A atriz da Globo substituiu Roberto Alvim nesta quarta, 29, após ex-secretário ser exonerado por discurso nazista
Yolanda Reis Publicado em 29/01/2020, às 20h48
Regina Duarte, atriz da Globo, assumiu nesta quarta, 29, a Secretaria Geral de Cultura do governo Bolsonaro. Ela substitui Roberto Alvim no cargo - o ex-secretário foi exonerado após publicar um vídeo com alusões nazistas.
Duarte ponderou bastante antes de assumir o cargo. O convite veio no dia 20 de janeiro - e ela aceitou um “noivado”, como descreveu o período de espera. Não por menos: assumir uma agenda pública em um governo controverso não pode ser tarefa fácil, ainda mais quando há um histório conturbado à sombra.
Entre escândalos de dívidas, discussões inflamas e instabilidade política, separamos alguns dos principais desafios que aguardam Regina Duarte no governo:
O primeiro desafio de Regina Duarte é consequente à sua posse. A atriz assumiu a cadeira de Roberto Alvim após ele divulgar um vídeo com discurso recheado de apologias nazistas. O nome dele foi diretamente ligado à Secretaria Geral da Cultura - e, agora, cabe à nova secretária mostrar que o setor público não apoia a agenda de Hitler.
O primeiro passo, talvez, será mexer na estrutura dos servidores da Secretaria, pois os funcionários foram escolhidos pelo ex-secretário e há grandes chances de terem alinhamentos políticos e ideologias parecidas. Com uma nova equipe, então, Duarte pode mostrar que é, também, uma nova fase. A atriz já recebeu carta branca de Bolsonaro para “trocar quem quiser sem problema algum.”
Regina Duarte pisou no calo de muitos de seus colegas de trabalho ao aceitar trabalhar com Bolsonaro. Vários artistas fizeram declarações inflamadas quando ouviram a notícia. José de Abreu, por exemplo, chamou-a de “apoiadora de fascista.” Alexandre Frota, ex-seguidor do presidente, disse que Duarte será “outra que será enganada por esse cara”, e Lobão ficou “muito preocupado da Regina estar sendo usada para edulcorar uma situação insustentável.”
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É uma situação delicada se a secretária da cultura, que também é artista, não estiver em boa sintonia com seus colegas. Ela precisará convencer muita gente de que seu governo é bom, suas propostas são sérias, e que não cederá a ideais de terceiros - e sim ascenderá a patrona das artes.
Quando Bolsonaro assumiu a presidencia em janeiro de 2019, um de seus primeiros atos foi extinguir o Ministério da Cultura e diluir as pastas do órgão em diversas secretarias. Criou-se, então, a Secretaria Geral da Cultura, que abrigava-se dentro do Ministério da Cidadania - mas, em novembro de 2019, foi para o Ministério do Turismo, onde encontra-se atualmente.
Sambando na esplanada, a Secretaria também teve diversas pessoas assumindo a sua cadeira. Regina Duarte é a quarta secretária em um período de um ano e 29 dias.
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O primeiro foi Henrique Pires (janeiro/agosto de 2019), que preferiu “cair fora” a “sentar e bater palma pra censura” depois de uma pauta LGBTQ+ ser barrada. Depois, assumiu o interino Ricardo Braga, economista - exonerado em menos de dois meses. Daí, veio Roberto Alvim, exonerado por discurso nazista quatro meses depois. E, agora, Duarte. Os dados são da Veja.
Portanto, em um ano, a Secretaria esteve em dois lugares e foi chefiada por quatro pessoas. Talvez Regina Duarte consiga “botar ordem” e manter-se no cargo por mais de alguns meses - e manter a pasta estabilizada. Se não, se mantessenos esse ritmo, ao final do mandato Bolsonaro acumularia 16 secretários da cultura diferentes. Não parece confiável e não funciona para a evolução de projetos.
De acordo com Fórum, em 2018, Regina Duarte obteve três financiamentos sob a Lei Rouanet para sua peça Coração Bazar. A produtora da atriz precisava prestar conta dos gastos - e uma das justificativas apresentou irregularidade, o que fez com que ela “ficasse devendo” R$ 319,6 mil. Uma situação delicada, já que o órgão que cuida desse quesito é o que ela administra.
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Além disso, há também a missão de avançar os projetos da Lei Rouanet (agora, Lei de Incentivo à Cultura) que estão congelados há mais de um ano. Cabe à Duarte mexer nos arquivos e anunciar quais projetos terão, ou não, continuidade no próximo semestre - e porquê.
Um dos aspectos mais marcantes do governo Bolsonaro é a defesa da moral. Isso já afetou diretamente a Secretaria da Cultura antes, quando o secretário Henrique Pires saiu do cargo após ver pautas de apoio à comunidade LGBTQ+ serem barradas.
Porém, de acordo com a Constituição, é dever do Estado garantir “[...]a todos o pleno exercício dos direitos culturais[...]”, a “diversidade das expressões culturais” e a “transversalidade das políticas culturais” (Capítulo III, da educação, da cultura e do desporto; seção II, da cultura).
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Sabendo que moral é individual e instransferível, cabe, então, à Secretaria saber mediar tudo isso, e garantir que a expressão cultural de ninguém será privada ou boicotada - e que todos podem ter as mesmas oportunidades de cultura, assim como devida valorização.
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