Personagens criados em HQ de 2006 quase pararam nos cinemas, mas produtores acharam a proposta muito arriscada
Pedro Antunes Publicado em 27/07/2019, às 14h00
Lançada entre 2006 e 2008, a HQ The Boys era definida como "Watchmen para adultos". Havia uma ironia aí, afinal, Watchmen, obra indispensável de Alan Moore e Dave Gibbons, já era "para adultos".
A HQ criada por Garth Ennis, contudo, ia além. Deixava seus heróis ainda mais violentos e deturpados. Essa é a nova aposta do Amazon Prime Vídeo, serviço de TV via streaming, que estreou nesta sexta-feira, 26, no mundo todo - inclusive, no Brasil.
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Mesmo estreada há pouco, a série já recebeu boas críticas de jornalistas especializados. "The Boys consegue contar uma história sólida com uma amplitude e profundidade de desenvolvimento de personagem que a da Netflix sempre insistiu que precisava de mais tempo para fazê-lo", escreveu o site Io9.com.
Mas quem são os The Boys, por que são tão violentos e qual é a relação deles com a Liga da Justiça? Vamos lá.
A começar com a semelhança dos seus sete heróis com os personagens da principal aliança de personagens da DC Comics. De alguma forma, em uma comparação rasa (porque, afinal, levaríamos algumas horas nesse debate), a Marvel e seus Vingadores sempre conseguiu ter mais os pés no chão ao contar suas histórias, mesmo que sejam das mais mirabolantes.
Não é o caso da Liga da Justiça, da rival DC Comics, cujos personagens sempre tiveram ares mais míticos e celestiais - até mesmo o Batman, herói humano sem qualquer habilidade além do treinamento físico e inteligência acima da média.
A Liga da Justiça é como se os deuses pisassem na Terra, da mesma forma como o grupo Sete de The Boys, o faz.
Os Sete, aliás, estão bem próximos dos arquétipos da Liga. Veja só cinco os mais conhecidos personagens de The Boys se encaixam: Black Noir (Nathan Mitchell) se parece com Batman; Queen Maeve (Dominique McElligott) com a Mulher-Maravilha; Homelander (Antony Starr) com o Superman; A-Train com o Flash; e o The Deep (Chace Crawford) como o Aquaman.
Diferentemente dos personagens da DC Comics, quase sempre celestiais, os heróis de The Boys são corrompidos pelo sistema. Suas ações heróicas também se tornam fonte de renda, passam a trabalhar com merchandising e tudo mais.
Ou seja, ser um super-herói também seria como ser um dos 5 melhores jogadores de futebol do mundo, entende?
A história se inicia a partir da morte da namorada de Hughie (Jack Quaid). Ela é destruída por A-Train, o herói velocista, e esse caso passa a ser abafado para que o personagem não tenha a fama manchada, perca contratos de patrocínio, etc.
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Os heróis se tornaram serem ególatras e egoístas, algo aí muito diferente dos personagens da Liga da Justiça na maioria das vezes.
Hughie, revoltado com os Sete, é recrutado pelo personagem de Karl Urban, que quer que ele o ajude a plantar uma escuta na sala dos Sete. Existe uma caçada aos heróis, assim como em Watchmen, aliás, mas os mascarados não estão exatamente no lado dos mocinhos da história.
Se é que exista essa divisão entre mocinhos e vilões em The Boys.
De certa forma, The Boys, embora polêmica, talvez seja uma obra de HQ mainstream que mais se aproxime do que seria o nosso cotidiano se algumas pessoas tivessem super-poderes e pudessem voar por aí ou destruir prédios sem qualquer punição ou cuidado.
Até mesmo a DC Comics chegou a cancelar The Boys por pensar que a série havia passado dos limites, com cenas de violência e sexo. A HQ de Garth Ennis e Darick Robertson, cuja ideia era imaginar um mundo no qual os super-heróis são figuras egocêntricas, que se aproveitam das suas grandes habilidades, foi também considerada impossível de ser adaptada para os moldes de TV e cinema da década passada e início dos anos 2010.
Foram mais 10 anos de tentativas de adaptar os quadrinhos para as telas - o tamanho que fosse.
As primeiras ideias de uma adaptação surgiram ainda em 2008, quando a Columbia Pictures adquiriu os direitos cinematográficos da HQ. É bom lembrar que, na ocasião, os filmes de heróis não eram tão populares quanto são hoje.
Era um mercado que engatinhava na perspectiva de entender quais formatos e gêneros as adaptações de HQs seriam aceitas. Filmes como Homem-Aranha 2 (2004), Sin City (2005), Batman: O Cavaleiro das Trevas e Homem de Ferro (ambos de 2008) eram queridinhos de público e crítica.
Mesmo com o diretor Adam McKay (vencedor depois do Oscar por A Grande Aposta) conectado ao projeto, a Columbia desistiu de seguir com o filme por não ver uma forma de viabilizá-lo para as telas como um filme de heróis para maiores de idade.
Isso aconteceu em 2012 e McKay explicou que se tratava de um projeto muito arriscado e com um valor muito alto, em torno de US$ 100 milhões para ser feito. Esse era o custo do 1º filme dos X-Men, um longa com personagens muito mais conhecidos e populares do que os The Boys.
Os direitos da adaptação da HQ chegou a ir para as mãos da Paramount, segundo informações da época, mas nada seguiu em frente. Novamente o valor da produção emperrou a realização do filme.
A ideia de transformar The Boys em uma série de TV começou com um projeto para o canal Cinemax e também deu errado. Nesse tempo, Seth Rogen e Evan Goldberg (A Entrevista), que queriam adaptar The Boys para o Cinemax, decidiram trabalhar em outro projeto com Garth Ennis, The Preacher, que estreou em 2016 pelo canal AMC.
The Preacher também é bastante polêmica - e está disponível na Amazon Prime Video. Com essa conexão por meio de outra HQ, The Boys conseguiu seu aval e, enfim, ganhar carne e osso - e alguns super-poderes mal utilizados.
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