Formato apresenta desafios, mas promete se transformar e se estabelecer até a retomada dos shows normalmente
Larissa Catharine Oliveira Publicado em 04/06/2020, às 10h29
A indústria da música ao vivo parou em março, com o início da pandemia de coronavírus, e não há previsão de retorno. Turnês de artistas do mundo inteiro foram canceladas e, segundo algumas previsões, esse tipo de aglomeração não retornará até o fim do ano, apesar de grandes eventos remarcados para esse período, como Lollapalooza Brasil e turnês de Metallica, Kiss e McFly no país.
As apresentações de artistas por lives, ainda não monetizadas, se tornaram uma maneira de manter a conexão com o público, arrecadar doações e, para alguns, ganhar dinheiro nesse período de quarentena. Desde então, as lives se tornaram parte da agenda do público de música durante o período de isolamento, chegaram às emissoras televisivas e devem continuar até a normalização do mercado de eventos presenciais.
No Brasil, transmissões ao vivo do sertanejo elevaram o patamar com cenários elaborados e grande produção, a partir do show Buteco em Casa, de Gusttavo Lima. Apesar das polêmicas sobre as aglomerações de profissionais na organização de eventos nesses termos, o público brasileiro estranhou ao assistir artistas internacionais com apresentações simples.
Com um lineup impressionante e organização de Lady Gaga, a live One World: Together at Home reuniu centenas de artistas - cada um da própria residência e em clima intimista, como a maioria das transmissões gringas tem ocorrido. Charlie Puth cantou do quarto de casa, e se tornou um meme por mostrar a cama desarrumada ao fundo, e Charlie Watts, baterista do Rolling Stones, não tinha uma bateria durante a performance remota com os colegas.
Nas redes sociais, diversos usuários enfatizaram a diferença. “Produção, qualidade e empolgação péssimos. Qualquer live de sertanejo no Brasil dá um show em cima daquilo de ontem”, criticou um internauta. “Eu nunca fui muito fã de sertanejo, mas a live do Gusttavo Lima estava bem melhor que essa One World”, publicou outro.
Mesmo as lives brasileiras com cenário mais simples, como a de Ivete Sangalo, que apareceu de pijama na sala de estar da casa, ainda contam com equipe de filmagens e diversas câmeras profissionais.
Will Kontoyannis, CEO da R2 Prodções, responsável pela parceria beneficente Fome de Música com duplas como Jorge e Mateus, explicou os desafios de entender o público no momento e a dificuldade de estabelecer uma tendência no mercado à Rolling Stone Brasil. "As grandes produções estão sendo, majoritariamente, sustentadas por marcas que já mostram uma queda significativa no orçamento. Com essa queda, outros formatos surgiram e novas formas de capitação de patrocínio, também", disse.
O duo Anavitória protagonizou uma polêmica ao cobrar ingressos de R$95 para uma série de seis lives, com a exibição de um show inédito. Apesar da iniciativa importante, com o dinheiro dos ingressos revertido para a equipe técnica da dupla, a cobrança foi criticada. “Começaram a ter uma interpretação equivocada do projeto e acho que foi muito por preguiça e desinteresse... Pessoas falaram coisas maldosas", comentou Ana nas redes sociais.
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Em entrevista para Rádio Metrópoles, o jornalista Leo Dias confirmou uma movimentação na indústria para criar uma “central de eventos live” nos próximos meses, com ingressos entre R$5 e R$10 para ingressar nas lives.
A monetização ainda não é possível nas principais plataformas, como YouTube, mas Instagram e Facebook já anunciaram planos para permitir que o artista cobre pelo conteúdo ao vivo. Em abril, Mark Zuckerberg, CEO da redes social, anunciou a iniciativa de “facilitar arrecadação de dinheiro diretamente nas lives (...) em breve” no Facebook, mas o recurso ainda não foi lançado. No Instagram, já existem testes para monetizar vídeos publicados pelo recurso IGTV com anúncios, “Não temos muitos detalhes para compartilhar agora, mas vamos anunciar conforme o desenvolvimento prosseguir”, explicou Alexandru Voica, gerente de comunicaciones do Facebook.
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Qualquer previsão no momento é incerta, mas aglomerações de shows e festivais não devem acontecer ainda em 2020. Em entrevista ao The New York Times, Zeke Emanuel, do Healthcare Transformation Institute da Universidade da Pensilvânia, previu a retomada dos eventos apenas em setembro ou outubro de 2021.
Antes do retorno de eventos presenciais, as normas do isolamento passarão por fases de flexibilização, e a retomada gradual do comércio e outras atividades promete mudar o formato das transmissões. "[As lives] precisarão oferecer valor tanto para o realizador como para o espectador. Agora que o público teve esse tipo de experiência, o modelo de lives deve ser reinventado para fazer frente às outras plataformas de eventos e entretenimento que retornarão aos poucos", prosseguiu Kontoyannis, da R2 Produções.
As transmissões ao vivo ainda continuarão a única forma de consumir shows por um bom tempo. O mercado de lives ainda está em fase experimental, mas com o desenvolvimento de novas ferramentas e solução de problemas, como da monetização e equipes menores para produção, é um formato que tende a crescer e se transformar para alcançar cada público.
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