music Festival. " É como uma festa. Para que ela exista, as pessoas têm que dançar. E daí é preciso de música. Mais importante que cerveja. Ok, tão importante quanto a cerveja."
Curiosamente, Zeo Guinle, da porção sonora do projeto Fuzion, rebate a hipótese de uma preponderância da música - sem tomar conhecimento da opinião do amigo. "Aqui, é 50/50. Áudio interfere na música, música interfere no áudio." De igual para igual.
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