“Eu acho que está todo mundo esperando Lost 2 o tempo todo”, diz Jack Bender

Diretor do último episódio, além de produtor-executivo da série e de Alcatraz, Bender fala aos órfãos de uma das produções mais históricas da televisão norte-americana

Stella Rodrigues

Publicado em 16/03/2012, às 16h39 - Atualizado às 16h42
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Jack Bender - AP

Atenção: esse texto contém spoilers

Ele não é exatamente o Jack em quem se pensa inicialmente quando falamos em Lost, mas Jack Bender teve um papel bastante importante na série: foi produtor-executivo e dirigiu diversos episódios, inclusive o que final. Aquele que até hoje gera perigosas ondas de ódio no coração de muitos dos “lostmaníacos”, mas também traz alento aos que se emocionaram com a forma escolhida para encerrar um dos maiores sucessos da TV norte-americana.

Agora, ele, J.J. Abrams, Jorge Garcia (que vivia Hurley), uma ilha e desaparecimentos misteriosos habitam a TV dos órfãos do programa toda segunda à noite. E mesmo com tantos elementos em comum, os fãs chegaram à mais do que óbvia conclusão de que Lost não voltou. Bender também é produtor-executivo de Alcatraz, série sobre um evento curioso acontecido na ilha-prisão. A série também traz a assinatura de Abrams, conta com Garcia no elenco principal e fala sobre o desaparecimento misterioso de todos os encarcerados ocorrido no passado. O que não seria um grande problema se eles não estivessem reaparecendo um a um e de forma perigosa no presente.

“Eu acho que está todo mundo esperando Lost 2 o tempo todo”, reflete Bender, em entrevista por telefone à Rolling Stone Brasil. “E Lost foi Lost, algo extraordinário. Agora existem outras coisas ótimas e diferentes. Acho que Alcatraz é algo complexo. A audiência definitivamente caiu do primeiro episódio em diante, mas está estabilizando. Ela tem muito foco em personagens, assim como Lost, em que a questão era muito mais o monstro que havia dentro das pessoas do que o que habitava a floresta. Alcatraz tem que achar isso que está por baixo da pele, algo que conseguimos encontrar na outra série”, defende Bender.

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Ele confessa, contudo, que a princípio queria se desassociar e tentou ficar longe de Abrams e de todas essas características que marcaram tanto a série protagonizada por Matthew Fox. “Ao mesmo tempo que tem essas semelhanças, trabalhamos muito para tornar Alcatraz algo único visualmente, com uma história atraente, e fizemos isso bem. Acho que a próxima temporada, se tivermos uma, nos permitirá cavar mais fundo e nos aprofundar em tudo isso de forma a deixar a série independente.”

Essa eventual segunda temporada contará ainda com uma reformulação. “O ‘criminoso da semana’ não sustenta muito tempo, não é interessante nem para a gente. Mas mesmo nessa temporada preparamos um episódio que se passa inteiramente no presente. Podemos ter um inteiramente no passado, assim vamos dando uma variada”, revela.

“O que fizemos foi muito poderoso”, relembra sobre o sucesso de Lost. “Tanto que ainda está todo mundo com saudade e falando sobre isso. Considerando o quão rápido nossa cultura anda, isso é muito impressionante e gratificante”, afirma Bender. “Tem muita gente que consegue preencher um pouco esse vazio com Alcatraz, mas mudou tudo desde então. Lost foi o primeiro grande fenômeno televisivo com a internet existindo intensamente, com todo mundo mantendo as coisas vivas durante a semana entre um episódio e outro.”

A web, contudo, teve bem pouca influência na forma como ele conduziu seu trabalho, já que optou por se manter longe de todas as diversas teorias criadas em fóruns, blogs e sites. Manteve distância também da repercussão do último episódio, dirigido por ele. Ciente das duras críticas, Bender entende perfeitamente a frustração, mas brinca que seu ponto de vista a respeito do assunto é “Pollyanna”: “Não mudaria nada, é minha opção preferida de final”.

“O programa era basicamente sobre a vida dos personagens, como eu disse. Então, foi muito mais profundo terminar assim, deixando as pessoas pensando sobre a própria vida, seus relacionamentos e como levam a vida. Quem não ia querer logo antes de morrer uma festa na qual você é abraçado por todo mundo que foi importante?”, questiona, acrescentando que essa foi a visão que tiveram mas que, claro, há interpretações para o final. “Acho muito mais interessante do que criar uma virada louca e conspiratória para o último episódio. O momento mais importante da vida deles foi compartilhado com aquelas pessoas...”

Sair de casa para ir dirigir o episódio final de Lost não é exatamente a mesma coisa do que levantar em um dia comum de trabalho. Bender relembra a pressão da época, mas mais com a saudade de quem estava curtindo o período bom que vivia do que como um diretor preocupado em fazer história. “Não estou comparando Lost com os Beatles, mas quando os Beatles estavam fazendo Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, estavam apenas criando o melhor disco que podiam. Não estavam dizendo ‘vamos fazer um disco que será o melhor da história da música pop’. Toda grande arte já realizada foi assim, o melhor possível.”

Perdido

Quem foi fã deve se lembrar de ter pensado, ao menos uma vez: “Não é possível, eles tão inventando coisas a esmo e não têm nem noção de como solucionar isso”. Sim, o produtor-executivo ficava tão “lost in Lost” quanto você. Mas se justifica: “Somente sou tapado no que diz respeito a datas. Tinha toda uma equipe ajudando a acompanhar tudo e fizemos surpreendentemente poucos erros de continuidade, foram poucos furos”.

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